CIDADE SITIADA
Família Gonçalves envolve Rio Largo em nova crise de sequestros, herança e conflitos políticos
Rumores envolvendo o ex-prefeito Gilberto Gonçalves e sua família provocam tensões políticas
Há algo de podre no reino de Rio Largo. Uma crise envolvendo a Família Gonçalves vem gerando um burburinho político que mistura questões familiares e denúncias graves. Há rumores que vão desde um sequestro até disputas por heranças. Surpreendentemente, até o momento, não houve qualquer pronunciamento oficial da Prefeitura ou do ex-prefeito Gilberto Gonçalves (PP), atual supersecretário da Secretaria Municipal de Governo (Segov), sobre o assunto, o que é mais estranho ainda, uma vez que GG é conhecido por seu comportamento impetuoso.
GG já foi filmado durante seu mandato em episódios polêmicos, como a impaciência com alunos de uma escola municipal e um enfrentamento isolado contra moradores que protestavam em uma via da cidade. Mas a crise de agora teve início em 2024, quando Gonçalves, com o apoio de sua esposa e ex-primeira-dama, Cristina Gonçalves, apoiou o sobrinho dela, Pedro Carlos da Silva Neto – que adotou o nome político de Carlos Gonçalves (PP) –, como seu sucessor.
A intenção de manter o poder nas mãos da família, no entanto, começou a desmoronar antes mesmo da posse do novo prefeito. Em um evento religioso tradicional, a festa da padroeira de Rio Largo, o clima de união esperado foi substituído por um momento de tensão política. Durante a cerimônia, Gilberto Gonçalves evitou até mesmo abraçar a esposa publicamente, culminando em um episódio de hostilidade com o sobrinho. Ao se aproximar de Carlos, GG, com semblante furioso, o chamou de “cabra safado”, gerando murmúrios entre os presentes.
Em janeiro último, Carlos Gonçalves assumiu a prefeitura, e Gilberto Gonçalves ganhou uma secretaria para chamar de sua. No entanto, a ingerência de GG no governo municipal se tornou insustentável. O ex-prefeito, agora supersecretário, tentou intervir na eleição das comissões da Câmara Municipal, mas foi barrado pela unanimidade dos vereadores. Revoltado, GG exonerou servidores indicados pelos vereadores, o que gerou uma forte reação política. Após a pressão, o prefeito Carlos Gonçalves foi forçado a validar a decisão dos vereadores e reverter as demissões, mas a tensão permaneceu.
SEQUESTRO
O prefeito, em entrevista ao EXTRA, procurou minimizar o conflito, afirmando que o ex-prefeito segue no governo, com 50 cargos à disposição e um salário de R$ 20 mil. Contudo, novas polêmicas começaram a surgir, a mais grave delas envolvendo a ameaça de morte ao prefeito Carlos Gonçalves. Ele estaria sendo pressionado a renunciar ao cargo, com sua avó, mãe biológica de Cristina Gonçalves, tendo sido sequestrada em 5 de fevereiro de 2025 como parte da chantagem. A idosa teria sido liberada após algumas horas, mas o medo e a insegurança permeiam o ambiente político local. Nenhum boletim de ocorrência foi registrado. O EXTRA entrou em contato com a senhora Cecília, mas só conseguiu respostas desconexas. Uma hora atendeu falando que não “queria saber”, mesmo sem a reportagem fazer perguntas. E por mensagem no WhatsApp, chegou a responder, mas bloqueou o EXTRA antes de qualquer resposta.
Mas vale lembrar que sequestro não é um tema novo na família Gonçalves. Em 2018, chegou a sair em sites locais que Geoberto Gonçalves da Silva Cordeiro, filho do ex-prefeito GG e de Cristina e irmão da deputada estadual Gabriela Gonçalves, teria sido sequestrado e mantido em cárcere privado pela própria família. A fúria contra o filho seria um relacionamento amoroso reprovado pelos pais.
De forma geral, parece que toda a família Gonçalves adora colecionar dramas. A irmã de Gilberto Gonçalves publicou um vídeo nas redes sociais denunciando dificuldades financeiras, alegando que o ex-prefeito a estaria impedindo de ter acesso à herança dos pais, o que a obrigaria a viver apenas com seu salário. Apesar do apelo nas redes sociais, Nadeje Gonçalves só conseguiu comentários de internautas insinuando que ela teria problemas psicológicos.
Contas reprovadas
O inferno astral de GG se intensifica com o Tribunal de Contas do Estado de Alagoas (TCE-AL) reprovando as contas de 2023 de sua gestão como prefeito. A decisão se baseou no relatório da Diretoria de Fiscalização Municipal (DFAFOM) e no parecer do Ministério Público de Contas, que apontou irregularidades graves e um rombo de R$ 18.162.043,49. Entre as irregularidades apontadas, destaca-se a abertura de créditos suplementares por superávit financeiro sem que houvesse recursos disponíveis para cobri-los, o que configura um claro descontrole financeiro.
Durante a sessão plenária de julgamento das contas no TCE, presidida pelo conselheiro Fernando Ribeiro Toledo, foi recomendada à Câmara Municipal de Rio Largo a reprovação das contas de Gonçalves para o exercício de 2023. A reprovação das contas pode resultar em inelegibilidade de até oito anos para o ex-prefeito, conforme a legislação eleitoral, caso as irregularidades sejam consideradas insanáveis.
Vitória do MDB
Eleito pelo PP com o apoio de GG, Carlos Gonçalves já deu sinais de afastamento do grupo liderado pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e de aproximação com o governador Paulo Dantas (MDB) e o grupo dos Renans. Nos últimos dias, o prefeito intensificou diálogos com Dantas, discutindo projetos para Rio Largo, incluindo obras de infraestrutura e segurança pública. A movimentação não parou por aí: Carlos Gonçalves também se reaproximou dos senadores Renan Calheiros (MDB) e Renan Filho (MDB), ministro dos Transportes, em articulações que já vinham ocorrendo nos bastidores.
Na terça-feira (11), um vídeo divulgado nas redes sociais reforçou essa guinada política. Nas imagens, Carlos aparece em Brasília ao lado dos dois Renans, afirmando estar em busca de investimentos para o município. O gesto foi interpretado como um indicativo claro de sua mudança de lado – algo que não passou despercebido por GG. Gilberto Gonçalves, que comandou Rio Largo por oito anos, sempre esteve alinhado ao grupo de Arthur Lira. Diante da movimentação de seu ex-aliado, a expectativa agora é de um possível rompimento definitivo, com Carlos desembarcando no MDB e GG assumindo a oposição ao atual prefeito.
Histórico conturbado
O ex-prefeito Gilberto Gonçalves acumula um histórico de acusações e processos judiciais que envolvem desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e crimes eleitorais. Seu nome aparece em investigações de grande repercussão, como a Operação Taturana e a Operação Beco da Pecúnia, além de outros processos criminais.
Envolvimento em esquemas de corrupção
- Operação Taturana (2007): Gilberto Gonçalves foi preso sob acusação de participar de um esquema que desviou aproximadamente R$ 300 milhões da Assembleia Legislativa de Alagoas. As investigações apontaram crimes como formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro nacional.
- Operação Beco da Pecúnia (2022): durante seu mandato como prefeito de Rio Largo, foi preso preventivamente e afastado do cargo sob suspeita de desviar recursos federais do Fundeb e do SUS. O Ministério Público apura sua ligação com um esquema de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Outros crimes e investigações
- Ameaça de morte (2010): Gilberto foi acusado de ameaçar de morte um ex-funcionário que havia movido uma ação trabalhista contra ele.
- Crime eleitoral (2014): foi detido por facilitar a fuga de um motorista envolvido em propaganda política irregular.
- Ocultação de bens e lavagem de dinheiro: o Ministério Público investiga Gonçalves por utilizar terceiros como “laranjas” para ocultar patrimônio e operar empresas em seu nome. Ele é suspeito de movimentar recursos de origem ilícita através de empresas registradas por aliados.