arte e cultura
Bailarina alagoana brilha em NY e prepara retorno aos palcos de Maceió
Aos 19 anos, artista conquista espaço na prestigiada companhia José Limón
Aos 19 anos, a bailarina alagoana Júlia Torres vive um dos momentos mais marcantes de sua trajetória artística: dançar nos palcos de Nova York, onde atua como trainee da renomada companhia José Limón, referência mundial na dança moderna. Natural de Maceió, Júlia saiu de casa antes mesmo de concluir o ensino médio e, desde então, tem transformado sua paixão pela arte em caminho profissional.
“Saí faltando um mês para terminar o ensino médio e sem nem ter atingido a maioridade”, lembra a jovem, em entrevista exclusiva ao G1-AL. Morando atualmente na cidade que nunca dorme, ela compartilha experiências sobre a vida no exterior, os desafios da distância e sua intensa relação com a dança.
Júlia começou a dançar aos quatro anos, por iniciativa própria. “Meu pai trabalha com luta e minha mãe foi obrigada a fazer balé quando criança, então não havia muito incentivo no começo. Mas insisti”, conta. Desde então, não parou mais. Além do balé clássico, ela treinou ginástica rítmica, fez jazz dance, dança moderna e contemporânea, participou de workshops e festivais e construiu uma base sólida que a levou para o mundo.
“Acredito que a minha preparação foi a própria vida. Desde muito nova, sabia que queria trabalhar com dança. Sempre tive o desejo de conhecer novos lugares, e sabia que, infelizmente, o cenário da dança em Maceió ainda é muito limitado”, afirma.
No currículo, a alagoana acumula passagens por festivais como Passo de Arte (SP), Festival de Dança de Joinville (SC), Festival Internacional de Goiás (GO) e YAGP Brasil. Foi justamente através desses eventos que Júlia conquistou bolsas, convites para competições e ingressou em programas nos EUA e Europa. Entre os destaques está sua participação nas finais mundiais do Valentina Kozlova e do Youth America Grand Prix, ambos realizados em Nova York.
Antes de desembarcar nos Estados Unidos, Júlia morou por três meses em Osasco (SP), onde aperfeiçoou sua técnica. De lá, foi convidada para o programa pré-profissional do Sanctuary of The Arts, em Miami, onde viveu por um ano. Agora, em Nova York, integra a José Limón Dance Foundation. “É uma honra estar aprendendo essa técnica aqui. Percebo que minhas vivências formam um caminho com muito sentido”, diz.
Além da carreira artística, ela também estuda Filosofia em uma graduação online. “A dança está no estúdio, mas se expande para tudo que é vivo. Existe uma potência em se movimentar que carrega a história de quem dança. A arte não cabe em caixinhas limitantes”, ressalta.
Comida nordestina e saudade da família
Vivendo longe de casa, a bailarina se apega às raízes. “Na segunda vez que fui para Miami, metade da minha mala de mão era de cuscuz”, conta, aos risos. A saudade, segundo ela, é uma constante: “Estou longe da minha língua, da mata atlântica, do sol de torrar… Aprendi a dar mais valor às coisas simples.”
Júlia também reconhece a importância da família em sua formação. “Tenho muita conexão com meu pai, minha mãe e meu irmão. Eles sempre me incentivaram, mesmo sem perceber. O afeto que recebi no cotidiano é o que carrego comigo. É por essa lente que enxergo a arte”, diz.
Retorno a Maceió
No próximo mês, Júlia retorna à capital alagoana para participar da terceira edição do Festival Guerreiro de Dança, onde se apresentará e ministrará um workshop de dança contemporânea. A apresentação está marcada para o dia 24 de maio. “Dançar em Maceió depois de quase dois anos será especial. Subir ao palco é uma mistura de responsabilidade e prazer. Espero que o público se conecte com o movimento de mudança que trago comigo. Vai ser um momento de muito amor”, conclui.