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Dólar e Real, relação de altos e baixos
O Ibovespa acompanhou de longe o desempenho de Nova York, positivo, ao longo desta terça-feira, 14. À tarde, com os índices de NY mostrando em certo momento menos fôlego, a referência da B3 neutralizou os ganhos moderados e fechou abaixo da estabilidade, com leve perda de 0,18%, a 102.932,38 pontos, bem mais perto da mínima (102.482,23), do fim da tarde, do que da máxima (104.153,48) do dia. Assim, após ter esboçado reação mais cedo, o Ibovespa emendou o quarto recuo, ainda no menor nível desde 16 de dezembro (102.855,70) para o fechamento. Hoje, saiu de abertura aos 103.121,36, na véspera do vencimento de opções sobre o Ibovespa.
Na semana, o índice da B3 perde 0,66%, no mês cai 1,91% e no ano cede 6,20%. Após recuperação moderada em algumas recentes sessões, o giro financeiro voltou a se enfraquecer hoje, a R$ 22,8 bilhões, o que favorece a volatilidade.
Com a agenda doméstica relativamente esvaziada nesta terça-feira, o destaque do dia veio ainda pela manhã, dos Estados Unidos: a leitura de fevereiro sobre a inflação ao consumidor (CPI), que ganhou importância extra desde o fim da semana passada, com a quebra do banco SVB. O colapso foi visto como um sinal de que a taxa de juros, já em nível elevado pelo padrão histórico do país, começa a deixar sequelas em bancos regionais, como o Silicon Valley Bank, bem ativo no fluxo de recursos ao segmento de startups, muito presente na Califórnia.
Se, por um lado, dificuldades pontuais no sistema de crédito americano contribuem para reforçar a cautela de que os Estados Unidos estejam, de fato, mais perto de uma recessão, por outro, quando se olha o copo meio cheio, a percepção é de que o Federal Reserve seja levado a segurar a mão quanto ao espaço à frente para novos aumentos de juros.
"O dado desta manhã confirmou a desaceleração da inflação ao consumidor conforme a expectativa, após uma segunda-feira de forte alívio nos rendimentos dos Treasuries", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Ela acrescenta que, com os sinais de fragilidade vistos em parte do sistema bancário, o mercado tem alterado apostas para os juros americanos, com o entendimento de que o Fed será "menos agressivo" daqui para frente, em sua missão de fazer com que a inflação retorne à meta de 2% ao ano.
"O índice de preços ao consumidor nos EUA apresentou inflação de 0,4% em fevereiro em comparação a janeiro, em linha com as expectativas do mercado. No acumulado em 12 meses, a alta é de 6,0%, abaixo dos 6,3% de janeiro", aponta em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. "A situação para o Fed é complicada, mas ainda é cedo para compreender a real dimensão dos problemas envolvendo o SVB sobre o sistema financeiro norte-americano", acrescenta. Ele observa que "o cenário inflacionário é preocupante, pois ainda não dá sinais claros de convergência para a meta de longo prazo."
Na B3, em dia de forte queda do petróleo, em baixa superior a 4%, as ações de Petrobras (ON -1,78%, PN também -1,78%) não tiveram como ajudar Vale (ON +0,91%) e as siderúrgicas (à exceção de CSN ON, -2,12%) a carregar o Ibovespa nesta terça-feira, moderadamente negativa para os papéis de grandes bancos, exceto Santander Brasil (Unit +0,34%). Na ponta do Ibovespa, destaque para Embraer (+3,88%), Raízen (+3,44%), 3R Petroleum (+3,07%) e Azul (+2,83%). No lado oposto, Natura (-17,49%), após o balanço do quarto trimestre, à frente de CVC (-7,89%) e Rede D'Or (-5,07%).
O índice de consumo, que reúne ações com exposição à economia doméstica, fechou o dia em baixa de 1,48%, enquanto o de materiais básicos, que concentra as ações de commodities, expostas à demanda externa, subiu 0,31%. "Os juros altos são um freio para a economia, é possível que o crescimento do PIB fique abaixo de 1% este ano. E isso se reflete na Bolsa, especialmente nas ações do setor de varejo. Fica a questão se os juros (Selic) estão em nível adequado, com o freio que se coloca sobre a produção e o consumo", observa Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
Dólar
O dólar encerrou a sessão desta terça-feira, 14, cotado a R$ 5,2574, em queda de 0,22%, devolvendo uma pequena parte da alta de 1,66% ontem, quando foi impulsionado pela aversão ao risco no exterior diante de temores de recessão nos EUA após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB). O respiro do real hoje foi atribuído a ajuste fino de posições, em meio a um ambiente de recuperação de divisas emergentes pares da moeda brasileira, como peso chileno e mexicano. A banda de oscilação foi pequena, de pouco mais de quatro centavos entre a mínima (R$ 5,2217) e a máxima (R$ 5,2620).
Operadores notam que agentes adotam uma postura cautelosa e evitam apostas mais contundentes, à espera de sinais mais claros sobre a extensão dos estragos no sistema financeiro americano e a postura do Federal Reserve na condução da política monetária. Após o mergulho de ontem, as taxas dos Treasuries avançaram hoje, com o retorno da T-note de 2 anos subindo quase 6% e voltando a superar 4,20%. Termômetro do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY, que ontem caiu quase 1%, hoje alternou hoje entre ligeiras altas e baixas.
"O mercado de câmbio devolveu um pouco da alta de ontem, mas continua bastante pressionado, porque existe muita incerteza. Os investidores não conseguem visualizar o que o Fed vai fazer com os juros após os problemas nos bancos e dados pouco conclusivos de atividade e inflação nos EUA", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Divulgado pela manhã, o índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA marcou alta de 0,4% em fevereiro, em linha com a mediana da pesquisa Projeções Broadcast. Já o núcleo do índice, que exclui preços mais voláteis de energia alimentos, subiu 0,6%, superando as expectativas (+0,4%). Em tese, esse quadro desautorizaria uma pausa o processo de alta de juros do Fed aventado desde ontem por analistas e parte do mercado.
Monitoramento da CME Group mostra que as chances de alta da taxa básica em 25 pontos-base na reunião do BC americano no próximo dia 22 estão por volta de 70%. Outros 30% são para manutenção dos Fed Funds. Pela manhã, logo após a divulgação do CPI de fevereiro, as apostas em elevação da taxa em 25 pontos-base chegaram a atingir 90%.
"Na semana passada, apostava-se até numa alta maior do que 25 pontos na reunião do Fed. Houve uma mudança de pensamento, para alta de 25 pontos ou até pausa. Essa indefinição para trajetória dos juros deixa os investidores em compasso de espera", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. "As divisas emergentes sofreram muito ontem e o real acompanhou. Mesmo voltando um pouco hoje, o dólar ainda continua operando em uma banda elevada, ao redor de R$ 5,25, por conta do ambiente externo".
No front doméstico, as expectativas giram em torno da espera pela divulgação do novo arcabouço fiscal. Após reunião ministerial no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou hoje que o presidente Lula pediu que seus assessores marquem reunião ainda nesta semana para que a equipe econômica apresente sua proposta para controle das contas públicas.
Juros
Os juros futuros fecharam a sessão em alta, mais expressiva nos vencimentos de longo prazo. O movimento esteve alinhado ao comportamento dos rendimentos dos Treasuries, que também subiram, e no fim da sessão pesaram ainda riscos fiscais. Em ambos os casos, os mercados devolveram parte do tombo de ontem, quando os receios de que o colapso de dois bancos norte-americanos pudesse gerar uma crise sistêmica provocaram aumento nas apostas de alívio monetário tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Nesta terça-feira, a percepção de que a questão bancária aparentemente está sob controle e a leitura negativa da abertura do índice de preços ao consumidor (CPI em inglês) puxaram uma correção nas curvas globais.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,07%, de 13,00% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,16% para 12,24%. O DI para janeiro de 2027 fechou em 12,61%, de 12,45% ontem, e a do DI janeiro de 2029, em 13,03%, de 12,84%.
Em dia de agenda esvaziada no Brasil, o exterior continuou ditando a dinâmica dos mercados locais, com as taxas dos DIs em alta durante todo o dia. Os yields dos títulos do Tesouro nos Estados Unidos subiam com mais força pela manhã. O da T-note de 2 anos chegou a apresentar maior alta diária em quase 14 anos durante a sessão, mas no fim da tarde estava em 4,21%, de 3,988% ontem. O da T-Note de dez anos projetava 3,67%, de 3,54% ontem.
O CPI subiu 0,4% em fevereiro, no índice cheio, em linha com o consenso, mas a alta de 0,5% do núcleo superou a mediana das estimativas (0,4%). Analistas citaram a abertura ruim, com preços de serviços rodando em níveis elevados. O economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, acredita que, diante do discurso "hawkish" do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na semana passada, o CPI de hoje daria espaço para o mercado voltar a apostar numa postura mais conservadora da instituição na reunião de política monetária na semana que vem. "Não fosse o ruído do SVB, o mercado voltaria a precificar aumento de 50 pontos", disse.
A aposta de manutenção do juros nos EUA perdeu espaço e o mercado voltou a colocar mais fichas na possibilidade de um aumento de 25 pontos. No Brasil, o quadro de apostas para a política monetária pouco se alterou em relação ao que se via ontem. A precificação de Selic para março segue apontando praticamente 100% de chance de manutenção nos 13,75% e para maio, em torno de 30% de probabilidade de queda de 25 pontos, contra 70% de estabilidade. Para o fim de 2023, a curva projeta taxa de 12,30%, de 12,25% ontem.
O noticiário em torno o arcabouço fiscal ficou no radar, mas evoluiu pouco nesta terça. No capítulo de hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou a proposta ao vice-presidente Geraldo Alckmin, e disse que vai levá-la ao presidente Lula ainda nesta semana. A ideia do governo é anunciar a nova regra antes da viagem de Lula à China no fim da semana que vem, quem sabe até mesmo antes do Copom do dia 22.
No fim da sessão, as taxas longas renovaram máximas, com o mercado monitorando declarações de autoridades que trouxeram alguma cautela na área fiscal. O diretor financeiro do BNDES, Alexandre Abreu, mostrou preocupação com redução da carteira de crédito da instituição, que segundo ele, era de 7% do PIB em 2008 e em 2022, de 5%. "Se continuar assim, em algum momento vamos ter problema de resultado", afirmou Abreu. Mais cedo, Lula, em reunião com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), prometia trabalhar para que bancos públicos emprestem dinheiro aos municípios.
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