BAIRROS AFUNDANDO
Água brota do solo e invade casas de moradores do Bom Parto
São 4 mil pessoas que exigem inclusão em mapa de risco.jpeg)
Moradores do Bom Parto, às margens da Lagoa Mundaú, em Maceió, acampam em forma de protesto na entrada da Braskem situada no Mutange. O manifesto é para chamar a atenção da petroquímica e do poder público. Famílias se sentem inseguras de morarem no local, uma vez que parte dos moradores do Bom Parto foram desalojados devido ao afundamento do solo, resultado de décadas de extração do sal-gema pela Braskem.
Ocorre que o Bom Parto foi dividido, literalmente. Parte dos moradores partiram e parte dos moradores ainda continua no local testemunhando o abandono do poder público, enchentes, rachaduras em suas casas. Agora, segundo Fernando Lima, de 62 anos, líder comunitário, a água está brotando do solo das residências com o afundamento. “Nos consideramos ilhados. O comércio fechou, não temos escola por perto para as crianças.
As gestantes precisam ir até o posto da Pitanguinha fazer pré-natal”, contou Lima. Segundo ele, cerca de 1.800 famílias, em torno de 4 mil pessoas, aguardam serem incluídas na área de risco e ressarcidas. “Metade da rua foi desalojada e metade não. Querem fazer a gente acreditar que estamos seguros aqui”, disse. O local vive o auge da insalubridade. Esgoto correndo a céu aberto, lixo pelas ruas e casas tapadas e destruídas.
Nas antigas residências, mais lixos e pertences daqueles que já foram embora. “Parte dos que receberam a indenização teve sorte e conseguiu comprar uma casa. Outros estão morando de aluguel. Quem morava aqui se mudou para a parte alta da cidade ou foi para Rio Largo”, contou. “Estamos acampados e fazendo revezamento. Só iremos sair quando formos atendidos em conjunto com a Prefeitura e o Ministério Público Federal (MPF). Isso porque quando a reunião é apenas com um deles, fica o jogo de empurra”. A dona de casa Maria de Fátima da Silva, de 46 anos, teme pela segurança e pela saúde da comunidade.
“Perdemos a conta de quantas cobras matamos aqui nos escombros”, contou ao EXTRA. No local, segundo moradores, sete pessoas morreram no ano passado de leptospirose, a doença infecciosa febril aguda que resulta da exposição direta ou indireta a urina de animais (principalmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira. O mecânico Eliezer dos Santos, de 50 anos, mora há 40 anos no Bom Parto. “Vi o bairro sendo construído, agora estou vendo a destruição dele”, lamenta. O EXTRA já evidenciou o impasse do Bom Parto.
Em agosto, reportagem expôs que o afundamento do solo ampliaria a área de risco no bairro. A matéria teve como base estudo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Camila Prates. O avanço da área de risco no Bom Parto é apontado no estudo e detalha a dimensão da mais grave tragédia urbana já registrada no Brasil, segundo a representante do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Ufal, professora Camila Prates, que participou da reunião no MPE. Os detalhes, contudo, até agora não foram tornados públicos pelos órgãos envolvidos na mitigação do problema, entre os quais: ministérios Público Federal (MPF) e Estadual, Defensoria Pública da União (DPU) e Prefeitura de Maceió.
Em protesto realizado anteriormente por moradores, o MPF explicou que o mapa de risco que aponta a área afetada diretamente pelo afundamento do solo causado pela exploração de sal-gema pela Braskem é um documento técnico, elaborado por técnicos da Defesa Civil, com apoio da Defesa Civil Nacional e da CPRM. Em nota à reportagem, a Defesa Civil de Maceió informa que monitora ininterruptamente as áreas afetadas pelo processo de afundamento do solo, bem como as áreas de borda do Mapa de Linhas e Ações Prioritárias (V4), nos bairros adjacentes, como a região do Bom Parto e Flexais.
“O monitoramento é feito por meio de equipamentos que medem em milímetros a movimentação do solo e por visitas in loco, que acontecem periodicamente, com vistorias do Comitê de Acompanhamento Técnico. Até o momento não foram encontrados dados que culminem na atualização e ampliação do mapa. O órgão continua à disposição para ouvir a população e esclarecer possíveis dúvidas”, finalizou.
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