CRATERAS NA MUNDAÚ

Cavidades geradas por minas podem causar grave desastre ecológico

Afundamento do solo que atinge cinco bairros também se manifesta sob a lagoa
Por Tamara Albuquerque 04/07/2021 - 12:21
Atualização: 14/07/2021 - 09:48

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Divulgação
Equipes vistoriam a lagoa Mundaú, em Maceió
Equipes vistoriam a lagoa Mundaú, em Maceió

A tragédia sem precedentes resultante da extração do sal-gema na capital alagoana, praticada por 40 anos pela petroquímica Braskem, não se restringe aos bairros do Mutange, Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro e Farol. Essas localidades tiveram de ser evacuadas para não colocar em risco a vida de mais de 40 mil pessoas que residiam sob um solo que está afundando. A tragédia, porém, também se estende por mais de 4Km de solo submerso da Lagoa Mundaú e que pode ceder literalmente, causando o maior desastre ambiental já registrado no País.

Ainda é prematuro falar sobre os efeitos da abertura de crateras (dolinas) na Lagoa Mundaú, geradas pelo rebaixamento topográfico nas minas de sal-gema. Entretanto, o fenômeno já tem tirado o sono e merecido tempo de estudos do atual coordenador da Defesa Civil de Maceió, Aberlado Nobre.

Ele considera que o efeito da mineração com maior criticidade na área da Lagoa Mundaú será o dolinamento, quando as cavidades, que são os espaços vazios que surgiram após a extração do sal-gema, chegarem até a superfície da lagoa. A subsidiência ou afundamento do solo provocado pela queda do teto das minas está ocorrendo não só nos bairros condenados, onde rachaduras engolem parte de vias e imóveis. Na Lagoa Mundaú o fenômeno não é fácil de ser visualizado, mas segue o mesmo princípio.

Sucção das águas

O fato é que, com a ocorrência das dolinas, parte do volume das águas da Mundaú serão sugadas para as crateras. Ao final do preenchimento dessas cavidades, os fluídos existentes nelas subirão à superfície, se misturando às águas e com grande potencial para alterar o equilíbrio ambiental, explica Nobre. Vale lembrar que mudanças na salinização das águas, por exemplo, podem matar o sururu e outras espécies que garantem a sobrevivência de pescadores e marisqueiras e a existência da vegetação de mangue.

Abelardo Nobre explica que somente no final de 2023 será possível ter um diagnóstico seguro e amplo sobre o comportamento dessas cavidades nas 35 minas abertas pela Braskem em áreas urbanas de Maceió e na lagoa. O diagnóstico acontecerá pela comparação de dados fornecidos por sismógrafos e outros equipamentos instalados para monitoramento do solo. Entretanto, alerta o técnico, não é possível prever quando as dolinas devem surgir.


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