XADREZ POLÍTICO
Eleições 2024: Renan tenta desarticular Lira para recuperar vantagem
Senador quer ‘dar trabalho’ ao presidente da Câmara, que acumula vitórias na Justiça
Em franca desvantagem, o senador Renan Calheiros (MDB) investe ainda mais pesado na desarticulação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em Alagoas – principalmente Maceió. Lançando vários candidatos contra o prefeito JHC (PL), Calheiros acredita que dará bastante trabalho – e desgaste – para Lira e o próprio prefeito.
“A eleição em dois turnos se faz exatamente para isso, para que no primeiro turno as pessoas defendam suas propostas, façam sua campanha, tentem a elevação da consciência de todos e apenas dois vão para o segundo turno e as alianças acontecem no segundo turno em torno dessas duas candidaturas. Então é mais recomendável que nós entendamos isso no primeiro turno e no segundo nós deixemos um leque de possibilidades amplo para que a gente possa disputar com competitividade e quem sabe ganhar a eleição”, explicou o senador.
Em Brasília – sempre mirando Arthur Lira – Renan se uniu a Gilberto Kassab, dono do PSD, para antecipar a disputa pelo comando da Câmara. Arthur Lira, interpretam ambos, é uma pedra que precisa ser retirada do caminho. Lira ameaça travar a pauta do governo. Crê que Lula quer atingi-lo. Ao mesmo tempo, Lira vem recompondo forças, agrega importantes vitórias na Justiça, mantém silêncio sobre as estratégias eleitorais na maioria das cidades alagoanas e é aliado do prefeito JHC, maior liderança política de Maceió que é o maior colégio eleitoral, além de Luciano Barbosa (MDB), de Arapiraca (2º maior colégio eleitoral), também dividindo o palanque com Calheiros.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes anulou as provas colhidas pela Polícia Federal que relacionam o parlamentar às investigações de superfaturamento de kits de robótica vendidos a prefeituras. Mendes havia suspendido as investigações em julho. Lira insistia que as investigações eram direcionadas para ele. Após o resultado do STF, foi às redes sociais: “Passei dias sendo exposto e injustiçado, mas sempre confiei plenamente no Poder Judiciário, um pilar fundamental na garantia dos direitos do cidadão”.
“O inquérito não nasceu para investigar robótica. Nasceu para investigar Arthur Lira. Em 12 mil páginas, se você ler o inquérito, não tem um ‘A’ nem um ‘B’ juntos para fazer um ‘AB’ que trate do meu nome, que faça referências às minhas situações. Seria imprudência e loucura minha defender e discutir orçamento estando envolvido em venda de emenda parlamentar”, disse o presidente da Câmara. Mendes seguiu entendimento do procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo a anulação da investigação. Aras estava em campanha pela recondução ao cargo e com apoio de Lira.

Gilmar Mendes é um dos principais apoiadores do semipresidencialismo lirista, onde o primeiro-ministro pode tudo e o presidente da República é um elefante branco, no meio da sala. Nas investigações da Lava Jato: em 2019, a Primeira Turma do STF aceitou abrir denúncia contra Arthur Lira por corrupção. Um ex-assessor de Lira foi flagrado transportando R$ 106 mil, em dinheiro vivo, no ano de 2012, no aeroporto de Congonhas. Dinheiro, segundo revelou Alberto Yousseff, o doleiro, para pagar Lira por uma nomeação na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Em 2023, Augusto Aras (mais uma vez) reviu o posicionamento da PGR, recomendando a rejeição da denúncia. Foi seguido pela Primeira Turma do STF.
Aperto
Neste cenário apertado, Renan Calheiros busca atuar para desarticular seu mais novo inimigo favorito: Arthur Lira: Almoçou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O governo busca novas receitas para zerar o deficit em 2024. Lira é contra a taxação das offshores – taxação de rendimentos no exterior, em empresas abertas em paraísos fiscais. Calheiros propõe repatriar estes recursos no exterior e não declarados, através de um Regime Especial de Regularização Cambial: pagando imposto de 15% mais multas. Pode dar certo. Depende do presidente da Câmara.
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