Conteúdo do impresso Edição 1316

MEMÓRIAS WASSU

Documentário resgata memória ancestral do povo indígena de São Luís do Quitunde

Curta é exibido em escolas, universidades e em breve estará disponível no YouTube
Por MARIA SALÉSIA 24/05/2025 - 06:00
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Cena do documentário que em breve estará no YouTube
Cena do documentário que em breve estará no YouTube

O verde a perder de vista, a noite de toré, o balançar da cabaça, as vozes dos nativos e a musicalidade que se confunde com o canto dos pássaros e o barulho do vento nas copas das árvores são alguns dos elementos que fazem parte do documentário “Memórias Wassu”, que conta a história do povo indígena Wassu Cocal, em São Luís do Quitunde, Alagoas.

A iniciativa busca o resgate da memória ancestral daquele povo, valorizar a cultura e a luta da comunidade por sua terra, por sua gente e por seu lugar.

O documentário tem 28 minutos de duração e é exibido em escolas indígenas e estaduais, universidades e comunidades do estado, mas a proposta é expandir para outros lugares. Criado de forma colaborativa, conta com a direção de Rocheli Messias e idealização de Rosineide Silva. A produção foi filmada em 2024, entre os meses de março e maio, e a edição concluída em agosto pela indígena Andreza Alves. A iniciativa também inclui a veiculação digital do documentário no canal da Associação Indígena de Pais e Mestres da Aldeia Wassu Cocal (AIPM-AWC) no YouTube.

O curta mostra depoimentos emocionantes, fortes, resistentes, corajosos e muito orgulho de uma gente que busca honrar seus antepassados, fazer acontecer no presente e ter um futuro mais promissor e justo.

Como não ficar com os olhos marejados ao testemunhar as lágrimas do pajé Amajire, como não se emocionar com a coragem e dedicação de Maria Bezerra, primeira professora das escolas indígenas locais que ensina por amor, lutou por um lugar digno para acolher os alunos e se decepcionou com a demolição da escola que cuidou, foi merendeira, diretora, professora e conselheira.

Maria é prova viva de que a educação transforma. “Tinha tanto prazer e ensinava com a cara e a coragem. Praticamente não era remunerada, mas meu prazer era que todos aprendessem. Pari 10 filhos e mesmo assim não parei a luta. Em 6 meses foi construída uma escola, linda, buscava água no rio. Fui merendeira, diretora, professora. Mas derrubaram a escola”, relembrou com tristeza a primeira professora da aldeia, que deixa recado que os professores trabalharam com amor, humildade e respeito. “A escola é como uma família”, completou.

O roteiro é rico em detalhes e percorre temas como religião, cultura, medicina natural, tradição, políticas públicas, território e educação indígena. Em cada olhar e gesto dos participantes é possível ver a emoção e orgulho de pertencer àquele lugar.

José Honório começa a fala afirmando que feliz daquele que vê o passado. E relembra que antes era apenas um povoado de caboclo muito pequeno e não tinha espaço para seu povo. “A gente se encontrava muito junto um do outro e não podia dar um passo pra frente, porque tudo era dificuldade. Era a nossa forma de viver, de se alimentar, de trabalhar. A forma da gente querer e não poder. Então, tudo era difícil. Dentro dos meus 73 anos de vida nada era fácil. Falamos muito com nossos ‘troncos velhos’ (mais experientes) e hoje estamos aqui, lutamos muito por essa terra”, disse.

E continuou: “A gente tem uma história muito longa. O Cocal Velho foi onde tudo começou, fico até emocionado.”

Cacique Edmilson começou a trabalhar nas escolas aos 8 anos, ensinando fazer artesanato, pinturas corporais, como pisa o toré, o balançar da cabaça e tantas outras tradições de sua cultura. “É uma missão pesada. Estou nessa luta que não foi fácil. A nossa luta começou antes de 1986.”


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