CPMI DO INSS
Alfredo Gaspar encarna bolsonarismo raiz
Candidato à reeleição, ele é enquadrado por Arthur Lira que disputa o Senado
Com o dedo em riste, apontadona última terça-feira (13 de outubro) para o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, o relator da CPMI do INSS deputado Alfredo Gaspar de Mendonça(União Brasil) coroou uma cena teatral construída desde o início dos trabalhos da comissão: ganhou poucos segundos no Jornal Nacional – telejornal mais assistido do país, por 5,2 milhões de pessoas– suficientes para mostrar que a condução das investigações sobre o assalto aos aposentados e pensionistas é mais midiática, menos séria e tende a atingir exclusivamente a gestão do presidente Lula(PT), poupando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Gaspar tem um objetivo: pôr a prêmio a cabeça do irmão do presidente da República. Quer colocá-lo atrás das grades, o que significa arrastar o relator da CPMI para alista de aclamação geral do bolsonarismo, facilitando sua reeleição, despistando as investigações contra Bolsonaro e turbinando substitutos ao ex-presidente hoje preso e uma gigantesca massa eleitoral órfã, ao menos por enquanto. Alfredo Gaspar de Mendonça é assumidamente bolsonarista. Quando foi indicado relator da CPMI, recebeu autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para visitar Bolsonaro, que está em prisão domiciliar. Desistiu alegando que, por estar na relatoriada CPMI, deveria se comportar de forma imparcial.
A prática vem negando a teoria. Semana passada ameaçou pedir a prisão do chefe de sindicato conduzido pelo irmão de Lula, José Ferreira da Silva, o Frei Chico, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Mendonça quer ouvir o frei alegando que o sindicato “descumpriu a lei ao firmar parceria em2023 com o INSS tendo Frei Chico em sua diretoria”.
A conclusão não é do relator, mas da Controladoria-Geral da União (CGU), cuja auditoria verificou que “ao apresentar a declaração inverídica com o intuito de atender aos requisitos legais para celebração de parcerias, o Sindnapi não apenas violou disposições expressas como também comprometeu de forma grave a lisura do processo de análise e habilitação institucional”.
Em 9 de outubro, Gaspar associou o sindicato a uma organização criminosa. Cobrou explicações sobre a participação de Frei Chico no esquema ao presidente do Sindnapi, Milton Baptista de Souza Filho, que ficou em silêncio.“Diante do silêncio que foi colocado hoje sobre a participação do senhor vice-presidente do sindicato, pela quantidade de dinheiro que foi sacado na boca do caixa pelos membros do sindicato, pelo esquema que foi montado por conta do desvio do dinheiro que foi descontado indevidamente dos aposentados, eu entendo que é urgente que nós coloquemos em votação a convocação do chamado Frei Chico, irmão do presidente Lula, para que ele possa esclarecer os pontos que foram colocados e qual a participação, especialmente nas decisões que foram tomadas”, disse o senador Carlos Viana (Podemos--MG), presidente da CPMI.
Mesmo com todas as evidências de que o golpe contra os aposentados e pensionistas começou na gestão Bolsonaro, o deputado esperneia, discursa, provoca. Comportamento padrão de um bolsonarista alucinado.
Foi assim em 29 de agosto quando ameaçou dar voz de prisão ao delegado da PF (Polícia Federal) Bruno Bergamaschi, durante reunião sigilosa da CPMI.
“Nós tivemos uma discordância sobre o que poderia ser falado ou não. Porque tinha muita coisa publicizada e o delegado estava interpretando que mesmo sobre o publicizado e as operações realizadas, ele não poderia falar”, disse aos jornalistas.
Enquanto monta os próximos passos, sempre de olho nos likes e emojis das redes sociais, o deputado federal busca se desprender do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que avisou: nem Gaspar nem o ex-deputado Davi Davino Filho (Republicanos) serão candidatos ao Senado.
“Davi Davino e Alfredo são aliados e não tem a possibilidade de sair Arthur, Davino e Alfredo(ao mesmo tempo para o Senado),nem tem espaço para isso”, declarou. Davino reagiu; Gaspar silenciou.
Ele está filiado à federação União Progressista (PP e União Brasil), que em Alagoas está sob a batuta de Arthur Lira. Insatisfeito, engole os sapos liristas enquanto os partidos Novo e Agir se recompõem em Alagoas e lhe abrem as portas.
Gaspar deve mudar de partido no próximo ano, aproveitando a janela da infidelidade, escancarada aos insatisfeitos em busca de uma reeleição ou outros projetos,sem obstáculos. Ele sabe que Lira é quem manda. Por isso vai disputar novo mandato de federal encarando a política como profissão após deixar o comando do Ministério Público de Alagoas – onde foi um promotor de atuação destacada contra o crime organizado chegando a peitar diretamente o temido deputado estadual João Beltrão.
Em seguida, virou secretário de Segurança Pública no Governo Renan Filho, num dos períodos mais tenebrosos e sangrentos no
combate à violência.
Lançado pelos Calheiros para a Prefeitura de Maceió, foi derrotado nas urnas. Depois, veio a guinada. Dois anos depois, se elegeu deputado federal na onda da radicalização do bolsonarismo. E virou um dos principais aliados do então inimigo eleitoral: o prefeito
JHC. Parceria que continua até hoje.