VERÃO MASSAYÓ

Festival exclui artistas locais e leva dinheiro ‘para fora’ de Alagoas

Economista defende um novo modelo de festas, com agenda permanente e valorização dos talentos nativos
Por Odilon Rios 28/01/2024 - 14:44
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Jonathan Lins / Secom Maceió
Verão Massayó 2024
Verão Massayó 2024

O Verão Massayó atraiu 600 mil pessoas, movimentou R$ 150 milhões e os donos de hotéis comemoram: esta foi a melhor temporada do turismo na capital em 20 anos. Porém a cidade não tem um plano permanente que inclua os artistas locais em atividades promovidas pelo Município, que assiste a uma evasão de dinheiro para outros estados com o pagamento de cachês a bandas “de fora”. 

A professora de Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Luciana Caetano diz que a cultura vem demandando atenção do setor público, mas as respostas não são positivas. “Maceió tem um orçamento para a Cultura em que mais de 90% ficam com a Fundação Municipal de Ação Cultural e não com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa”, explica. 

Qualquer lei, analisa Caetano, poderia assegurar que boa parte destes recursos fosse direcionada aos artistas locais, o que implicaria o retorno deste investimento para a cidade. “São muitas situações a serem analisadas: não existe um programa de manutenção da renda destes artistas. Há ainda os trabalhadores informais, que trabalham apenas com venda neste período do Verão Massayó, mas e depois dele? Não existe uma continuidade. Isso significa uma geração de renda esporádica. Não se traduz na consolidação de um projeto ou um modelo de desenvolvimento local”, explica.

Ações, diz a economista, que poderiam ser alteradas se a valorização dos artistas locais coincidisse com uma agenda contínua ao longo de ano, organizada pelo poder público e criando oportunidades. “Há muitas formas de aperfeiçoamento, como cursos de fortalecimento da cultura local, recuperação de grupos de dança. O que precisaria em Maceió: que os recursos da cultura ficassem na secretaria, produzindo cultura, ampliando este debate e uma agenda voltada ao enfrentamento das dificuldades dos artistas locais. 

Os critérios para definir os destinos deste dinheiro não atendem às necessidades do setor. E sim à decisão do prefeito. “Acho que a população, inclusive, poderia ser consultada, promovendo um plebiscito. Eu venho acompanhando os transtornos que isso tem causado no trânsito. Maceió não tem um local com uma estrutura adequada para fazer shows deste tipo, com aquele tamanho e concentração. Os engarrafamentos começam logo na entrada da cidade, próximo a Marechal Deodoro e na sexta-feira quando as pessoas ainda estão trabalhando. Uma festa descentralizada e aproveitando os artistas locais seria muito mais interessante, sustentável e consistente, gerando emprego e renda ao longo do ano, com bandas de música locais, trios de forró, grupos de teatro”. 

Os festivais promovidos em Maceió estão na mira do Ministério Público Estadual, por causa dos cachês – alguns deles milionários – pagos a artistas “de fora”. 

“É equivocado remunerar artistas com cachês que chegam a um milhão de reais enquanto o conjunto dos artistas locais não recebe nem metade disso e pagando atrasado. São muitas reclamações. Além disso, a fração dos impostos paga nestes cachês e que fica em Maceió é insignificante. Por exemplo: por que Maceió não organiza um carnaval de rua, como existe em Penedo ou Marechal Deodoro? Veja o que acontece em Pernambuco ou na Bahia: são lugares que têm clareza no que querem, têm uma agenda local e permanente. Temos grandes talentos, falta sensibilidade do poder público. Nem o Estado nem os municípios reconhecem a cultura como uma grande fonte de renda. E não será uma fonte de renda no Massayó Verão, mandando dinheiro para fora. É preciso haver pressão política para reverter esta compreensão”. 

Na versão da Prefeitura, o Verão Massayó, além de ser um sucesso de público, “também gerou emprego e renda para segmentos como o de ambulantes, motoristas de aplicativo, salões de beleza, lojas de vestuário e o comércio de bebidas e alimentos”. 

“É uma transformação completa [em Maceió], não só a coisa física, mas no imaterial também, e isso é muito impactante. Então é um festival que movimenta a economia, e gera emprego e renda para milhares de famílias”, disse o prefeito JHC (PL). Jota, que disputa a reeleição, aproveitou o Verão Massayó para anunciar obras.

“Este será um ano de muitos anúncios, muitos investimentos. Será um ano extraordinário, vai vir o maior pa[1]cote de obras, de investimentos da história da nossa cidade. E será o coroamento de todo o planejamento e estratégia que pensamos lá atrás”, disse.


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