LITERATURA

Jorge Oliveira lança livros em Maceió e Lisboa

Jornalista e cineasta está de partida para Portugal, onde mora
Por Assessoria 23/07/2024 - 11:36

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Jorge Oliveira é escritor e cineasta
Jorge Oliveira é escritor e cineasta

O jornalista e cineasta Jorge Oliveira lança na segunda-feira, dia 29, seus dois recentes livros: Muito prazer eu sou a vida e Arena de Sangue. O primeiro conta as suas histórias de jornalismo nos últimos 60 anos, e o segundo revela fatos inéditos da morte do senador Kairala, do Acre, atingido com um tiro na barriga pelo senador alagoano Arnon de Melo, pai do Collor.

Jorge Oliveira está de partida para Portugal, onde mora. Lá, em Lisboa, lançar outro livro: Boca do Inferno, onde conta a história dos ditadores Salazar, de Portugal, e Getúlio, do Brasil, dois tiranos que aterrorizaram a vida de seus povos durante décadas de torturas e maus tratos aos seus opositores.


Descrição do Arena de Sangue

Alagoas, presente!

Desde o início da primeira República que Alagoas, o segundo menor estado da federação , não desgruda do poder como carrapato. É como se o Estado e seus personagens tivessem reservado um camarote para ter uma visão privilegiada dos acontecimentos políticos do país, gerenciando, em alguns momentos, os rumos da nação.

Alagoas e seus figurantes se fundem quando o assunto é política. O estado nunca se afastou do poder desde Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, que iniciaram a República. Esteve à frente do complô para matar Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República; mandou no Estado Novo com os Góes Monteiro; marcou presença na redemocratização do país com Collor de Mello eleito presidente pelo voto direto pós ditadura e, mais recentemente, dominou o parlamento com Renan Calheiros e Aldo Rebelo respectivamente à frente das presidências do Senado e da Câmara dos Deputados .Tudo isto sem falar no libertador Zumbi dos Palmares e no movimento literário liderado pelos escritores Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Lêdo Ivo e Aurélio Buarque de Holanda entre outros.

Sociólogos arriscam a dizer que, por ser um estado pequeno, desde cedo as famílias acostumaram-se a intervir em brigas de vizinhos para evitar conflitos que normalmente acabavam em tragédia , quando não eram resolvidas no gogó. As pessoas aprenderam, então, com o tempo, o jeito manhoso da convivência e do diálogo entre as cercas e os muros que separam os vizinhos em conflito. Palpites à parte, a verdade é que não existem, nos últimos dois séculos, acontecimentos políticos importantes em que um alagoano enxerido não estivesse no olho do furacão.

Dezembro de 1963 não foge à regra . Naquele ano, os holofotes se voltaram para Alagoas quando o senador Arnon de Mello, pai do Collor, atentou contra a vida do conterrâneo Silvestre Péricles de Góis Monteiro no plenário do Senado Federal e matou, com com um tiro, o senador Kairala, do Acre.

Essa história eu reconstituo neste Plenário de Sangue corrigindo, inclusive, informações erradas até os dias de hoje.

Neste livro, José, de 59 anos anos, um dos quatro filhos de Kairala, desmente a informação da presença da sua mãe no plenário, 60 anos depois do confronto. Os historiadores repetem o erro até hoje.

Além de corrigir fatos históricos, revelo também como o jornalista Roberto Marinho tinha uma relação íntima com Arnon, além da parceria comercial no Rio. E porque Marinho ajudou Collor, filho de Arnon, a chegar à presidência em 1989, contra Lula e Brizola, como se estivesse a pagar uma dívida de gratidão com o pai do candidato.

Descrição do Muito prazer eu sou a vida

Quando deixei o casebre do pistoleiro que foi contratado por um político alagoano para me matar no Rio, em 1980, já refeito do susto, e na certeza de que estava vivo, despedi-me do sicário que me ofereceu a mão leve, falsa, para cumprimentá-lo, com esta frase: "Muito prazer eu sou a vida”.

E agora, 44 anos depois desse encontro macabro, me recuperando de um AVC desde o final de 2022, escrevo sobre a vida, pois sobre a morte eu contei em outro livro, já na terceira edição, o “Muito prazer eu sou a morte”. Neste, editado e lançado em Portugal, descrevo como morri pelas mãos do jagunço alagoano que, num ato de comiseração, desistiu da empreitada, mas contou o plano da emboscada, que reconstitui no livro. Mal sabia o danado que me dava a chance de escrever dois livros: um sobre a morte e este agora sobre a vida, duas linhas que correm paralelas, mas só uma delas, a da vida, é interrompida, deixando um rastro de saudade ao finalizar o ciclo da existência às vezes de maneira repentina, brusca e cruel.

Como já morri na primeira história fico à vontade ou melhor, ressuscitado, para contar nesta agora os prazeres da vida e as histórias das minhas reportagens enquanto vou driblando a morte personificada nesta velha encarquilhada, rabugenta que ronda as madrugadas à procura de almas perdidas. Não sei até quando vou me esconder desta senhora inconveniente. Sei, contudo, que um dia inevitavelmente serei tragado por ela. Já estive muito perto das garras afiadas dessa ave de rapina traiçoeira , mas ela vacilou e eu escapuli em pleno voo para cair surfando no mar cintilante da Praia do Francês.

É como sobrevivente, pela segunda vez, que conto essas histórias de amizades na minha trajetória de 60 anos de profissão, de vida saudável, bem humorada e irreverente dos meus setenta e cinco anos anos de vida neste décimo primeiro livro. Ao longo de todo esse tempo fica a lição: vale a pena transgredir e confrontar o sistema quando a causa é nobre e justa, como você vai ver se seguir na leitura deste livro.

No “Muito prazer eu sou a morte” passei por momentos de tensão até dar o ponto final no livro quando o meu corpo, enfim, foi cremado e as cinzas levadas numa urna para o mar em Maceió pelos meus filhos e a Ana, minha companheira. Agora, com “Muito prazer eu sou a vida”, compenso o chororô dos órfãos e da viúva com histórias às vezes alegre das minhas aventuras como repórter e das noites boêmias em Maceió, no Rio, Brasília e Portugal nas mesas dos bares que escolhi para os meus encontros e convivência com os amigos.

Em alguns dos episódios sou personagem; em outros coadjuvante. Com amigos mais diversos como os jornalistas, artistas, músicos, poetas, políticos, boêmios e vagabundos e vagabundas da noite vivenciei as boas coisas da vida. E evidentemente ao lado dos meus queridos comunistas momentos inesquecíveis e mais saborosos da vida mundana, política e profissional.

Este livro não tem a pretensão de ensinar ninguém a viver, mas o de morrer bem, tranquilo, com saúde e dignidade desde que se mantenha saudável e amante da vida para ter a prerrogativa de subir sem mágoa, feliz da vida que, de tão curta, a gente nem se dá conta que se vai tão cedo. Afinal de contas, morrer saudável não é coisa só de gente rica.

Boa sorte caro leitor/ leitora enquanto pode driblar essa bruxa feia, desengonçada, desdentada de cara esburacada e engelhada; de mortalha surrada e foice de boia fria .

Xô senhora, descola, vá bater em outra porta se está tão ansiosa à procura de uma alma perdida.

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