Na semana, Ibovespa avança 1,91% e dólar cai 2,25% com compromisso fiscal de Lula e exterior

Por Agência Estado 05/07/2024 - 18:12

ACESSIBILIDADE


O Ibovespa teve dia de acomodação ao longo do qual pouco conseguiu se distanciar do zero a zero, mas concretizou a terceira semana de recuperação consecutiva, em alta também nas quatro sessões anteriores, desde o primeiro dia do mês. Hoje, o índice se firmou no positivo em direção ao fechamento (+0,08%), aos 126.267,05 pontos, tendo flutuado entre 125.556,48 e 126.661,59 em sessão na qual saiu de abertura aos 126.165,12. O giro ficou em R$ 19,8 bilhões, após o feriado de ontem nos Estados Unidos que havia reduzido a liquidez.

Na semana, de volta a níveis da segunda quinzena de maio, o Ibovespa acumulou ganho de 1,91%, após avanços de 2,11% e de 1,40% nos dois intervalos que a precederam. Assim, no ano, o índice limita a perda a 5,90%. Pelo terceiro dia, os ativos brasileiros tiveram descompressão em conjunto, com o dólar voltando a fechar em baixa hoje, de 0,44%, a R$ 5,4623 - um movimento de retração acompanhado também pela curva de juros doméstica.

Nesta sexta-feira, os investidores continuaram a tomar o pulso do governo com relação à política fiscal, e os sinais emitidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quarta-feira para cá, têm colaborado para a distensão - e, por consequência, para a recuperação do real, bem como dos ativos negociados na Bolsa.

Em evento em Osasco (SP), Lula reafirmou nesta sexta-feira o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal e com o cumprimento das metas estabelecidas. À tarde, fontes do governo ouvidas pelo Broadcast em Brasília disseram que o presidente endossa a equipe econômica no ajuste fiscal. Os limites do arcabouço vão ser observados e serão buscadas medidas para o cumprimento das regras em 2024 e 2025, de acordo com fonte ouvida pelo Broadcast, reportam de Brasília as jornalistas Fernanda Trisotto e Isadora Duarte.

Com a relativa melhora da percepção fiscal do meio para o fim desta semana, o mercado está mais otimista quanto ao desempenho das ações na B3 no curtíssimo prazo. No Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, 85,71% dos participantes disseram que a expectativa é de alta para o Ibovespa na próxima semana e 14,29% afirmaram que a previsão é de estabilidade. Não houve respostas indicando queda.

Na agenda de dados nesta última sessão da semana, destaque para a divulgação, pela manhã, do relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em junho, com o número de vagas criadas, a taxa de desemprego e o ganho salarial.

"A surpresa foi o aumento do desemprego, que subiu de 4% para 4,1%. Os demais dados vieram alinhados com as expectativas do mercado, com desaceleração do crescimento salarial, de 0,4% para 0,3% no mês, e de 4,1% para 3,9% na comparação anual. A criação de vagas perdeu força na margem principalmente no setor de saúde, que vinha apresentando forte crescimento nos últimos meses", aponta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

"Os resultados de junho reforçam a tese de que a reunião do Federal Reserve em setembro será decisiva para um possível corte de juros nos EUA, o que pode beneficiar o Brasil indiretamente, aliviando a pressão sobre o Banco Central - considerando os debates sobre um possível aumento de juros, aqui, em setembro", acrescenta Cruz, em nota.

"O mercado de trabalho americano continua forte, mas traz alguns sinais de desaquecimento o que é favorável a afrouxamento da política monetária nos EUA. Por outro lado, a campanha eleitoral tende a trazer um pouco mais de volatilidade para o mercado por lá. Aqui, houve melhora na semana com o corte de gastos sinalizado pelo governo para 2025", diz Gabriel Pereira, sócio e advisor da Blue3 Investimentos.

Nos Estados Unidos, "os dados do payroll em junho - abaixo na margem, mas acima do consenso para a criação de vagas no mês - não sugerem inflação maior por conta do consumo, quando se olha para fatores como o ganho salarial e também o leve aumento da taxa de desemprego. Assim, os rendimentos dos Treasuries recuaram um pouco mais após esses dados, e o Nasdaq, índice de ações considerado mais sensível a juros em Nova York, subiu", observa Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

No fim da sessão, o Nasdaq mostrava alta de 0,90%, em ganho acima do registrado por S&P 500 (+0,54%) e Dow Jones (+0,17%) nesta sexta-feira, em que tanto o índice tecnológico (Nasdaq) como o amplo (S&P 500) voltaram a renovar recordes de fechamento.

Mota acrescenta que o desempenho do Ibovespa acabou sendo contido, hoje, pelo sinal negativo de Vale (ON -0,41%), a ação de maior peso individual no índice. "Há ainda especulação, temor e oscilação de humor quanto à perspectiva da China e o que implicará para o preço do minério", diz o operador. O dia foi misto para as ações dos maiores bancos, com Bradesco (ON +0,71%, PN +1,14%) conseguindo se descolar das perdas em Santander (Unit -1,70%, mínima do dia no fechamento) e Banco do Brasil (ON -0,45%), com Itaú perto do zero a zero (PN +0,06%).

Por outro lado, Petrobras obteve sinal único em direção ao fechamento, na ON (+1,74%) e também na PN (+0,54%), o que firmou o Ibovespa um pouco acima da estabilidade. Na ponta ganhadora do índice nesta sexta-feira, CVC (+10,16%), Pão de Açúcar (+7,51%) e Locaweb (+6,68%). No lado oposto, Embraer (-4,51%), Suzano (-3,95%) e Klabin (-2,56%).

Dólar

Após uma alta pontual pela manhã, o dólar à vista se firmou em baixa ao longo da tarde no mercado doméstico, refletindo a queda da moeda americana no exterior, na esteira do resultado do payroll de junho, e novos sinais vindos do governo de compromisso com as metas fiscais.

Com máxima a R$ 5,5342 e mínima a R$ 5,4603, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,44%, cotado a R$ 5,4623, no menor valor de fechamento em dez dias. Foi o terceiro pregão consecutivo de recuo da moeda americana, que encerra a semana com desvalorização de 2,25%. Do pico de R$ 5,6648 no fechamento da terça-feira, 2, para o encerramento do pregão hoje, o dólar caiu 3,57%.

Apesar da onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, em semana marcada por dados mais amenos de atividade e emprego nos EUA, a apreciação do real é atribuída, sobretudo, à tentativa do governo de reconquistar a confiança na política econômica. Foi a primeira perda semanal do dólar após seis semanas seguidas de valorização.

"O real foi a melhor moeda entre emergentes na semana, principalmente quando se olham os pares latino-americanos. Isso vem da mudança de sinalização do governo em relação à questão fiscal", afirma o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa. "Se o governo confirmar as medidas de cortes, a tendência é real apreciar e o dólar voltar para um patamar entre R$ 5,30 e R$ 5,40".

Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se absteve de críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e deu sinais de apoio à agenda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad com várias declarações a favor do compromisso fiscal. Na quarta-feira à noite, após reunião de Lula com Haddad e outros ministros, o governo informou que havia identificado R$ 26 bilhões em despesas obrigatórias que podem ser cortadas do Orçamento de 2025. A perspectiva é também de anúncio de bloqueio de recursos.

As mínimas do dólar hoje vieram à tarde, após o Broadcast publicar que o presidente Lula endossou a linha de ação do ministério da Fazenda. Um interlocutor do alto escalão da equipe econômica relatou que a determinação do presidente foi clara: respeitar os limites do arcabouço e buscar as medidas necessárias para o cumprimento da regra em 2024 e 2025. Revisões de gastos que tenham impacto de médio e longo prazo devem ficar para depois. No início da tarde, em evento em Osasco (SP), Lula já havia reforçado o compromisso com a meta fiscal, contribuindo para troca de sinal do dólar.

"A casa estava muito bagunçada, com Lula dizendo coisas que aumentavam o temor de descontrole fiscal. Ele provavelmente foi aconselhado a mudar o tom e tomar mais cuidado porque estava provocando uma reação muito forte no mercado", afirma o economista-chefe do Banco DTW, Luciano Simões, para quem o dólar, apesar do desafogo nesta semana, não volta mais a trabalhar abaixo de R$ 5,40 no curto prazo.

No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a moedas fortes, em especial o euro e o iene - operou em queda moderada, abaixo dos 105,000 pontos, e encerrou a semana com baixa de quase 1%. O dólar caiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, em dia de baixa firme das taxas dos Treasuries.

Dados do relatório de emprego (payroll) de junho nos EUA endossam a perspectiva de uma acomodação do mercado de trabalho americano, o que sugere espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve neste ano. Forma criadas 206 mil vagas em junho, um pouco acima da mediana de Projeções Broadcast (200 mil). Mas houve revisão para baixo dos números de maio (de 272 mil para 218 mil) e de abril (de 165 mil para 108 mil). Além disso, a taxa de desemprego subiu de 4% para 4,1%. Monitoramento do CME Group mostrou que as chances de cortes de juros nos EUA em setembro, que já estavam acima de 70%, superaram 77%.

Segundo o economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, os dados do payroll confirmam a "acomodação" do mercado de trabalho esperada pelo comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês). "Junto com os dados de inflação de abril e maio mais fracos, o desaquecimento do emprego e da criação de vagas cria condições para que o Fomc reduzia a Fed Funds Rate em 25 pontos-base pelo menos duas vezes em 2024" afirma Maciel.

Juros

Os juros futuros encerraram o dia em baixa, acompanhando a acomodação também do dólar em queda, num dia em que o exterior ajudou via alívio nas taxas dos Treasuries após o relatório de emprego dos EUA ter vindo relativamente fraco. Internamente, o presidente Lula reforçou sinalização de compromisso com a responsabilidade fiscal e não fez mais críticas ao Banco Central, o que também permitiu a continuidade da devolução de prêmios de risco iniciada na quarta-feira. Na semana, a curva perde inclinação, com as taxas longas cedendo mais do que as curtas.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,590%, de 10,624% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,29% para 11,22%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,54% (de 11,60%) e a do DI para janeiro de 2029 cedia a 11,91%, de 11,99%.

A divulgação do payroll colocou as taxas inicialmente em baixa pela manhã, acompanhando a reação dos rendimentos dos Treasuries, nesta volta de Wall Street depois do feriado da Independência dos EUA. Mas ainda na primeira etapa chegaram a subir, alinhadas à cautela com as declarações do presidente Lula, que falaria no começo da tarde. Lula, porém, disse que a economia do Brasil "não vai quebrar" porque a gestão tem compromisso com o cumprimento das metas estabelecidas. "São 213 milhões de filhos que nós temos de cuidar, e só vai dar certo se a economia estiver arrumada", comentou, durante inauguração do novo campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Osasco.

Um interlocutor do alto escalão da equipe econômica relatou ao Broadcast que o presidente teria determinado à equipe econômica respeitar os limites do arcabouço e buscar as medidas necessárias para o cumprimento da regra em 2024 e 2025. Fontes que anteriormente ouviam o presidente dizer que "investimento não é gasto" relatam que agora nas reuniões internas ele observa que todas áreas do governo e todas despesas precisam ser avaliadas com "pente-fino", informam as repórteres Fernanda Trisotto e Isadora Duarte.

O estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, vê um pouco mais de peso para a influência do cenário externo hoje no DI, dado o comportamento das taxas na curva americana. "Essa queda da curva de 10 anos talvez seja o principal fator e, internamente, o ajuste de comunicação do presidente Lula também colabora para o mercado conseguir respirar", avalia. Essa correção no discurso, diz, incorporou um pouco mais do que foi visto nos últimos dias, na esteira do anúncio do Ministério da Fazenda de que identificou R$ 25,9 bilhões em despesas passíveis de corte no Orçamento de 2025.

No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos fechava cerca de 8 pontos-base, para 4,276%, e a de 2 anos cedia mais de 10 pontos, para 4,60%. O relatório de emprego americano trouxe criação de 206 mil vagas em junho, acima da mediana das estimativas de 200 mil, mas o mercado olhou mais para as revisões em baixa nos meses anteriores, para o aumento da taxa de desemprego para 4,1% e para a desaceleração dos salários.

Outro estímulo para a devolução de prêmios na curva é o retorno do dólar para perto de R$ 5,45, o que traz algum alívio aos temores de contaminação para a inflação, embora este seja considerado um nível ainda elevado. A moeda à vista encerrou em R$ 5,4623.


Encontrou algum erro? Entre em contato