Dólar cai pelo 6º pregão e fecha abaixo de R$ 5,45; Ibovespa segue rali externo e sobe quase 1%

Por Agência Estado 13/08/2024 - 18:21

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Com mínima a R$ 5,4485 nos minutos finais de negócios, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 13, em queda de 0,85%, cotado a R$ 5,4495 - menor valor de fechamento desde 16 de julho (R$ 5,4294). Foi o sexto pregão seguido de baixa da moeda americana, que já acumula desvalorização de 3,64% em agosto. Do nível de R$ 5,7414 no fechamento do último dia 5 para cá, o dólar já caiu 5,08%.

Mais uma vez, a moeda brasileira apresentou o melhor desempenho entre seus pares latino-americanos. Divisas emergentes ganharam força após a leitura benigna da inflação americana no atacado chancelar a expectativa de início de um processo de redução de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) a partir de setembro.

Com a safra mais recente de indicadores, temores de uma recessão nos EUA, que levaram a picos de aversão ao risco no início do mês, deram lugar à perspectiva de uma desaceleração gradual da atividade combinada com um processo de desinflação. Tal quadro pode ser confirmado pela divulgação, amanhã, da inflação ao consumidor nos EUA em julho.

"Os preços ao produtor nos EUA mostram um cenário desinflacionário e mais benigno, o que reforça a ideia de que o Banco Central americano possa começar a reduzir juros na próxima reunião, em setembro. Com isso, o dólar estende hoje as perdas das últimas sessões", afirma a economista chefe Latin América da Coface, Patrícia Krause.

Em baixa desde o início dos negócios, o dólar à vista chegou a esboçar uma reação no início da tarde, quando reduziu bastante as perdas e chegou a se aproximar da estabilidade, diante das tensões geopolítica no Oriente Médio. Mas houve alívio logo em seguida com a notícia de que o Irã deve postergar um eventual ataque a Israel, em retaliação a morte de líder do grupo palestino Hamas em solo iraniano.

Operadores afirmam que fatores técnicos, como uma pausa no desmonte de operações de carry trade, em razão da estabilização do iene, ajudam a explicar o fôlego extra do real nos últimos dias. A moeda brasileira foi a que mais sofreu durante o rali da divisa japonesa. Há também a percepção de retirada de prêmios de risco associados à condução da política monetária e relatos de entrada de capital estrangeiro para a bolsa doméstica.

Em audiência hoje na Câmara dos Deputados, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltou que os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) estão alinhados na busca pelo centro da meta da inflação. Em alusão à fala recente do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, Campos Neto disse que houve declarações de "diretores apontados por esse governo" reiterando que, se for necessário, o BC vai elevar os juros.

O economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, observa que, além da interrupção do desmonte de carry trade com divisas de países de juros altos, o comportamento recente do real reflete tom mais duro adotado pelo Banco Central, em especial do diretor de Política Monetária.

"Galípolo reiterou que as decisões do Copom serão técnicas, independentemente de quem estiver no comando da instituição. Com um Copom técnico e unido, Selic alta e desvalorização do iene, o real teve uma oportunidade significativa de recuperar", afirma Galhardo, para quem as expectativas de inflação ainda altas, "com deterioração dos núcleos", tendem a manter "a Selic elevada por pelo menos mais sete meses".

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que há alguns dias a curva de juros no Brasil está reduzindo sua inclinação, com as taxas longas caindo, enquanto os juros futuros curtos avançam. "Isso mostra a credibilidade do Banco Central, mostrando que se for necessário vai subir os juros", afirma.

Ibovespa

Os dados sobre a inflação ao produtor dos Estados Unidos, que ficaram abaixo do previsto, aumentaram a aposta de um corte de 0,50 ponto porcentual nos juros do país em setembro e beneficiaram os mercados de ações lá fora e aqui dentro, dando fôlego ao Ibovespa. O preço relativamente baixo dos papéis brasileiros também entra nesta conta e favorece a retomada.

O principal índice da B3 subiu pelo sexto pregão seguido e voltou à faixa dos 132 mil pontos, vista pela última vez no início de janeiro deste ano. O avanço foi puxado principalmente pelas ações do setor financeiro e sem a ajuda da Vale (-0,44%) e da Petrobras (ON -0,52% e PN -0,62%), que foram prejudicadas pela queda nos preços das commodities.

Alexandre Aguiar Bastos, head de equity research da Acura Capital, ressalta que os bancos apresentaram bons resultados no segundo trimestre, e que isso, associado ao fato de o mercado brasileiro estar operando abaixo da média histórica sob a métrica de preço em relação ao lucro, acaba atraindo investidores aos papéis do setor.

"Para a bolsa voltar à média histórica de preço sobre lucro, excluindo Vale e Petrobras, precisa subir uns 20%", acrescentou.

As ações de bancos também receberam impulso após o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), dizer que o governo não incluirá a hipótese de aumento de impostos no relatório do projeto que trata da compensação financeira à desoneração da folha de pagamentos.

No mês passado, a Fazenda sugeriu incluir um gatilho para que, caso as medidas apresentadas pelo Senado fossem insuficientes para cobrir o rombo deixado pela desoneração, haveria um aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) como compensação. O aumento seria para todos os setores, mas afetaria particularmente bancos, que já pagam uma alíquota mais alta (21%, contra 16% para outras instituições financeiras e 9% para os demais setores).

O setor avançou em bloco, com Bradesco ON (+1,14%) e PN (+1,22%), Unit do Santander Brasil (+1,17%), Itaú PN (+2,83%), Banco do Brasil ON (+1,29%) e Unit do BTG Pactual (+1,54%).

O Ibovespa fechou em alta de 0,98%, a 132.397,97 pontos, perto da máxima da sessão, de 132.430 pontos (+1,00%).

Juros

Os juro futuros encerraram a terça-feira em queda, principalmente as taxas longas, reflexo da melhora do apetite global pelo risco. A inflação no atacado nos Estados Unidos abaixo do consenso fortaleceu as apostas sobre o corte de juros pelo Federal Reserve. O câmbio, variável considerada chave para a reancoragem das expectativas de inflação, ajudou, com o dólar fechando abaixo dos R$ 5,45.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,730%, de 10,748% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,54% para 11,38%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,33%, de 11,54% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 cedia a 11,40%, de 11,59%.

Pela manhã, as taxas longas já estavam em baixa, mas as curtas e intermediárias mostravam maior resistência, operando em leve alta ou perto da estabilidade, ainda em função das declarações "hawkish" do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, dadas ontem, e da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que trouxe crescimento do volume muito acima da mediana das estimativas. À tarde, a ponta longa ampliou o ritmo de queda e as demais também passaram a cair.

O economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, atribui o comportamento das taxas nesta sessão a um conjunto de fatores. "É uma combinação do ambiente externo, dado o encaminhamento do corte de juros pelo Fed, com a redução dos ruídos locais", afirma. Ele também vê contribuição importante para a redução dos níveis de inclinação da sinalização recente do Banco Central, que, diz Fonseca, "está avisando que vai subir juros em setembro".

Galípolo, na sexta-feira, esclareceu que vê o balanço de risco da inflação como assimétrico e ontem disse que uma alta da Selic "está na mesa do Copom", que está na dependência dos dados. Hoje, ele participou hoje de evento no Rio, mas não abordou a política monetária.

Na audiência da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Campos Neto hoje reiterou o compromisso com o cumprimento das metas de inflação, reconheceu que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa e citou o debate sobre a relação entre mercado de trabalho apertado e inflação de serviços. "Até agora a gente tem sido capaz de ter um crescimento maior do que o esperado, com números de mão de obra muito bons, muito satisfatórios, ainda sem uma pressão muito grande na parte de serviços, mas a gente começa a ver que tem uma pressão", disse.

A pesquisa de serviços de junho, divulgada pelo IBGE, corrobora a percepção de atividade fortalecida no segundo trimestre, mesmo com a revisão em baixa em meses anteriores. O volume cresceu 1,7% em junho,atingindo a máxima da série histórica e superando com folga o consenso de aumento de 0,9%.

Do exterior, o alívio veio do índice de preços ao produtor (PPI, em inglês) nos Estados Unidos, que subiu 0,1% em julho, ante consenso de 0,2%. O número animou o mercado para o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês), amanhã, e para o qual as projeções são de 0,3% (mensal) e 3,0% (anual). Os rendimentos dos Treasuries recuaram com a perspectiva crescente de alívio da política monetária americana, com a taxa da T-Note de dez anos rodando abaixo de 3,85% no fim da tarde.

Segundo Fonseca, da Reag, o lado fiscal também colaborou hoje para o desenho da curva, com a perspectiva de apreciação ainda nesta semana das pautas que estão no Senado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que pretende votar nos próximos dias os projetos de lei da renegociação das dívidas dos Estados com a União e da desoneração da folha de pagamentos.


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