BIENAL
Odilon Rios revisita a ditadura militar em Alagoas
Livro do jornalista reúne documentos e relatos que revelam a articulação entre elites locais e agentes da repressão
O jornalista e pesquisador Odilon Rios lança, durante a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, a obra Alagoas: Ditadura, Subversivos, Heranças, resultado de uma ampla investigação documental sobre os desdobramentos do regime militar no estado. O livro será apresentado ao público de 31 de outubro a 9 de novembro, no estande 92 do coletivo Mulheres que Escrevem, no Centro de Convenções Ruth Cardoso, em Maceió, e revela como a repressão e o poder político se entrelaçaram em Alagoas, deixando marcas ainda visíveis na sociedade atual.
A publicação reúne registros institucionais, documentos confidenciais e relatos de perseguição que apontam para uma articulação local entre elites políticas e agentes da repressão. Segundo o autor, o material revela como, após o golpe de 1964, houve um segundo movimento de endurecimento em Alagoas, com impactos diretos sobre estruturas sociais e práticas institucionais que se mantêm até hoje A pesquisa aborda a atuação de militares, gestores públicos e lideranças locais em processos de vigilância, censura e silenciamento.
Estudantes, professores, jornalistas e representantes de movimentos populares aparecem como alvos recorrentes das ações repressivas. O livro também examina como determinados setores da administração pública foram utilizados para consolidar práticas autoritárias, com apoio de segmentos empresariais e políticos.
Odilon Rios constrói a narrativa com base em fontes primárias, como boletins internos, correspondências oficiais, registros de prisões e depoimentos. A obra propõe uma leitura crítica sobre o papel das elites regionais na sustentação do regime, destacando nomes e instituições que participaram da articulação local. O autor defende que a ditadura não se manifestou apenas como um fenômeno nacional, mas teve expressões específicas em cada estado, com dinâmicas próprias de repressão e controle.
O livro também discute os efeitos da ditadura sobre a memória coletiva e os mecanismos de esquecimento institucional. A ausência de políticas públicas voltadas à preservação da história regional é apontada como um dos fatores que contribuem para a permanência de práticas autoritárias. A obra busca contribuir para o debate sobre justiça de transição e democratização da memória, com foco no contexto nordestino.
Odilon Rios tem trajetória como jornalista e pesquisador, com atuação em veículos de comunicação e projetos editoriais voltados à análise política e social. Em Alagoas: Ditadura, Subversivos, Heranças, ele retoma temas já abordados em outros trabalhos, como a relação entre poder institucional e controle social, ampliando o foco para os impactos da ditadura sobre a estrutura política do estado.
A proposta editorial reforça a importância da descentralização da memória histórica e da valorização de narrativas locais. O autor defende que o conhecimento sobre a ditadura deve incluir as experiências vividas fora dos grandes centros, com atenção às especificidades de cada território.
O livro busca contribuir para esse processo, oferecendo uma leitura baseada em documentos e relatos que estavam fora do circuito tradicional de pesquisa. A publicação integra a programação do coletivo Mulheres que Escrevem, que participa da Bienal com lançamentos, debates e atividades voltadas à promoção da literatura produzida por mulheres e autores independentes.
O coletivo atua na difusão de obras que abordam temas como memória, identidade, política e espiritualidade, com foco na produção alagoana. Com o lançamento de Alagoas: Ditadura, Subversivos, Heranças, Odilon Rios amplia o repertório de obras dedicadas à análise do período militar no Brasil, oferecendo uma perspectiva regional sobre os mecanismos de repressão e controle.
O livro se insere no esforço de construção de uma memória crítica sobre o passado autoritário, com base em fontes locais e na escuta de vozes silenciadas. Vale ressaltar que a Bienal Internacional do Livro de Alagoas segue como espaço de encontro entre autores, leitores e pesquisadores, promovendo o acesso à produção intelectual e o debate sobre temas relevantes para a sociedade.
O livro de Odilon Rios será uma das publicações apresentadas no evento, com destaque para sua abordagem documental e foco na história política do estado. A expectativa é que a obra circule entre pesquisadores, professores, estudantes e leitores interessados em compreender os desdobramentos regionais do regime militar. Alagoas: Ditadura, Subversivos, Heranças tem 100 páginas e é distribuído de forma independente.
O livro está disponível em pré-venda, com envio por meio de contato direto. Na Bienal, a sessão de autógrafos acontece no dia 3 de novembro, às 19h, mas ficará à disposição durante todo o evento.