BOLSA DE VALORES

Ibovespa acompanha NY e cai 0,26%

Dólar fecha praticamente estável a R$ 4,9722
Por Estadão Conteúdo 24/05/2023 - 04:30
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

O Ibovespa piorou à tarde e não conseguiu reter a linha dos 111 mil pontos - vista no intradia pela terceira sessão seguida -, tendo lutado em parte do dia contra o sinal externo, negativo, mirando nos melhores momentos o maior nível de encerramento desde 1º de fevereiro, então aos 112 mil.

Hoje, entre piso de 109.713,06 (-0,45%) e máxima de 111.324,70 pontos, o índice acompanhou Nova York nas mínimas do dia no meio da tarde, e fechou em baixa de 0,26%, aos 109.928,53 pontos. O giro subiu a R$ 24,3 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cede agora 0,74%, mas ainda avança 5,26% no mês e 0,18% no ano.

Entre as ações de maior peso e liquidez, as da Petrobras (ON +2,08%, PN +2,46%) e dos grandes bancos (BB ON +2,35%, Bradesco PN +0,82%) foram o contraponto ao efeito de Vale (ON -2,26%) na sessão, refletindo queda de quase 3% do minério na China (Dalian), no limiar de US$ 100 por tonelada, em meio a dúvidas sobre a demanda.

Na ponta do índice, destaque para Suzano (+1,51%), além de Banco do Brasil e das duas ações da Petrobras, que lideraram os ganhos no fechamento. No canto oposto, BRF (-4,91%), com o "estado de emergência zoossanitária" em todo o território nacional por 180 dias, por gripe aviária, o que afetou também as ações de outros frigoríficos, como Marfrig (-5,18%), maior queda na sessão. Destaque também na ponta perdedora para CVC (-5,00%), Usiminas (-4,46%) e Magazine Luiza (-3,68%).

O "estado de emergência" foi decretado ontem pelo Ministério da Agricultura para monitorar casos de infecção pelo vírus da influenza aviária no Brasil. A notícia havia sido antecipada pelo Broadcast Agro, antes da publicação da decisão em edição extra do Diário Oficial da União.

Por outro lado, o bom desempenho de Petrobras, hoje, decorreu do avanço acima de 1% para os preços da commodity, com declarações do ministro de Energia da Arábia Saudita. De acordo com a Reuters, o ministro saudita, Abdulaziz bin Salman, endureceu nesta terça-feira o tom contra os vendedores a descoberto no mercado de petróleo, e os aconselhou a ficarem atentos, poucos dias antes da reunião da Opep+.

Os vendedores a descoberto são investidores que apostam na queda dos preços do petróleo e, portanto, quando um movimento inesperado da Opep+ para cortar a produção causa um rali, são forçados a fechar posições com prejuízo. Os membros do cartel do petróleo devem se reunir em 4 de junho em Viena, Áustria.

Mesmo com apoio do petróleo e das ações da Petrobras nesta terça-feira, o Ibovespa emendou o segundo dia negativo, em grau moderado em ambas as sessões. Ainda assim, foi a primeira vez desde o início do mês, nas sessões dos dias 2 e 3 de maio, que o índice colhe dois reveses consecutivos.

De forma geral, "o sentimento externo continua negativo com a demora para definição do aumento do teto da dívida americana, e hoje também com índices de atividade mais fracos (PMI) na zona do euro - exceção positiva para o Japão, onde não chegou a fazer preço, na Ásia", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

"Aqui, existe uma percepção mais favorável sobre o fiscal, com a expectativa de que o arcabouço avance com celeridade, sem grandes transformações no texto. Passando o arcabouço, a expectativa se volta para a reforma tributária, e para uma agenda que possa melhorar o segundo semestre", acrescenta o analista, observando que a recente moderação na curva de juros doméstica contribuiu para o apetite por ações na B3.

"O fechamento da curva de juros e a recuperação do mercado acionário têm embutido o otimismo para a aprovação do arcabouço. As sondagens mostram avanço do apoio na Câmara, em uma votação que exige maioria absoluta", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Dólar


Após trocas de sinal ao longo do dia, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 23, em alta de 0,05%, cotado a R$ 4,9722. Apesar da instabilidade, a divisa oscilou apenas cerca de quatro centavos entre a máxima (R$ 4,9938) e a mínima (R$ 4,9510). O vaivém das cotações ao foi atribuído por operadores a um jogo de forças opostas que influenciaram a formação da taxa de câmbio.

Lá fora, a moeda americana ganhou força na comparação com pares e a maioria das divisas emergentes, em meio a dados fracos na Europa e ao ambiente de cautela diante das negociações para ampliação do teto da dívida americana. No front interno, a perspectiva de uma aprovação célere da proposta de novo arcabouço fiscal, talvez com regras mais duras, e relatos de fluxo davam certo suporte ao real, que operou descolado do exterior em boa parte da tarde.

No dia seguinte ao encontro entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, representantes dos dois lados voltaram a se reunir para tentar avançar nas negociações sobre o teto da dívida. McCarthy teria informado a correligionários que a Casa Branca e a oposição ainda não estão "nem perto" de um acordo. Republicanos também questionam a estimativa da secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, de que o país pode ficar sem recursos para honrar obrigações financeiras já em 1º de junho se não houver resolução para o caso.

À tarde, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que Biden e McCarthy concordaram que um acordo tem de ser fechado antes do prazo estipulado pelo Tesouro americano. Ela ressaltou, porém, que não é possível fornecer uma data para resolução do impasse, que pode ocorrer ainda hoje.

"O dólar segue forte no exterior com essa indefinição sobre o teto da dívida e as expectativas para a política monetária americana. Dirigentes do Fed Federal Reserve estão endossando a necessidade de uma postura dura por conta da inflação ainda alta", afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, que vê o real com uma boa performance. "De três dias para cá, estamos com desempenho melhor que dos nossos pares. O mercado está comprando a ideia de que o arcabouço caminha para ser aprovado rapidamente e com mais restrições".

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, observa que, além da questão do teto da dívida, o mercado assumiu uma postura mais defensiva hoje em razão da divulgação, amanhã, da ata da reunião de política monetária do Fed em maio. "O mercado está bastante cauteloso por conta desses temas. E o dólar acabou de lado no fim do pregão".

Em Brasília, as atenções estiveram voltadas a encontro entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os presidentes da Câmara, Artur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco. Também estavam presentes os relatores do marco fiscal, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), e da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Lira distribui afagos a Haddad e Pacheco, ao propagar sintonia entre as duas Casas do Congresso, e disse que reunião de hoje "é simbólica" para aprovação "célere" do arcabouço. Haddad se disse "bem impressionado" com consenso em torno da agenda econômica e afirmou que é possível ter não apenas o arcabouço fiscal como a reforma tributária aprovados "ainda neste semestre". Com o mercado já fechado, Cajado disse que o texto será votado na Câmara ainda hoje.

Rolha, da Venice Investimentos, vê o dólar operando, no curto prazo, em uma banda entre R$ 4,90 e R$ 5,10, mas ressalta que há um viés de baixa, que pode se acentuar caso haja aprovação rápida do arcabouço e a moeda americana experimente um desafogo no exterior. "A taxa de juro deve continuar beneficiando o real. Campos Neto tem falado duro e um corte da Selic deve vir somente em setembro. Tem espaço para o dólar testar o nível de R$ 4,80"

Juros


Os juros futuros fecharam a terça-feira em baixa, respaldados pelo otimismo sobre a votação do novo arcabouço fiscal na Câmara Sinais de confiança emitidos pelos principais atores envolvidos na tramitação do texto em Brasília e o placar elaborado pelo Estadão/Broadcast indicando aumento na projeção de votos favoráveis deram apoio à devolução de prêmios, acelerada a partir do meio da tarde com a virada para baixo nos juros dos Treasuries.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,30%, de 13,313% no ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2025 fechou a 11,68%, de 11,73% ontem. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 11,20%, de 11,33% ontem, e a taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 11,65% para 11,51%.

Até meados da manhã, houve certa volatilidade na curva, com o mercado reticente em montar posições firmes na ponta vendedora, aguardando o desfecho das reuniões que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria com os presidentes da Câmara e Senado e com o relator da proposta do arcabouço, Claudio Cajado (PP-BA). Além disso, o avanço dos rendimentos dos Treasuries segurava o alívio nas taxas locais.

Ainda na etapa matutina o mercado começou a melhorar, quando o Placar do Arcabouço mostrou avanço nos votos a favor de 140 ontem para 149 - no fim da tarde eram 150. Cajado, à GloboNews, disse acreditar que o placar a favor possa ficar igual ou maior ao registrado na votação sobre a urgência do texto na Câmara, que foi de 367 votos. A aprovação do novo marco fiscal precisa dos votos de 257 deputados.

Na medida em que as autoridades manifestavam otimismo e alinhamento sobre o texto no decorrer do dia, a queda das taxas foi se consolidando, especialmente nos vértices longos, mesmo em meio à dúvida sobre se a votação seria hoje ou ficaria para amanhã. No fim da tarde, o relator informou que a votação será ainda hoje. Haddad disse que a reunião "foi boa porque firmou entendimento para votar o marco fiscal e a reforma tributária". O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), destacou a interlocução do Executivo com o Congresso, a harmonia entre as duas Casas.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, disse que o mercado buscou se antecipar à votação que, na sua avaliação, deve ser "expressiva", "com boa margem". Para ele, se concretizado este cenário, fica a impressão de que o governo deve ter amplo apoio também para outras matérias. "O que não é bem verdade. Deve haver dificuldades, por exemplo, em pautas como a redução de benefícios fiscais", previu.

Em boa parte do dia, a confiança na votação do arcabouço favoreceu não só os juros como também o real, que era destaque entre seus pares, com o dólar aqui operando na contramão da alta no exterior. À tarde, porém, a moeda americana zerou as perdas com o aumento da aversão ao risco lá fora. Os DIs, contudo, não só se mantiveram em baixa, como ampliaram a queda, na medida em que os yields dos Treasuries passaram a cair.

A melhora da percepção fiscal abriu espaço para o Tesouro colocar lote grande de NTN-B no leilão desta terça-feira. A instituição vendeu integralmente a oferta de 2,5 milhões de títulos, com risco para o mercado de 21% maior do que na semana passada, segundo a Warren Rena. Especialista em renda fixa, Alexandre Cabral destacou no Twitter que o volume, de R$ 10,685 bilhões, foi o maior do ano e que o papel para 15/8/2028 foi o único dos três ofertados com taxa em alta em relação ao último leilão. "Muito bom leilão. Tesouro está conseguindo emitir sem esforço", observou.

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