novo estudo

“A Defesa Civil mentiu”: protestos marcam audiência sobre Caso Braskem

Movimentos sociais acusam autoridades de omissão e denunciam acordos políticos
Por Redação 08/08/2025 - 13:06
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Lua Amorim
Encontro foi marcado por manifestos
Encontro foi marcado por manifestos

O encerramento da audiência pública sobre os danos provocados pela mineração de sal-gema da Braskem, realizada nesta sexta-feira, 8, no auditório João Sampaio, no Cesmac, bairro do Farol, foi marcado por protestos. Moradores e movimentos sociais entoaram gritos de “A Defesa Civil mentiu” e acusaram que “o inimigo do caso Braskem são engravatados que vivem em gabinetes de políticos fazendo acordos”.

O encontro apresentou um novo estudo técnico-científico elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e especialistas internacionais. O levantamento aponta que o solo da região minerada segue em deslocamento e alerta para a necessidade urgente de revisão do mapa de criticidade, especialmente nas áreas urbanas mais impactadas.

O professor Marcos Eduardo Hartwig, coordenador da pesquisa, ressaltou que a Estação de Tratamento de Água Cardoso, próxima à barragem do Catolé e ao bairro do Bebedouro, está localizada em área crítica, com deslocamentos verticais e horizontais que já comprometem a estrutura do imóvel. Imagens apresentadas durante a audiência mostram rachaduras e vazamentos na adutora, mesmo após reparos com concreto. Fissurômetros instalados no local indicam deslocamentos anormais na estrutura.

 

O estudo também revelou que, na área dos Flexais, o deslocamento horizontal chega a 10 milímetros por ano — o dobro do limite estabelecido no atual mapa de criticidade, que é de 5 milímetros anuais. “Os dados mostram que os Flexais têm movimento tanto vertical quanto horizontal e a causa desse movimento aponta para o problema da solução de sal, mas nada disso exclui também o efeito de outros fatores intrínsecos da geologia e da dinâmica do local”, explicou.

Diante dos dados, o pesquisador sugere revisar imediatamente os mapas de criticidade. Também recomenda o monitoramento contínuo e a criação de um “mapa de nível de danos” para as periferias das zonas afetadas. 

A abertura da audiência foi marcada pelo desabafo do defensor público Ricardo Melro, recentemente afastado do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública do Estado de Alagoas, que atuava diretamente na defesa das vítimas da Braskem. Diante do público, Melro agradeceu à família, presente no auditório, e rebateu críticas à sua atuação. “Ciência não tem lado”, afirmou, ao defender a imparcialidade do estudo e da atuação do núcleo. 

“Todas as ações foram idealizadas, construídas e conduzidas por mim com o auxílio dos colegas afastados do núcleo. Diariamente trocávamos ideias, não por obrigação, mas para fazer com que a Justiça fosse alcançada”, declarou. O afastamento de Melro gerou reação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (Muvb), que divulgou nota de solidariedade e criticou a decisão. 

Segundo a entidade, o núcleo comandado por ele era o único espaço institucional que efetivamente ouvia as vítimas e enfrentava os interesses da mineradora. Para o movimento, a desmobilização da equipe representou enfraquecimento da atuação institucional e favorecimento direto à Braskem.


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