Conteúdo do impresso Edição 1306

R$ 1,7 MILHÃO

TJ compra 35 iPhones para desembargadores e seus assessores

Demais funcionários também terão aparelhos novos e menos badalados
Por ODILON RIOS 15/03/2025 - 06:00
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Divulgação
iPhones 15 vão ser distribuídos aos desembargadores alagoanos
iPhones 15 vão ser distribuídos aos desembargadores alagoanos

Alagoas, terceiro estado com maiores taxas de extrema pobreza no país, vai pagar 341 novos modelos de celulares, incluindo 35 iPhones 15, de 1 tera, para o Tribunal de Justiça. Os iPhones vão para 18 desembargadores, sete funcionários ocupando cargos estratégicos na presidência do TJ, além de outros 10 servidores ocupando diretorias especiais.

O custo médio deste modelo é R$ 12 mil. O restante dos funcionários do tribunal também terá modelos novos, só que da Samsung, menos badalados que a famosa marca da Apple. O valor estimado foi de R$ 2 milhões (exatos R$ 2.042.231,40). A disputa foi encerrada em 21 de fevereiro e a TIM ganhou a licitação, oferecendo um contrato de 30 meses e ao custo total de exatos R$ 1.706.511,00.

A Claro entrou com pedido de impugnação do edital. Entre os motivos, alegou que o tribunal não poderia exigir que os aparelhos viessem com carregadores bivolt e fone de ouvido, porque estes itens são comercializados à parte. O TJ descartou os argumentos.

Segundo o edital, os celulares devem ter tecnologia mínima 4G e 5G, no sistema pós-pago, fornecendo os smartphones mais os chips em regime de comodato. Também justifica a operação como parte do Plano Estratégico do TJ, nos exercícios de 2021 a 2026, “na medida em que há o registro expresso dos seguintes valores: acessibilidade, celeridade, eficiência, efetividade, qualidade, humanização, inovação, responsabilidade social e ambiental, transparência e cordialidade”.

Diz também que os novos aparelhos traçam “os cenários desejados para o futuro do Tribunal de Justiça de Alagoas”, como “Justiça mais acessível; melhoria no atendimento, melhoria na qualidade do gasto público, crescimento dos serviços prestados por meio do trabalho remoto, melhoria da infraestrutura tecnológica, desburocratização do Poder Judiciário; Promoção do acesso à Justiça Digital”.

Segundo o TJ, os aparelhos não são comprados, mas fornecidos por meio de comodato “ou seja, serão utilizados pela instituição durante a vigência do contrato com a empresa vencedora do processo de fornecimento de telefonia móvel e, após o término, devolvidos”. Informa também que o atual contrato também é por comodato, “não havendo compra de aparelhos celulares pelo TJAL há anos”.

Sobre a diferença da estimativa do contrato (R$ 2 milhões) e o valor oferecido pela TIM (R$ 682,6 mil por ano), explica que “porque esta considera as cotações realizadas e também valores de contratos anteriores atualizados. No momento da licitação ocorrem os lances e, para ganhar, geralmente o valor das propostas é menor. Esse valor estimado seria o valor máximo a ser aceito. Ainda acrescentamos que a pesquisa de preços foi realizada com empresas de telefonia móvel e sistemas oficiais de governo, a partir dos quais foi elaborado o valor estimado usando como método estatístico aplicado, a mediana”.

INJUSTIÇA

O contrato ajuda a escancarar o tamanho da injustiça em Alagoas. O rendimento líquido de um desembargador, incluindo os penduricalhos, no mês de fevereiro foi R$ 61.743,19. Também neste mês, o salário de admissão médio em Alagoas foi de R$ 1.753,00, o mais baixo do Nordeste e o terceiro menor do país. Cada desembargador recebe 35 vezes mais que a média salarial local. Ou 90 vezes mais que cada uma das 533 mil famílias que receberam o Bolsa Família no mês passado, valor médio de R$ 682,42.

Os salários da magistratura alagoana são variáveis. O tribunal conseguiu, por exemplo, autorizar gratificações para juízes que podem chegar a R$ 438 mil, em média. Isso porque se reconheceu os benefícios retroativos por acúmulo de funções, “alinhando-se aos pagamentos feitos aos magistrados entre 2015 e 2018”. Ou seja: é uma decisão justificada pela garantia de igualdade salarial entre juízes estaduais e federais, e distribuído a 159 magistrados.

O pagamento ainda não foi autorizado, por depender de uma posição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Valores muito altos, levando em conta a realidade local e despesa total da Justiça por habitante, no ano de 2023, segundo o painel Justiça em Números, do CNJ: R$ 218,90. A despesa do TJ, também naquele ano, foi de R$ 684,6 mil. Deste dinheiro, R$ 606,7 mil com recursos humanos.

Apesar disso, o CNJ identifica problemas no acesso do cidadão comum ao Judiciário. Alagoas e São Paulo são os únicos do país que não oferecem um espaço equipado com computadores e câmeras “para a prática de atos processuais que podem ofertar serviços de outros órgãos, de perícia médica e cidadania”, diz o relatório Justiça em Números 2024, do conselho.

O mesmo relatório também diz que Alagoas apresenta a terceira maior média de processos em tramitação em todos os tribunais (incluindo a Justiça Federal). Produtividade abaixo da média registrada no ano de 2023.


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