TRANSTORNO COMPULSIVO

Vício em compras online: psicóloga explica principais sintomas e como tratá-los

Shopee, Amazon, Mercado Livre, Shein são apenas algumas das centenas de plataformas
Por Maria Salésia 22/07/2023 - 10:00
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Shopee Brasil
Centro de distribuição da Shopee
Centro de distribuição da Shopee

Esta semana, a plataforma de compras on-line, Shopee, abriu um centro de distribuição em Maceió e, principalmente, quem é viciado em compras online comemora, pois a logística irá proporcionar mais agilidade nas entregas. Tal euforia abre a discussão sobre um problema que, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% da população mundial sofre. A oniomania, compulsão por compras, também chamada de consumismo compulsivo e Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC). Pessoas com esse transtorno compram sem necessidade, só pela sensação de prazer imediato.

relacionadas_esquerdaEspecialistas afirmam que a pessoa deve ligar o alerta ao perceber que perdeu o controle sobre o ato de compra ou até mesmo saber que as tentativas de reduzir ou controlar as compras foram frustradas.Há quem compre para lidar com angústias ou outra emoção negativa, quem crie mentiras para encobrir o descontrole com compras e até prejuízos social, profissional e familiar. É que essas são as principais características de indivíduos que apresentam o transtorno de compra compulsiva.


Especialista em transtorno compulsivo, a psicóloga Regiane Simões, explica que nosso cérebro trabalha com economia de energia. Então, tudo que constitui atalhos ou facilidades acaba sendo muito tentador. Logo, disse, as pessoas que têm hábito de compra vão se sentir mais satisfeitas nessa necessidade de comprar, porque tudo vai ser um pouco mais rápido do que o que elas estavam acostumadas a esperar. E isso, se torna um grande gargalo para as pessoas que sofrem com a compulsão por compras.

Segundo Simões, em geral, o hábito de compra torna-se uma válvula de escape para muitas emoções como tristeza, angústia e ansiedade. O oposto, como alegria, celebração e felicidade fazem com que a pessoa também busque comprar. Mas, em linhas gerais, é uma espécie de vazão para as emoções. “Normalmente por trás desse hábito de compras tem as doenças emocionais. Como transtornos de humor, ansiedade, depressão e outros como TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e bipolaridade”, afirmou a psicóloga.

A psicóloga Regiane Simões

Quem ainda pode estar por trás é a solidão, pois comprar pode ser uma forma de lidar com este sentimento. Comprar gera sensação de prazer, libera dopamina, que é hormônio de sensação de prazer. Isso acaba viciando porque a pessoa vai encontrar o prazer em comprar. “Às vezes, o ato de compra pode está voltado a status social/ aprovação, busca da identidade. A busca dessa afirmação dentro da sociedade pode entrar nesse caminho do vício por compra”, destacou.

A especialista diz que a compulsão das mulheres por comprar está muito ligada a questão de elas lidarem com muitas tarefas e papéis no dia a dia e isso demanda muito do emocional. E às vezes, as mulheres estão mais propensas a exposição social e se adequar a alguns padrões de beleza, estilo de vida, isso pode levar a mulher a ficar mais vulnerável ao marketing das vendas ativas.

Também tem a questão dos papéis sociais que esta mulher ocupa. O estresse e a demanda acabam tendo seu alívio no processo de comprar. Além do mais, muitas mulheres são mais propensas a desenvolverem transtornos e tudo isso leva a vulnerabilidade para este campo da compra por compulsão. Não que os homens não passem por este problema. Talvez até mesmo a influência cultural.

“Consumismo muito exaltado na sociedade e acaba que as mulheres têm mais esta demanda social que os homens”, comparou.
A especialista diz que o problema precisa ser tratado porque o ato de comprar por compulsão se torna uma obsessão crônica e repetida. “É um vício que precisa ser tratado.Não pode ser ignorado, deixado de lado. Vai trazer vários prejuízos para a pessoa e familiares. É preciso olhar com carinho e tratar dessa doença”, alerta.

Não é à toa que quem tem compulsão por compra está frequentemente preocupado em comprar. Tem impulsões irresistentes para isso e não consegue resistir a esta tentação. Ela adquire com frequência itens desnecessários que compra só por comprar. Compra por períodos mais longos que os pretendidos. Faz um planejamento, mas compra muito mais do que deveria comprar.

Existem, ainda, os problemas familiares. Com o excesso a pessoa termina ficando mais irritada com a família por que não entende que é um problema e precisa ser tratado. Então, acaba existindo muita irritação e estresse dentro desse contexto. “A pessoa passa a ter muitos problemas financeiros e juntos vêm a raiva, estresse, o medo após o ato de fazer as compras e com certeza essa sensação de euforia e ansiedade por comprar faz com que a pessoa não preste atenção no que está comprando, está gastando e aquela sensação de está fazendo algo errado, como se estivesse cometendo uma transgressão, é um sentimento que não consegue dissociar desta pessoa”.

A especialista vai além ao dizer que é uma sensação ruim. A pessoa remoi esta atitude de comprar porque ela fica culpando-se. Prometeu que iria parar de comprar e mais uma vez comprou. Então, tem esse lado de remoer a culpa o tempo todo. “É mentir sobre seus atos para amigos e familiares e isso também é um sintoma bastante observado”, completa.

Adquirir bastante cartões de crédito, isso é sinal de alerta para familiares e amigos. Já esconder as compras é um dos primeiros sintomas porque as pessoas escondem para não ser julgadas. Às vezes essa pessoa se torna um acumulador.

Em muitos casos, o consumista possui muitas caixas que ele não abre porque são produtos que ele comprou por comprar, sem a menor necessidade. Muitas compras e muita euforia. Tem também o sinal de angústia, quando vai comprar para reduzir. “Culpa e remorso é um sinal muito presente.”

A dor de pagar com dinheiro vivo também faz parte. A pessoa sente o pesar quando ver a fatura do cartão e precisa pagar. Ela não consegue parar de comprar e pode acontecer que entre em muitos empréstimos, dívidas no cartão de crédito, até mesmo chegar ao ponto de roubar para satisfazer essa necessidade de comprar.

Simões diz que algumas medidas simples podem ser cruciais nesse fator protetivo para evitar que você caia dentro desse círculo vicioso da compulsão por comprar. Primeiro é preciso tomar consciência do problema. Se percebe que está gastando muito, que não tem controle desse impulso de comprar, é interessante buscar ajuda profissional o quanto antes. Ajuda psicológica ou psiquiátrica para avaliar a existência de algum outro transtorno dentro desse quadro da compulsão por compras.

Uma ação que pode ser implementada é ter uma planilha organizando os gastos. Isso pode ser muito útil para que entenda em que está gastando, se está sendo excessivo e daí pode avaliar os riscos dos gastos desnecessários. Reconhecer os gatilhos que levam a compras. Se foi solidão, se esse gatilho envolve busca de identidade, aceitação social, quais são as coisas que te levam a comprar.
Pode ser útil também cancelar cartões de crédito nesse aspecto de proteção e evitar realizar encontro em shopping.

Mas a especialista afirma que o limite é uma linha muito tênue, daí é difícil de identificar em algumas pessoas. Porém, quem tem o sintoma de compulsão por compra geralmente não vai conseguir parar por si só. Não tem mais autocontrole. A compulsão é um vício e assim como todo viciado tem a dependência, precisa ser tratado.

Uma pessoa apenas consumista pode até ser influenciada, comprar acima da média, mas não vai vivenciar os prejuízos como mentir, ter dívidas que não consegue pagar. Isso não é uma frequência. Geralmente pára.

Com a facilidade de fazer compras pela internet e aplicativos usando apenas um clique, o comprador compulsivo não consegue resistir a tentação e gasta muito mais. Assim, aumenta o desejo incontrolável de comprar, mesmo não havendo necessidade.

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