Dólar cai pelo 5º pregão seguido e fecha abaixo de R$ 5,50 à espera do Fed; Ibovespa cai 0,12%

Por Agência Estado 17/09/2024 - 18:12

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O dólar emendou o quinto pregão consecutivo de baixa no mercado doméstico nesta terça-feira, 17, e voltou a fechar abaixo da linha de R$ 5,50 pela primeira vez desde fins de agosto. Segundo operadores, o real parece se beneficiar da perspectiva de ampliação do diferencial de juros interno e externo, na véspera da "super quarta", que deve resultar em alta da Selic e redução da taxa básica americana.

Apesar do avanço do retorno dos Treasuries e do dólar em relação a moedas fortes, na esteira de dados acima do esperado de varejo e indústria EUA, as divisas latino-americanas de países de juros altos se apreciaram, com destaque para os pesos colombiano e mexicano.

O real e seus pares, que apanharam bastante recentemente com desmonte de operações de "carry trade" desencadeado pelo rali do iene, parecem pegar carona na perspectiva de que o Federal Reserve vai adotar uma postura mais agressiva, inaugurando um processo de alívio monetário com corte da taxa básica em 50 pontos-base.

Com mínima a R$ 5,4790 à tarde, o dólar à vista fechou em baixa de 0,41%, cotado a R$ 5,4882 - menor valor de fechamento de 23 de agosto (R$ 5,4794). Após a queda nas últimas cinco sessões, a moeda americana já acumula desvalorização de 2,61% em setembro.

O chefe da mesa de câmbio do banco C6, Felipe Garcia, observa que cresceu nos últimos dias a percepção de que o Fed pode optar amanhã por corte de 50 pontos-base na taxa básica, na tentativa de conciliar a continuidade do processo de desinflação com um pouso suave da economia americana.

"Isso tem ajudado o real e algumas moedas emergentes que oferecem um carry mais alto. O peso mexicano e o real vêm se destacando ao longo do mês, depois de terem se depreciado bastante", afirma Garcia, que vê possibilidade de o real se apreciar mais com possível aumento de diferencial de juros, apesar do ceticismo com o cumprimento da meta fiscal e o enfraquecimento da atividade na China, que deprime preços de commodities.

Monitoramento do CME Group mostra que as chances de o Fed anunciar amanhã um aumento dos juros em 50 pontos-base se mantêm acima de 60% e chegaram a se aproximar de 70% a despeito de dados mais fortes da economia americana. As vendas no varejo dos EUA subiram 0,1% em agosto na comparação com julho, quando a expectativa era de queda de 0,2%. Já a produção industrial avançou 0,8% em julho, superando as estimativas, que apontavam crescimento de 0,2% no período.

Por aqui, 61 de 53 casas ouvidas por Projeções Broadcast apostam que o Comitê de Política Monetária (Copom) promoverá uma elevação da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano. Seis casas preveem manutenção do juro em 10,5% no próximo encontro, enquanto outras duas apostam em elevação de 0,50 ponto na Selic.

O time do BTG Pactual, comando pelo economista-chefe do banco e ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, prevê que a taxa Selic atinja 12% em janeiro de 2025. Embora um aumento da diferencial de juros interno e externo possa ser benéfico para o real, os economistas do banco observam, em relatório, que uma queda mais forte do dólar por aqui virá apenas com medidas para estancar o crescimento do endividamento público.

"Um novo ciclo de aumento da taxa de juros sem sinais fortes do compromisso do governo com o controle do crescimento da despesa obrigatória pode ocasionar o efeito adverso de aumentar ainda mais o risco fiscal, com crescimento mais rápido da dívida pública e taxa de juros mais elevada por um período mais longo, que pode nos levar a um crescimento menor em 2025 e 2026", afirma o time do BTG Pactual.

Ibovespa

Em baixa após dois leves ganhos consecutivos, o Ibovespa convergiu hoje para os 134 mil pontos, nível que prevaleceu em sete dos últimos oito fechamentos desde 6 de setembro, vindo então dos 136,5 mil no dia anterior. O longo intervalo de restrita variação tende a terminar amanhã, com a deliberação sobre juros nos Estados Unidos e no Brasil.

Em Nova York, os ajustes nesta véspera de decisão foram também contidos, entre -0,04% (Dow Jones) e +0,20% (Nasdaq) no fechamento. Por aqui, o Ibovespa caiu 0,12%, aos 134.960,19 pontos, com giro limitado a R$ 16,3 bilhões na sessão. Na semana, o índice sobe 0,06% e, no mês, cede 0,77%. No ano, avança 0,58%.

Na B3, as principais blue chips se alinharam em baixa, com destaque para Petrobras (ON -0,61%, PN -0,46%) na contramão do sinal do petróleo na sessão. Com a retomada de tensões no Oriente Médio após a explosão de pagers, nesta terça-feira, usados por membros do Hezbollah no Líbano - em ataque possivelmente cibernético atribuído a Israel -, tanto o Brent como o WTI seguem acima de US$ 70 por barril.

Entre os carros-chefes do Ibovespa, Vale (ON -0,48%) também cedeu terreno, assim como os grandes bancos, com Bradesco (ON -0,72%, PN -0,65%) à frente. Na ponta perdedora do índice, CSN Mineração (-2,82%), Braskem (-1,87%) e Embraer (-1,61%). No lado oposto, Azul (+13,84%), Petz (+3,74%) e Cogna (+2,76%). Da mínima à máxima do dia - correspondente ao nível da abertura -, o Ibovespa oscilou hoje menos de mil pontos, na faixa de 134.180,34 a 135.118,07.

"Todos estão no aguardo das decisões do Fed e do Copom. Fed pode vir amanhã mais agressivo, com um corte de 0,50 ponto porcentual, o que animaria as bolsas americanas. Por aqui, há uma incerteza maior para o Copom: há até quem espere manutenção da Selic, e aposta majoritária de aumento de 0,25% amanhã. Expectativa por juro doméstico maior manteve Bolsa em baixa hoje, puxada por Vale e Petrobras. Por outro lado, o dólar seguiu em queda com essa expectativa por Selic maior, que atrai fluxo externo especialmente para a renda fixa com a arbitragem de juros", aponta Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.

O juro básico da economia brasileira deve encerrar janeiro de 2025 a 12% ao ano, segundo estimativa dos economistas do BTG Pactual, liderados pelo economista-chefe do banco, Mansueto Almeida. A informação consta do BTG Pactual Macro Research de setembro, reporta o jornalista Francisco Carlos de Assis, do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

"Setembro se inicia com a expectativa pelo início de novo ciclo de aumento da taxa de juros, nas próximas quatro reuniões do Banco Central, o que na nossa visão significa aumento da taxa Selic para 12% ao ano em janeiro do próximo ano. Sem dúvida, é notícia ruim, dado que o Brasil vai iniciar novo ciclo de aumento de juros em momento no qual os EUA cortarão sua taxa básica e a União Europeia deve continuar seu ciclo de afrouxamento monetário", observam os economistas do BTG.

A expectativa por mais juros no Brasil e por menos juros nos Estados Unidos tem resultado em apreciação do real frente ao dólar nas últimas sessões: na mínima de hoje, a moeda americana foi negociada à vista a R$ 5,4790 e, no fechamento, mostrava baixa de 0,41%, a R$ 5,4882.

"Mercado voltou a operar em compasso de espera para a 'super quarta' de decisões sobre juros, nos EUA e no Brasil. Cresceu a expectativa por um corte maior do Fed amanhã, de 0,50 ponto porcentual prevalecendo sobre a aposta de 0,25 ponto. Se vier mesmo esse corte maior, de meio ponto amanhã, estimula fluxos para mercados emergentes como o Brasil. Apesar de recuperação em alguns papéis, a Bolsa aqui se mantém lateralizada à espera dessas definições do Fed e do Copom", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

"Amanhã tende a ser um dia bem volátil, então o mercado opta por reduzir risco enquanto as decisões sobre juros não vêm", diz Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, acrescentando que o "fluxo vendedor" prevaleceu hoje, ainda que discretamente na Bolsa, enquanto a curva de juros, assim como o real, mostra avanço na expectativa por um diferencial maior entre as taxas de referência do Fed e do BC brasileiro.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira com viés de baixa, após serem pressionados para cima ao longo da manhã pelo ambiente externo e pelo risco do cenário fiscal. O alívio coincidiu com a melhora do câmbio, com o dólar se firmando abaixo de R$ 5,50, também na segunda etapa, que não teve maiores novidades no noticiário que justificassem o abandono da cautela.

Os rendimentos dos Treasuries seguiram em alta até o fim do dia, em meio a dados de atividade surpreendentes, mas que não chegaram a abalar a confiança do mercado no corte de juros em 0,5 ponto porcentual pelo Fed amanhã. As apostas para o Copom também desta quarta-feira seguem consolidadas numa alta de 0,25 ponto.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 10,945%, de 10,961% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,78%, de 11,83% ontem. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,81% (11,85% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2029 ficou estável em 11,96%.

Nas mesas de renda fixa, o exterior foi visto hoje como o grande driver para os negócios. As taxas começaram o dia rondando a estabilidade, mas passaram a avançar em meados da manhã, acompanhando a reação da curva dos Treasuries a dados acima do esperado do varejo e produção industrial nos EUA, em dia também de leilão de títulos de 20 anos com demanda abaixo da média. No fim, da tarde, o yield da T-Note de dez anos estava em 3,645%.

À tarde, ainda que a curva americana tenha seguido sob pressão, o avanço das taxas locais perdeu fôlego, aparentemente em linha com a descida do dólar até a casa dos R$ 5,48. O nível atual da moeda americana é bem mais baixo do que no último Copom (R$ 5,65) e inferior também aos R$ 5,55 do cenário de referência citado no comunicado de julho, para o qual a projeção de inflação no horizonte relevante (primeiro trimestre de 2026) era de 3,4%, com trajetória para juros extraída da pesquisa Focus à época. O dólar à vista encerrou em R$ 5,4882.

Se a melhora do câmbio não é capaz de dissipar as apostas em aperto da Selic, ao menos endossa a ideia de que a dose de 0,25 ponto estaria de bom tamanho para começar o ciclo. Não são poucos os economistas que acreditam que pelos fundamentos e, principalmente em razão do corte de juros nos EUA, o Copom deveria manter a Selic a 10,50%. Mas, após a comunicação difusa desde a última reunião, vai aumentar a taxa para fortalecer a credibilidade da instituição antes de Gabriel Galípolo, cuja indicação ainda tem de passar pelo Senado, assumir o comando.

Neste grupo está a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese. "Eles vão subir muito por conta da promessa que estão fazendo de subir. Mas necessidade não teria. Temos uma taxa de juros absolutamente restritiva, juros real elevadíssimos, num momento em que o mercado de trabalho começa a dar alguns sinais de que pode entrar em uma inflexão", afirma, lembrando ainda que a inflação corrente não "está ruim". Por isso, o Copom deve optar por um aumento mínimo, de 0,25 ponto, que já será ainda mais difícil de justificar se o Fed aplicar uma dose maior, de 0,5 ponto, na redução do juro amanhã. "Nesse caso, eu não queria estar na pele do Copom", diz Veronese.

Um fator que deve ser citado no balanço de riscos do Copom é o cenário fiscal, que vem piorando desde que a seca que assolou o País provocou uma série de incêndios, demandando ação mais efetiva do governo federal, o que colocou à mesa a possibilidade de socorro via uso de crédito extraordinário.

"O planejamento e a execução fiscal do governo têm efeitos diretos e indiretos sobre a decisão da taxa de juros no Brasil. No curto prazo, o principal impacto se dá na taxa de câmbio, por meio do prêmio de risco embutido nos juros pagos pelos títulos brasileiros", destacam Renato Chaim e Tarik Barat, da PRX Capital, que preveem alta de 0,25 ponto na Selic amanhã, de forma a levar a uma transição suave, e, assim, dar mais tempo de adaptação aos agentes econômicos.


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