Polícia Federal
A Polícia Federal deflagrou na manhã de terça-feira, 7, a Operação Bancarrota
A Polícia Federal deflagrou na manhã de terça-feira, 7, a Operação Bancarrota para investigar suposto superfaturamento de R$ 130 milhões em contratos fechados com a gráfica para impressão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As fraudes, como revelou o Estadão em 2019, teriam ocorrido durante quase dez anos, em diferentes governos.
Segundo os investigadores, as apurações desenvolvidas em conjunto com a Controladoria Geral da União (CGU) miram contratos de R$ 880 milhões. A PF investiga se o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) contratou uma empresa para realização do Enem "sem observar as normas de inexigência de licitação".
O Inep passa por uma crise desde o mês passado, que levou ao pedido de exoneração de 37 servidores, com denúncias de interferências no Enem. A operação da PF não tem relação direta com os casos e envolve contratos feitos entre 2010 e 2019, nos governos de Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Os agentes cumpririam 41 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro. As ordens foram expedidas pela Justiça Federal, que ainda determinou o sequestro de R$ 130 milhões de empresas e pessoas sob suspeita. A ofensiva investiga supostos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, crimes da Lei de Licitações e lavagem de dinheiro.
A PF diz ainda que suspeita de "enriquecimento ilícito" de R$ 5 milhões por servidores do Inep supostamente envolvidos no esquema. O suposto superfaturamento de R$ 130 milhões teria sido desviado "para fins de comissionamento" do grupo, que teria empresários, funcionários das empresas envolvidas e servidores.
Em abril de 2019, o Estadão mostrou que havia suspeitas de direcionamento das licitações envolvendo a gráfica que imprimiu as provas do Enem durante 2010 e 2018 e havia decretado falência naquele ano, a RR Donnelley. A multinacional assumiu a impressão da prova depois de outro escândalo, o do vazamento do Enem, em 2009, também revelado pelo Estadão. O exame foi furtado de dentro da Gráfica Plural e os responsáveis tentaram vendê-lo a jornalistas.
Por causa disso, a RR Donnelley, que era a empresa que atendia aos mais altos requisitos de segurança na época, foi chamada para fazer o novo exame. Depois disso, ela ganhou todas as licitações do Enem ou teve seu contrato renovado sem passar por concorrência.
Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a recomendar em 2018 que não houvesse "excesso de rigor" nas exigências da licitação, o que restringia a competição porque apenas a RR Donnelley poderia cumpri-las. Também pediu que o contrato não fosse mais prorrogado.
Mesmo assim, empresa ganhou mais um pregão em 2019, mas decretou falência em seguida. Surgiram então denúncias de que o suposto esquema teria sido transferido para outra gráfica, a Valid SA, que havia ficado em terceiro lugar na licitação. A Valid SA acabou imprimindo a prova em 2019.
A gráfica informou, por meio de nota, que "cumpre estritamente as leis e regulações aplicáveis e está totalmente à disposição para continuar colaborando com a apuração dos fatos". Em 2020 e em 2021, quem ficou com o trabalho, depois de vencer a concorrência, foi novamente a Gráfica Plural. A empresa não foi considerada culpada no processo que investigou o roubo do Enem.
As apurações, segundo a CGU, têm justamente como base uma auditoria realizada em 2019 que apontou irregularidades nos contratos assinados pelo Inep no valor de R$ 728 milhões. A CGU não cita os nomes das empresas em sua nota à imprensa.
Segundo o órgão, as investigações "revelaram a atuação de diretores e servidores do Instituto, juntamente com consultores das gráficas contratadas, no direcionamento da contratação das empresas para impressão das provas".
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