Efeito Braskem

Relatório técnico mostra agravamento da instabilidade no solo de bairros

Rua Marquês de Abrantes, Conjunto Padre Pinho e Petrópolis precisam de intervenções urgentes
Por Redação 10/12/2024 - 12:53
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Mobilização dos representantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem
Mobilização dos representantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem

Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em parceria com a Defesa Civil de Maceió e outros órgãos, revelou graves problemas de instabilidade do solo e surgência (nascente) de água nas comunidades dos bairros Chã de Bebedouro e Petrópolis. A análise, realizada entre março e agosto de 2024, apontou riscos severos que ameaçam diretamente a segurança de centenas de famílias, segundo Maurício Sarmento, integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem.

Na Rua Marquês de Abrantes e no Conjunto Padre Pinho, constatou-se a ocorrência de subsidência e colapso do solo, além de surgências de água que afetam tanto o interior quanto o exterior das residências. Esses fenômenos são agravados pelas características do solo, como a presença de camadas orgânicas e argilosas de baixa resistência, inadequadas para construções civis.

O relatório, afirma Sarmento, já apresenta consequências críticas em função da instabilidade e surgimento de água no solo: rachaduras e fendas em casas, afundamento de pisos e alagamentos recorrentes. A presença de água corrente em áreas residenciais, aparentemente limpa, é um dos problemas mais frequentes e tem gerado transtornos diários para os moradores, especialmente durante o período chuvoso.

No Conjunto Padre Pinho, moradores relataram que precisam instalar sistemas improvisados de drenagem dentro das residências para escoar a água. A insegurança estrutural levou algumas famílias a abandonar suas casas, enquanto outras permanecem por falta de alternativas, convivendo com o medo constante de desabamentos.

Flexais

Além das comunidades já mencionadas, os moradores dos Flexais de Bebedouro enfrentam desafios ainda mais alarmantes. Vivendo em isolamento social e econômico, eles precisam transitar diariamente por áreas de extremo risco para chegar a suas casas. A falta de alternativas seguras amplia o impacto da negligência histórica no planejamento urbano e evidencia a necessidade de intervenções que vão além das medidas emergenciais, segundo avaliação dos moradores, enfatizada pelo relatório.

A precariedade das vias de acesso e a proximidade com áreas marcadas por subsidência e instabilidade intensificam a vulnerabilidade dessas famílias. Muitos relatam que, além do medo constante, enfrentam dificuldades de deslocamento em períodos chuvosos, quando a área se torna praticamente intransitável.

Crítica à Defesa Civil de Maceió

A gravidade da situação não é novidade para a Defesa Civil de Maceió. O órgão foi informado oficialmente sobre os riscos desde agosto de 2024, conforme apontado pelo estudo, mas nenhuma medida concreta foi tomada para proteger as famílias afetadas. "Essa inércia é um reflexo de uma gestão que prioriza respostas tardias, ao invés de atuar preventivamente. Mesmo diante de relatórios técnicos claros e recomendações urgentes, a Defesa Civil não adotou as ações emergenciais necessárias, expondo centenas de pessoas a riscos desnecessários", critica Sarmento.

A ausência de providências reforça a sensação de abandono enfrentada pelos moradores dos Flexais, que lidam com rachaduras, deslizamentos e o medo constante de desastres. "É inaceitável que a resposta seja apenas reativa, quando vidas estão em jogo e o tempo é um fator crucial", comenta.

Recomendações do Relatório

Classificada como área de risco muito alto, a região demanda ações emergenciais. O relatório recomenda:

• A retirada imediata das populações das áreas mais críticas;
• A atualização do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR);
• Estudos geológicos e hidrogeológicos mais detalhados, utilizando técnicas como sondagens elétricas e monitoramento sísmico.

Embora a prefeitura tenha iniciado obras de contenção em algumas áreas, o estudo enfatiza que a complexidade dos problemas requer intervenções mais abrangentes. A articulação entre governos, comunidade e especialistas é essencial para evitar um desastre de maiores proporções.

"A situação dos Flexais e demais comunidades expõe a fragilidade das políticas de ocupação urbana e a ausência de uma abordagem integrada para garantir a segurança e a dignidade das populações afetadas. Além da realocação imediata para locais seguros, é imprescindível assegurar indenizações justas e o direito a moradia digna", afirma o morador, uma das lideranças da comunidade.

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