ENTREVISTA
Alagoano diz que perdeu R$ 2 mi em jogos de azar online:"mexe com a cabeça"
Jamerson Pimentel fez empréstimos, usou cartões e vendeu casa e carro para sustentar o vícioAnsiedade, frustração, desânimo. Assim tem sido a rotina de Jamerson Pimentel nos últimos dois anos, quando começou a operar em jogos de azar online. Em entrevista ao EXTRA, o alagoano contou que perdeu cerca de R$ 2 milhões para o vício.
"Eu acho que eu fui um dos mais afetados aqui em Alagoas, talvez no Brasil. É realmente uma loucura que só sabe quem passa. Não é fácil de parar, é algo muito tentador. [O vício] me abalou muito, tanto financeiramente quanto fisicamente e mentalmente", desabafa.
Jamerson conta que começou em 8 de maio de 2022 com R$ 50. Desde então, ele passou a anotar todos os valores gastos em planilhas.
"Usei o dinheiro que eu tinha e o que eu nem tinha. Fiz empréstimos, crédito pessoal com banco, passava o cartão de crédito, que tinha um limite alto. Acabei sujando meu nome. Só em bancos eu devo mais de R$ 500 mil. Eu tinha um carro que tive que vender. Comprei um carro inferior, tive que vender também. Uma casa que eu tava comprando, tive que vender. Isso tudo acabou totalizando esses quase R$ 2 milhões de perda", lembra.
O jovem conta que operava em várias plataformas, dentre elas, o "jogo do tigrinho", onde ele perdeu cerca de R$ 80 mil. Segundo ele, todas elas têm a intenção de "iludir" os usuários: "faz você ganhar e depois você perde dobrado", diz.
"Já tive situações de com R$ 1 mil, fazer R$ 10 mil e com R$ 10 mil fazer R$ 70 mil. O jogo dá essa ilusão, para pensar que o jogo é capaz de ganhar. É manipulado, algoritmo bem projetado para mexer com a sua cabeça, como mexeu com a minha. Depois eu acabei perdendo e ficava muito chateado. Eu botava mais dinheiro, ficava querendo recuperar e quando fui olhar, estava essa bola de neve", relata.
A luta contra o vício
Jamerson conta que percebeu que tinha desenvolvido um vício quando tentava parar de jogar, mas não conseguia e acabava voltando a operar nas plataformas. "Eu sempre fui um cara organizado, planejado, trabalhador. A partir do momento que me vi perdendo minhas coisas e botando no jogo, vi que não é uma coisa normal, vi que era um vício", lamenta.
Superar o vício não está sendo fácil. Jamerson conta que a esposa mudou as senhas das contas bancárias para que ele não tivesse acesso. Além disso, ela ficou responsável pelo financeiro da loja de manutenção de computadores de Jamerson. "Tudo que entrava, eu acabava botando no jogo", diz.
Por causa das consequências do vício, Jamerson conta que ficou com o psicológico abalado e que, inclusive, pensou em suicídio.
"Eu pretendo ir a um psicólogo porque isso me abalou muito psicologicamente. Eu nunca tive ansiedade, palpitações. Hoje eu venho sofrendo, fico nervoso, choro às vezes do nada. [O vício] me deixou muito mal, sem conseguir trabalhar, sem conseguir comer. No decorrer desses dois anos eu já venho lutando contra isso. Paro três meses, quatro meses, e volto a jogar".
O que são jogos de azar online?
O game de cassino online, do tipo caça-níquel, promete ganhos em dinheiro. Por ir contra a Lei de Contravenções Penais, que considera crime os jogos de azar em que o ganho ou a perda dependem da sorte, o jogo é considerado ilegal. É diferente das plataformas legalizadas de apostas, conhecidas como 'bets'.
Na internet, influenciadores prometem prêmios em valores altos para quem começa a jogar. Porém, autoridades afirmam que é ilusão, mas muitas pessoas pelo Brasil estão caindo nessa.
Uma operação deflagrada pela Polícia Civil de Alagoas este mês cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão contra influenciadores digitais suspeitos de divulgar e incentivar seguidores a jogar em plataformas de jogos de azar online. Foram apreendidos bens como carros de luxo, uma lancha, celulares, dinheiro e passaporte.
"Muitos influenciadores alagoanos estavam cometendo crime de estelionato ao incentivar seus seguidores a praticar esse tipo de jogo que tem trazido uma verdadeira ruína nas finanças das pessoas", disse o delegado Lucímério Campos, da Delegacia de Estelionato.
Para Jamerson, a operação é um passo importante. "Os influenciadores divulgam, mas não jogam. O jogo é fraudulento e os influenciadores sabem que aquilo ali não presta, não era para eles estarem divulgando. Acabam nem ligando para as pessoas que vão ser enganadas".