DESASTRES NATURAIS
Crescimento desordenado ameaça 75 mil alagoanos que vivem em áreas de risco de 32 cidades
Santana do Ipanema e Poço das Trincheiras são de alto risco de inundações
O crescimento desordenado das cidades com a invasão de áreas sem nenhum planejamento coloca em perigo a vida de quase 75 mil alagoanos de 32 municípios e que moram em 196 áreas de risco para desastres naturais, eventos que podem ser originados por deslizamento de barreiras, inundações, subsidências, erosão e movimentação de dunas entre outros fenômenos. Esse diagnóstico é fruto do trabalho realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) em áreas que passaram por pesquisas e monitoramentos.
São alvo das avaliações setorizadas do Serviço Geológico do Brasil apenas regiões de risco geológico onde existem edificações nas quais há permanência humana, como casas, edifícios, hospitais, escolas, estabelecimentos comerciais, dentre outros. O último relatório do órgão, divulgado no dia 30 de novembro com dados coletados no mês de abril, refere-se aos municípios de Santana do Ipanema e Poço das Trincheiras. Em ambos foram detectados riscos por inundação que podem afetar, juntos, 2.454 pessoas residentes nos locais avaliados.
O objetivo do levantamento e avaliação é apontar à Defesa Civil e aos gestores municipais, estaduais e federais quais são as áreas prioritárias para a implantação de ações de gerenciamento, mitigação, monitoramento e resposta frente aos desastres naturais. O mapeamento em Santana do Ipanema mostra seis áreas de alto risco para inundações onde moram aproximadamente 2.300 pessoas em 575 imóveis.
As áreas são: ruas São Paulo (150 imóveis e presença de 600 pessoas), Rua Professor Enéas (35 imóveis e 140 pessoas), Rua Delmiro Gouveia com 135 imóveis e 340 pessoas e os bairros Santa Luzia (30 imóveis), Domingos Acácio (94 imóveis) e Baraúna (130 imóveis).
“O mapeamento das áreas de risco geológico é feito em campo, juntamente com a Defesa Civil municipal. Durante o mapeamento, são percorridas as porções urbanizadas da cidade com foco na identificação de áreas que possam desenvolver ou serem atingidas por eventos adversos de natureza geológica, com potencial de causar perdas ou danos diretos à comunidade”, explica o coordenador-executivo da Setorização de Risco Geológico do SGB, o geólogo Julio Cesar Lana.
As inundações no município sertanejo de Alagoas são um processo natural, uma vez que se localiza em planícies aluvionares [formadas pela deposição ao longo do tempo de sedimentos trazidos por um ou mais rios, criando um solo constituído de argila, silte e areia] do Rio Ipanema. “A região que se caracteriza por ser uma área plana, com solos naturalmente inundáveis e com alta suscetibilidade à inundação, é esperado que os setores de risco estejam vinculados ao processo de inundação. O evento registrado em 2020 foi o maior evento registrado, afetando mil e quatrocentos habitantes. O nível do Rio Ipanema chegou a ficar sete metros acima do normal, sendo essa a maior elevação já registrada nos últimos 40 anos”, descreve trecho do relatório do estudo assinado pelos pesquisadores José Milton Oliveira e Bruno Elldorf.
Contribuiu para a inundação do município, na época, o transbordamento do Riacho Camoxinha, afluente do Rio Ipanema, impactado pelo sangramento de barragens da região em decorrência dos temporais. Apesar da tragédia, do grande número de desalojados e desabrigados, não houve registro de mortes em Santana do Ipanema.
O relatório do CPRM oferece sugestões aos gestores baseadas nas situações verificadas durante a realização do trabalho. As orientações podem nortear a administração municipal a respeito de possíveis formas de atuação para mitigar o risco geológico. “Dessa forma, em nenhuma hipótese, as propostas apresentadas dispensam a realização de estudos e projetos que, em função das características específicas de cada região, indiquem a viabilidade, o tipo e as formas de implantação de medidas de intervenção eficazes”.
São elas:
1. Avaliar possibilidade de remover e realocar temporariamente em locais seguros os moradores que se encontram nas áreas de risco durante o período de chuvas;
2. Fiscalizar e proibir a construção em áreas protegidas pela legislação vigente;
3. Instalar sistema de alerta para as áreas de risco, através de meios de veiculação pública (mídia, sirenes, celulares), permitindo a remoção eficaz dos moradores em caso de alertas de chuvas intensas ou contínuas;
4. Realizar programas de educação ambiental voltados para as crianças em idade escolar e para os adultos em seus centros comunitários, ensinando-os a evitar a ocupação de áreas impróprias para construção;
5. Elaborar plano de contingência que envolva a zona rural e urbana, para aumentar a capacidade de resposta e prevenção a desastres no município;
6. Fiscalizar e exigir que novos loteamentos apresentem projetos urbanísticos respaldados por profissionais habilitados para tal;
7. Executar manutenção das drenagens pluviais e canais de córregos, a fim de evitar que o acúmulo de resíduos impeça o perfeito escoamento das águas durante a estação chuvosa;
8. Agir de modo preventivo nos períodos de seca, aproveitando a baixa no número de ocorrências para percorrer e vistoriar todas as áreas de risco conhecidas e adotar as medidas preventivas cabíveis.
Poço das Trincheiras
Em Poço das Trincheiras o trabalho do CPRM encontrou duas áreas de alto risco para inundação. São duas ruas com 77 imóveis residenciais que abrigam cerca de 154 pessoas, a Rua São Sebastião e a Rua Ipanema, ambas no Centro da cidade. As chuvas que castigaram Alagoas em 2020 foram o maior evento registrado em Poço das Trincheiras, afetando 740 habitantes, sendo essa a maior enchente já registrada nos últimos 40 anos.
“Duas áreas foram atingidas pelo desastre ocorrido no município de Poço das Trincheiras – AL, e foram definidas como risco Muito Alto a processos de inundação. Tal fato é resultado da expansão irregular da área urbana da cidade combinada com a geomorfologia da região. Todos estes fatores associados à alta pluviosidade podem culminar em desastres de inundação em tempos futuros. Desta forma é importante a instalação de um sistema de monitoramento, implantação de alerta, criação de um plano de emergência, impedir que novas ocupações irregulares ocorram em áreas de risco Geológico”, aponta o relatório.
As recomendações para os gestores são as mesmas anunciadas para Santana do Ipanema.