DESASTRE AMBIENTAL
Conar abre representação ética contra a Braskem por participação no BBB23
Conselho vai julgar anúncios veiculados pela mineradora e que dizem "incentivar um futuro sustentável"
Em resposta à Carta Aberta dos alagoanos contra a participação da Braskem como patrocinadora do programa BBB da rede Globo com publicidade e merchandising falaciosos em defesa do meio ambiente, logo ela que destruiu parte significativa de Maceió, o CONAR - Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária, enviou correspondência à plataforma Change.org (que hospeda a Carta Aberta) informando que no dia 3 de fevereiro "foi instaurada a representação ética n.0025/23, tendo como objeto os anúncios 'A Braskem entrou no BBB23 para
incentivar um futuro cada vez mais sustentável', divulgados por redes sociais e merchandising.
O órgão informou ainda que está tomando as medidas cabíveis em relação à reclamação da população alagoana sobre o patrocínio milionário pago pela mineradora ao programa da Globo. Trata-se de mais uma vitória dos cidadãos alagoanos contra a atitude desrespeitosa da empresa, para com Alagoas e todo o seu povo, em especial, os maceioenses.
O Conar fiscaliza a ética da propaganda comercial veiculada no Brasil. Ele segue as disposições do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária e tem como principal objetivo evitar a veiculação de anúncios e campanhas de conteúdo enganoso, ofensivo, abusivo ou que desrespeitam, entre outros, a leal concorrência entre anunciantes.
A entidade não tem "poder de polícia", não multa, não pode mandar devolver dinheiro ao consumidor ou mandar trocar mercadorias. O foco é a ética na publicidade e, neste campo, ela pode evitar excessos e corrigir desvios e deficiências constatadas nos anúncios, como ocorre em relação à Braskem.
A Carta Aberta dos Alagoanos que pediu o banimento da Braskem do programa BBB23 foi enviada à Rede Globo, ao Conar, aos anunciantes do Big Brother 23, à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao Ministério Público Federal (MPF), ao Fórum Social Mundial e à nação. Confira parte do documento, que recebeu adesão de milhares de pessoas no país:
A Braskem entrou no lugar das Lojas Americanas como uma das principais patrocinadoras do programa Big Brother Brasil, da Rede Globo. Seu intuito é se vender como uma empresa preocupada com o meio ambiente e as pessoas, o famoso “greenwashing”. Tudo mentira! Sua participação no programa é, na verdade, um enorme tapa na cara de mais de 3,5 milhões de alagoanos que, indignados, sofrem de perto os efeitos do megadesastre que a empresa cometeu em Maceió, destruindo literalmente mais de 3 milhões de m² da cidade e afetando vários setores, como a educação. Publicidade Continua após a publicidade
O crime cometido destroçou 5 bairros, inutilizou 15 mil residências, obrigou o fechamento de mais de 5 mil empresas, causou a perda de 10 mil empregos e desvalorizou outros 17 mil imóveis no entorno da área devastada, causando um prejuízo estimado em muito mais de 15 bilhões de reais. Que, até agora – quase 5 anos após o desastre – nunca foi pago a Maceió, a cidade-vítima e a Alagoas, cujas autoridades assistem anômicas, prevaricantes e acoitadamente ao circo de horrores que a empresa está tocando em nossa cidade.
Maceió é hoje uma cidade sitiada pela Braskem!
E o que dizer às famílias enlutadas de mais de uma dezena de pessoas que, desesperadas pelo descaso e abandono da empresa, foram levados ao ato extremo do suicídio? E para as centenas de cidadãos e cidadãs que viram suas vidas – de repente – serem afetadas por traumas psicológicos até hoje prevalecentes? A angústia dos maceioenses é real, concreta, doída e solitária, abandonados que fomos pelas autoridades. Todas.
O patrocínio do Big Brother se trata de mais um deboche da empresa para com um milhão de maceioenses que há décadas são obrigados a conviver com uma indústria inimiga do seu meio ambiente e da cidade. Uma cidade que não apenas foi destruída pela Braskem mas que também enfrenta outra ameaça latente ainda maior DENTRO de Maceió, que assombra cotidianamente 20% da nossa população e que pode, no limite, levar a óbito centenas de milhares de maceioenses: a presença de uma indústria química de grande porte em pleno centro da Capital! Não queremos que se repita aqui outra Bhopal!
Nossa cidade pede socorro! Não se enganem os turistas e demais brasileiros com o nosso lindo litoral e as belas praias. A menos de 800 metros dali, a destruição reina absoluta e a responsável por isso tem nome: Braskem.
Nós estamos aproveitando o momento do Big Brother Brasil para chamar a atenção da drástica realidade que Maceió enfrenta, coisa que até agora, quase 5 anos após o megadesastre, não conseguimos, sufocados pelo poder econômico da empresa que impede nosso livre acesso à mídia, interditando a opinião pública do país de saber de fato o que se passa por aqui.
O Big Brother Brasil é a casa mais vigiada do país, mas quem vigia uma das empresas mais controversas no discurso e condenada na Operação Lava Jato? Que critérios a Rede Globo tem, além do financeiro, para aceitar um patrocínio de uma empresa com o passivo moral e ambiental da Braskem? E o que acham os demais anunciantes, ao verem suas marcas, duramente consolidadas, sendo associadas a uma empresa incivilizada, que destruiu grande parte de uma capital, afetou centenas de milhares de vidas e os sonhos da gente de Maceió? E que até agora se nega até a pagar o que deve por seus malfeitos? E a Rede Globo, que tanto se gaba do seu Compliance, o que vai fazer? Ou o dinheiro vai falar mais alto que vidas perdidas e uma cidade encurralada por uma empresa multinacional?
Alertamos também à Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, sempre tão ciosa das coisas da Amazônia, que existe um megaproblema a duas horas de avião de Brasília que ela precisa conhecer e nele intervir, bem como ao Ministério Público Federal em Brasília e aos tribunais superiores, pois já não temos mais a quem apelar, vez que o judiciário local e o federal em Alagoas negam qualquer pleito contra os abusos praticados pela empresa, sabe-se lá por que...