SEM INFRAESTRUTURA
Alagoas tem 7,99% da população sem água encanada
Estado tem ocupa 4º lugar no país com residência desprovidas de água encanada“Lamentavelmente ainda é dessa forma, através de baldes, copos e caixas no chão, para ainda tomarem banho, lavar roupa, fazer essas coisas”. O relato é de Manuel Oliveira, morador de Traipu, município na região Agreste de Alagoas, estado que tem 7,99% da população sem abastecimento de água nas residências. Essa é a forma de armazenamento de água para muitas pessoas nessa localidade e ainda comum para mais de 4,8 milhões de brasileiros que ainda residem em domicílios sem água encanada. Deste total, cerca de 67% está na região Nordeste, totalizando 3,2 milhões de pessoas.
A disparidade entre a situação do Nordeste e Norte em relação às demais regiões do país, no que se refere ao índice mencionado é grande. Os estados com a maior proporção de moradores sem água canalizada são o Amazonas (9,66%), Acre (9,61%), Pernambuco (9,24%), Paraíba (8,87%) e Alagoas (7,99%).
“Dentro de minha comunidade Quilombo Mumbaça, em Traipu, nós até temos uma rede de água encanada, mas só existe a rede, sem fornecimento de água. A população hoje não passa sede por conta das fontes de água natural que temos e por conta de poços artesianos”, explica Manuel Oliveira, que é coordenador estadual das comunidades remanescentes de quilombolas de Alagoas.
Em Traipu, estima-se que 10.387 pessoas vivem sem água canalizada, o que representa quase metade (44%) da população do município. Apesar da alta taxa, a cidade ocupa o 15º lugar quanto à proporção de moradores sem água canalizada em todo o estado. Os campeões desse ranking são Ouro Branco (69,6%), Cacimbinhas (68,3%) e Canapi (65,4%), todas no sertão de Alagoas.
Em comparação com o último Censo Demográfico do IBGE, em 2010, houve uma redução no percentual de domicílios que não possuem água canalizada, de 6,8% para 2,4% em todo o país. Já em 2000, o percentual de domicílios sem canalização era de 12,4%.
Carros-pipa
Questionado sobre as formas que as famílias encontram para ter algum acesso à água, Manuel explica que alguns domicílios de Traipu, bem como escolas e postos de saúde, são abastecidos por carros-pipa, mas a quantidade é insuficiente. Já os moradores que residem mais próximo do Rio São Francisco, que margeia a cidade, “pegam água do rio naturalmente, tanto para beber como para cozinhar, para tomar banho, para tudo”.
Segundo a pesquisadora Tamara Zambiasi, que é PhD em Financiamento e Governança da Água na Universidade de Cambridge, as disparidades regionais no acesso ao saneamento básico no Brasil são evidentes e refletem as profundas desigualdades econômicas do país.
“A carência de infraestrutura básica, como redes de distribuição de água e sistemas de tratamento de esgoto, figura como um dos principais entraves para o avanço do saneamento em regiões menos desenvolvidas. A ausência de investimentos adequados nessa infraestrutura resulta em serviços precários ou inexistentes, impactando negativamente na qualidade de vida e na saúde da população”, afirma Zambiasi.
Para a geógrafa, os investimentos públicos diretos no saneamento são baixos e a distribuição desigual de investimentos no setor apenas reforça um ciclo de desigualdades, onde as regiões menos favorecidas continuam recebendo menos recursos, perpetuando suas condições precárias de saneamento.
“O setor de saneamento não se encaixa em lógicas puramente financeiras, pois é uma atividade de capital intensivo, cuja recuperação do investimento demanda longos prazos. Além disso, a água não é uma mercadoria produzível e está sujeita à disponibilidade natural. Sendo um serviço essencial, o saneamento não deveria ser limitado por modelos estritamente baseados em financiamento, pois dessa maneira perpetua um sério problema em relação ao acesso à água no país”, relata a pesquisadora.