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Bolsonaro encerra campanha como favorito; Haddad espera virada difícil
O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, chega à eleição deste domingo como favorito para subir a rampa do Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro de 2019, enquanto o petista Fernando Haddad tenta uma virada difícil, que seria feito inédito em eleições presidenciais no Brasil.
Desde a primeira eleição direta para presidente após a redemocratização, o candidato que terminou o primeiro turno com a primeira posição jamais sofreu uma virada no segundo turno.
Fernando Collor, em 1989, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 e 2006, e Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, terminaram a primeira rodada na frente e confirmaram o favoritismo no segundo turno. Em 1994 e 1998 Fernando Henrique Cardoso elegeu-se no primeiro turno.
Bolsonaro foi o mais votado no último dia 7, com 46 por cento dos votos válidos, enquanto Haddad somou 29 por cento. De acordo com pesquisas Ibope e Datafolha, divulgadas no sábado, o capitão da reserva do Exército deverá confirmar neste domingo a liderança mostrada nas urnas três semanas atrás.
Segundo o Ibope, Bolsonaro chega ao dia da eleição com 54 por cento dos votos válidos, enquanto Haddad soma 46 por cento. No levantamento anterior do instituto, divulgado na terça-feira, Bolsonaro aparecia com 57 por cento dos votos válidos, enquanto Haddad tinha 43 por cento.
Já pelo Datafolha divulgado na véspera do pleito, Bolsonaro tem 55 por cento dos votos válidos, contra 45 por cento de Haddad. Pesquisa anterior do instituto, divulgada na quinta-feira, mostrava o capitão da reserva com 56 por cento dos válidos, enquanto o ex-prefeito de São Paulo somava 44 por cento.
“No Brasil não se consegue afirmar que as coisas serão como elas parecem que serão... (Mas) aparentemente, sim, o Bolsonaro deve ser eleito presidente da República no domingo”, disse o cientista político Carlos Melo, do Insper.
Além do futuro presidente da República, este domingo também definirá os governadores de 14 Estados que terão segundo turno e colocará fim a uma campanha atípica, seja pela mudança nas regras eleitorais, seja pelos vários percalços que a marcaram e pela retórica extremamente dura, incluindo troca de ofensas pessoais, entre os dois postulantes ao Planalto no segundo turno.
Não foram poucas as vezes que Bolsonaro se referiu a Haddad como “canalha”, “fantoche”, “poste” e “marmita de corrupto preso”, batendo principalmente na influência que Lula, preso desde abril por corrupção e lavagem de dinheiro, exerce sobre o afilhado político.
O petista, por sua vez, classificou o capitão da reserva de “soldadinho de araque” e também o chamou de “covarde”, “fujão”, “frouxo” e “arregão”, por conta da recusa do presidenciável do PSL em enfrentá-lo cara a cara em debates.
Alvo de uma facada no dia 6 de setembro durante evento de campanha em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro passou por duas cirurgias de urgência, ficou 23 dias hospitalizado e ainda carrega consigo uma bolsa de colostomia, que deverá ser retirada em nova cirurgia até o final deste ano.
Haddad foi oficializado candidato do PT ao Palácio do Planalto no dia 11 de setembro. Assim, não participou dos dois debates em que o capitão da reserva compareceu antes da facada. Mesmo após receber alta, Bolsonaro não foi ao debate da TV Globo, o último do primeiro turno, alegando recomendações médicas.
Embora tenha feito eventos de campanha, como visitas à Polícia Federal e ao Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, no segundo turno, Bolsonaro voltou a alegar restrições de saúde para não ir a debates no segundo turno. Antes do duelo que aconteceria na Globo na sexta, aliados argumentaram questões de segurança para que ele não comparecesse.
Com isso, esta campanha terá um fato inédito: será a primeira vez que um segundo turno na eleição presidencial não terá um debate sequer entre os dois candidatos.
Diante de uma campanha tão acirrada e de elevado patamar de polarização, apontada por analistas como um plebiscito entre o antipetismo, encarnado por Bolsonaro, e o petismo, que teve Haddad escalado para representá-lo por ordem de Lula, o maior desafio do vencedor deverá ser buscar um discurso de união.
E com a vitória de Bolsonaro desenhada pelas pesquisas de opinião, fica a dúvida se o capitão da reserva, conhecido por sua retórica dura e por suas declarações polêmicas, terá capacidade e disposição de fazer esses gestos e de unir forças em torno de si para governar.
“Do que vem pela frente o que eu mais destacaria são os sinais do Bolsonaro e da turma de aproximação com a velha política e também com a administração Temer. Estão dando sinais de que a transição para um novo governo não será tão abrupta como se anunciava há algum tempo”, disse o analista político da MCM Consultores Associados Ricardo Ribeiro, que acredita que Bolsonaro deverá, mesmo sentado na cadeira presidencial, gerar antagonismos.
“Esse clima mais acirrado de antagonismo vai durar toda a administração Bolsonaro. O Bolsonaro vai ser um presidente que vai gerar muita rejeição, não digo da maioria da população, mas de uma parte expressiva da população”, previu.
Para Melo, do Insper, o discurso que Bolsonaro fará após sua provável vitória na noite de domingo deverá ser analisado de perto, até mesmo para aplacar temores dos que veem num eventual governo do capitão da reserva uma ameaça à democracia, por conta de declarações passadas e recentes dele e de aliados próximos.
“O discurso da vitória do Bolsonaro tem que ser um discurso agregador. Não pode ser um discurso com o tom que ele vem exercendo durante a campanha”, disse Melo.
“A nenhum presidente da República interessa governar um país dividido. Impor a unidade na porrada não é possível. Espero que ele nem pense nisso. Você tem que construir a unidade por meio da persuasão.”