FESTAS DE FIM DE ANO

Ricos e celebridades como Neymar assumem risco de espalhar o vírus

Por El País/Brasil 29/12/2020 - 08:03
Atualização: 29/12/2020 - 08:08
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Reuters
Neymar passará a virada de ano no litoral do Rio de Janeiro
Neymar passará a virada de ano no litoral do Rio de Janeiro

Uma confraternização de grandes proporções, com direito a cerimonial e shows musicais. O megaevento programado por Neymar no complexo de sua mansão em Mangaratiba, litoral do Rio de Janeiro, reavivou o debate sobre as festas de fim de ano no Brasil. Quando o país se aproxima da marca de 200.000 mortes por covid-19 e a curva de infectados volta a acelerar perigosamente na maioria dos Estados, nem mesmo celebridades como o principal jogador brasileiro em atividade se furtam em promover aglomerações por meio dos tradicionais encontros de Natal e Réveillon. 

No sul da Bahia, o Governo do Estado trava na Justiça uma batalha para evitar baladas privadas promovidas por turistas que chegam à região especialmente de aviões particulares.

Inicialmente planejada para 500 convidados, a balada do craque não foi cancelada, apesar da repercussão negativa nas redes sociais. Após a assessoria de Neymar negar a realização da festa, a Fábrica, agência que promove eventos para empresas e personalidades, confirmou a celebração para “aproximadamente 150 pessoas” em Mangaratiba. 

De acordo com a empresa, que se define como produtora de “experiências inexplicáveis e encontros inesquecíveis”, o festejo com duração prevista de cinco dias cumprirá “todas as normas sanitárias determinadas pelos órgãos públicos”.

A Prefeitura de Mangaratiba, que reativou as barreiras sanitárias na cidade desde o último dia 23 de dezembro, diz não ter competência legal para impedir celebrações em residências, mas cancelou as festas de fim de ano em espaços públicos e proibiu a realização de eventos com música ao vivo ou eletrônica em estabelecimentos comerciais e privados. Para festividades que não dependam de autorização municipal, os organizadores devem restringir a lotação e garantir o cumprimento dos protocolos de saúde.

Em comunicado divulgado nesta segunda-feira, a Prefeitura informa que “não foi oficialmente notificada da festa e que um evento para 500 pessoas deveria, ao menos, ter sido avisado aos órgãos responsáveis do município”. Mais preocupada em preservar a imagem de Neymar do que com o agravamento da pandemia, a Fábrica, além de não citar o nome do jogador na nota sobre a festa, teria advertido convidados sobre o veto a celulares e ao compartilhamento de imagens do evento.

Para Helio Bacha, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), eventos como o de Neymar refletem a conivência do Governo Federal e autoridades locais com comportamentos de risco em meio à pandemia. “Não vemos nenhum alerta em relação a essas festas de fim de ano, nenhuma orientação efetiva por parte dos governantes. Pelo contrário, há um silêncio total diante da repetição desses eventos. Isso quando as próprias autoridades não incentivam aglomerações”, afirma o infectologista. No fim de semana que antecedeu o Natal, o influenciador Carlinhos Maia promoveu uma grande festa em Penedo, interior de Alagoas. Depois do evento, alguns convidados, a exemplo da também influenciadora Mileide Mihaile, testaram positivo para covid-19.

Maia, que tem mais de 20 milhões de seguidores somente no Instagram, reconheceu o erro de suscitar aglomeração de pessoas sem máscara, mas justificou que é “melhor que fazer uma coisa na hipocrisia e ficar fingindo por trás das câmeras”. Por sua vez, Neymar, que soma 265 milhões de seguidores em suas redes sociais, ainda não se manifestou sobre a festa em Mangaratiba. “Uma pessoa célebre com os pés, mas nula com a cabeça”, define Helio Bacha ao condenar a postura do jogador ao promover o evento. “O aumento de novos casos de coronavírus assusta. Janeiro promete ser um mês pesado pelo agravamento da pandemia, potencializado pelos encontros de fim de ano. As autoridades estão muito lentas em coibir essas aglomerações. Fingem agir, mas não impõem o cumprimento de decretos. Sem contar as que ainda são propagandistas da negação sobre vírus e vacina.”

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