Ibovespa sobe e avança 1,12% na semana; dólar encerra a semana em baixa de 1,60%

Por Agência Estado 26/04/2024 - 18:15

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Com leituras favoráveis do IPCA-15 em abril e, nos Estados Unidos, do PCE de março, métrica preferida do BC americano para monitorar os preços ao consumidor, a melhora do humor externo e doméstico contribuiu para que o Ibovespa interrompesse hoje série diária de três leves perdas, em alta de 1,51%, aos 126.526,27 pontos no fechamento, que o colocou no campo positivo também na semana (+1,12%). Assim, o índice da B3 superou sequência negativa das três semanas anteriores, limitando a perda do mês, que chega ao fim na próxima terça-feira, a 1,23%.

Na máxima desta sexta-feira, o Ibovespa foi aos 126.826,13 pontos, no maior nível intradia desde 12 de abril - o patamar de fechamento da sessão também foi o maior desde o dia 11 do mesmo mês. Moderado, o giro financeiro ficou restrito a R$ 19,6 bilhões na sessão, em que o Ibovespa saiu de mínima, na abertura, aos 124.650,92. No ano, o índice da B3 ainda acumula perda de 5,71%. Em porcentual, o avanço desta sexta-feira foi o maior desde 8 de abril (1,63%).

As principais ações da carteira Ibovespa mostraram ganhos na sessão, na faixa de 1% a 2% em boa parte do dia. Vale ON subiu 0,84%, reduzindo a perda da ação na semana a 0,98%, enquanto Petrobras ON e PN tiveram alta, hoje, de 1,46% e 0,78%, com ganhos semanais de 2,41% e 2,17%, respectivamente. Entre os grandes bancos, Itaú PN mostrou alta de 1,67% na sessão e de 2,09% na semana, enquanto Bradesco PN subiu hoje 1,61%, avançando 1,76% no mesmo intervalo. Na ponta do Ibovespa nesta sexta-feira, Azul (+5,97%), MRV (+5,54%) e Hypera (+5,16%). No lado oposto, Pão de Açúcar (-2,47%), Casas Bahia (-1,45%) e Klabin (-0,69%).

"Alimentado pelo IPCA-15 abaixo do esperado para abril, a Bolsa teve uma alta como há algum tempo não se via. A inflação segue bem comportada no Brasil, mas há sinais um pouco mistos, com o Roberto Campos Neto presidente do BC tendo enfatizado, recentemente, que o movimento de ajuste na política monetária vai depender muito, daqui pra frente, dos dados de fora, especialmente nos Estados Unidos", diz Felipe Moura, analista da Finacap. "Tivemos um dia de respiro, de alívio, antes da decisão e da comunicação do Federal Reserve, na próxima semana, sobre a taxa de juros por lá", acrescenta.

Nesse contexto, o quadro das expectativas para as ações no curtíssimo prazo, no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, está mais equilibrado em relação ao levantamento da semana passada. Entre os participantes, a maioria (42,86%) espera estabilidade para o Ibovespa na próxima semana, enquanto 28,57% preveem alta e outros 28,57%, queda. No último Termômetro, o quadro estava dividido entre variação neutra e alta (50% a 50%), sem respostas indicando baixa.

Ainda assim, além do PCE de março melhor do que se chegou a temer, o IPCA-15, considerado como prévia da inflação oficial do Brasil, foi um fecho estimulante para semana que se aproximava do fim em meio a receios sobre a resiliência da alta de preços ao consumidor nos Estados Unidos, e tendo como pano de fundo a desaceleração econômica indicada na leitura preliminar do PIB americano do primeiro trimestre, divulgada ontem.

Aqui, o IPCA-15 referente a abril contribuiu para fechamento adicional da curva de juros doméstica nesta última sessão da semana, observa Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital. "Diante desse dado, acredito que o BC continue no ritmo de queda de 0,50 ponto porcentual para a Selic na próxima reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária, nos dias 7 e 8 de maio", acrescenta.

Ainda que a semana tenha terminado em chave mais favorável, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, é preciso que se coloque tal recuperação parcial em perspectiva. "A curva de juros doméstica abriu em 60 bps basis points e fechou uns 15 bps disso, e se olharmos para o Ibovespa, não tem conseguido ir além dos 125 ou 126 mil pontos. Há prosseguimento da saída de recursos estrangeiros da Bolsa - e sem atratividade para que retornem, o que se reflete no baixo giro financeiro que tem sido visto na B3", diz.

Ele observa que, mesmo quando comparado a outros mercados latino-americanos de portes distintos, como os de Argentina e Colômbia, ou de liquidez e tamanho mais próximo, como o do México, o retrato que emerge para o Brasil não é favorável. "O ano começou com o cenário de três ou quatro cortes de juros nos Estados Unidos e, agora, a expectativa majoritária é de que ocorra apenas um - ou talvez nem isso. Quando vem uma chacoalhada como essa, o investidor, que a princípio buscava surfar onda que poderia favorecer os emergentes como um todo, passa a fazer distinção em cima de fundamentos, como os fiscais, olhando cada país", acrescenta.

Dessa forma, aponta o gestor, enquanto se vê uma agenda de gosto do mercado em um país até há pouco tempo à margem, como a Argentina, agora com produção de superávits primários, queda de juros e da inflação, ainda que o vizinho não seja comparável à dimensão do mercado brasileiro, tem-se uma percepção menos positiva do País, que se agrava quando emergem ruídos e desgastes públicos para peças bem avaliadas pelos investidores, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates - que, de certa forma, terminam a semana em posição melhor, com a aprovação da distribuição de 50% dos dividendos extraordinários da estatal, de efeito positivo também para o caixa do Tesouro.

"A razão histórica de Preço/Lucro do Ibovespa era de 10 a 10,5 vezes, e tem estado em 8 vezes há uns três anos. Tem havido um aumento do desconto em relação ao S&P 500, que tinha P/L a 16 vezes e que agora tem avançado para 19 ou mesmo 21 vezes. Quando se olha a Bolsa aqui em dólar, mesmo já muito descontada, estamos perdendo para os argentinos, colombianos e mexicanos", diz. "Quando se olha para os juros, é até possível cortar a taxa, mas o que vale mesmo é o juro longo, quanto se cobra de prêmio. E para que isso melhore, seria preciso mais crescimento econômico, sem perder de vista o bom senso fiscal."

Dólar

O dólar à vista apresentou queda firme no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 26, e esboçou fechar no nível de R$ 5,10. Resultado dentro do esperado do índice de preços com gastos de (PCE, na sigla em inglês) nos EUA em março provocou leve baixa das taxas dos Treasuries longos, o que abriu espaço para uma recuperação de divisas emergentes. Por aqui, a leitura do IPCA-15 de abril não afasta a possibilidade de que o Banco Central desacelere o ritmo de corte de juros e mire taxa terminal perto de 10% em razão do cenário externo, o que sugere manutenção de um bom diferencial de juros.

O real também se beneficiou, segundo operadores, de uma conjunção de fatores locais favorável à diminuição de percepção de risco. Além da liberação de dividendos extraordinários da Petrobras, que se traduz em reforço de caixa do governo, dois pontos amenizam as preocupações com a questão fiscal no curto prazo: a sinalização do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que a PEC do Quinquênio não vai avançar na Casa e a suspensão da desoneração da folha pelo ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin.

Tirando uma alta pontual na abertura dos negócios, quando registrou máxima a R$ 5,1706, o dólar à vista trabalhou em queda ao longo do dia. Com mínima a R$ 5,1163 à tarde, em meio a máximas do Ibovespa, a moeda encerrou a sessão em baixa de 0,91%, cotada a R$ 5,1163, no menor valor de fechamento em cerca de 15 dias. A divisa termina a semana com desvalorização de 1,60%, mas ainda acumula alta de 2,01% em abril.

Operadores já notam também movimentos técnicos para rolagem de posições no segmento futuro na virada do mês e a disputa pela formação da última taxa ptax de abril na próxima terça-feira, 30. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio teve giro forte, acima de US$ 17 bilhões. Os estrangeiros seguem reduzindo posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, cupom cambial e swaps), que superaram US$ 70 bilhões na semana passada, novo pico histórico.

As reiteradas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não vai intervir no câmbio para amenizar alta do dólar provocada por mudanças de fundamentos - no caso, a reprecificação dos juros americanos - tiraram fôlego de movimentos especulativos em torno da moeda americana.

"Com diminuição do estresse no exterior, não há justificava para manter um estoque tão grande de posição comprada, porque o custo já não é viável. Estão aproveitando para realizar lucros nesta semana e voltar a aplicar na Bolsa, que tem papéis com preços interessantes", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Lá fora, o índice DXY voltou a ultrapassar os 106,000 pontos nas máximas do dia, sobretudo por conta dos ganhos de mais de 1% da moeda americana em relação ao iene, atingindo o maior valor desde 1990. Mas o dólar caiu na comparação com as principais divisas emergentes pares do real (à exceção do peso chileno). As moedas latino-americanas se recuperam nesta semana, diminuindo as perdas em abril, com o real apresentando o melhor desempenho nos últimos dias.

"Embora o DXY tenha mantido certa estabilidade na semana em um patamar elevado neste ano, vimos uma diminuição do estresse no câmbio, com uma certa correção do exagero da semana passada. Mas não há mudança de vetores estruturais", afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, que não vê alívio adicional para o real daqui para a frente, uma vez que o quadro ainda é de dólar forte no mundo. "Estamos muito colados ao cenário externo, se o Fed vai cortar ou não a taxa de juros."

O PCE e seu núcleo avançaram 0,3% em março em relação a fevereiro, ambos em linha com as projeções dos analistas. Após o PCE do primeiro trimestre, divulgado ontem junto com a primeira leitura do PIB americano, ter vindo acima do esperado, temia-se que a leitura de março viesse pressionada. Sem sustos no PCE de março, as chances de que o Fed promova um corte de juros em setembro avançaram, superando os 60%, segundo monitoramento do CME Group.

Juros

Os juros tiveram queda firme, em meio a um conjunto de fatores que favoreceram o descarregamento de prêmios acumulados na semana, com destaque para a leitura benigna dos dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos. Pelo lado fiscal, foi bem recebida a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a desoneração da folha de pagamentos dos municípios, o que ajudou a aliviar a curva.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,200%, de 10,32% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 recuava de 10,61% para 10,43%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,80%, de 10,95%, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,33%, de 11,44%.

O IPCA-15 de abril, de 0,21%, ficou abaixo da mediana das estimativas (0,29%), com composição considerada favorável, ainda que serviços subjacentes, aos quais o Banco Central dá especial atenção, sigam rodando perto de 5% no acumulado em 12 meses, em 4,93% segundo o banco BV.

O resultado recolocou as apostas de queda de 0,50 ponto porcentual da Selic no Copom de maio, conforme indicado pelo forward guidance, novamente no jogo, sendo ainda minoritárias. Por volta das 16h, a curva projetava corte de 29 pontos-base, representando 84% de chances de redução de 25 pontos e 16% de probabilidade de queda de 50 pontos. Para o Copom de junho, a precificação de -14 pontos ainda mostrava um quadro dividido entre corte de 25 pontos e manutenção da taxa. Para a o fim do ano, a projeção era de taxa terminal de 10,25%, ante 10,50% no fim da tarde de ontem.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu hoje que o IPCA-15 de abril "veio um pouquinho melhor", mas disse que é preciso ver a tendência de inflação se materializar já que as expectativas estão longe do centro da meta e indicou que o que mais pesa é a inflação subjacente.

Nos Departamentos Econômicos, os profissionais admitem que o IPCA-15 eleva as chances de o Copom manter a dose de 0,5 ponto em maio, mas ainda assim há alguma reticência, na medida em que as incertezas externas, fiscais e sobre preços de serviços seguem elevadas.

Para a Azimut Wealth Management, diante do cenário de juros altos por mais tempo nos EUA, os números de inflação domésticos, embora favoráveis no agregado, mantêm as dúvidas sobre preços dos serviços, combinação que sugere a adoção de postura cautelosa do Copom em maio. "A decisão ainda está em aberto, mas a comunicação recente, principalmente do Roberto Campos Neto, presidente do BCB, sugere que aumentou a chance de uma redução do ritmo para 25 pontos-base", afirma Gino Olivares, economista-chefe.

A reação ao IPCA, porém, foi autorizada pela redução no estresse do ambiente externo, após o índice PCE de março nos EUA ter vindo em linha com o esperado nos dados mensais, embora com a leitura anual superando marginalmente as previsões. Somado ainda à piora no sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan em abril, as apostas de queda de juros nos EUA em setembro voltaram a ganhar força, mas o mercado segue dando maior probabilidade a apenas uma redução de 25 pontos até dezembro. A taxa da T-Note de dez anos cedeu e voltou a ficar abaixo de 4,70%, situando-se em 4,67% perto das 17h.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, lembra que ontem o mercado havia se assustado com a aceleração do índice PCE do primeiro trimestre e hoje veio um dado mais atualizado e em linha com o esperado. "Só o fato de não ter vindo acima acabou caindo bem no mercado e, junto com os outros dados, deu alívio às moedas. Essa valorização do real também dá força ao fechamento da curva", afirma. O dólar fechou hoje em baixa de 0,91%, aos R$ 5,1163.

A semana termina com redução no desconforto fiscal, após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicar que são poucas as chances de PEC do Quinquênio avançar na Casa. Adicionalmente, foi considerada uma vitória do governo a decisão do ministro do STF Cristiano Zanin, ontem, de suspender a desoneração da folha de pagamentos dos municípios e de setores produtivos até 2027.

Segundo a Warren Investimentos, a decisão corrobora argumentos técnicos colocados pela Advocacia-Geral da União (AGU) e beneficiará as contas públicas em até R$ 20 bilhões, mas ainda precisará ser confirmada pelo pleno do STF. O Senado, porém, promete reagir. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que entrará com recurso no Supremo contra a decisão de Zanin.


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