BOLSA DE VALORES

Ibovespa sobe 0,55%, aos 122 mil pontos, no maior nível desde agosto de 2021

Dólar à vista avançou em relação ao real a R$ 4,7500
Por Estadão Conteúdo 26/07/2023 - 04:20
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Divulgação
Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Com o IPCA-15 referente a julho em deflação de 0,07% - retração maior do que se antecipava para o mês, o que reforçou a expectativa por corte de meio ponto porcentual na Selic, na reunião do Copom na próxima semana -, o Ibovespa mostrou fôlego, desde a manhã, para emendar o quarto ganho diário e retomar os 122 mil pontos, no maior nível de fechamento em quase dois anos

Hoje, oscilou dos 121.343,58 aos 123.009,90 pontos, e encerrou em alta de 0,55%, aos 122.007,77 pontos, máxima de fechamento desde 11 de agosto de 2021 (122.056,34). O giro foi de R$ 24,6 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa avança 3,32% e, na semana, ganha 1,49%. No ano, sobe 11,18%.

Apesar do desempenho ainda negativo das ações de grandes bancos nesta terça-feira - à exceção, hoje, de Itaú (PN +0,21%) -, o forte avanço das ações de commodities, em especial do setor metálico, com Vale (ON +3,09%) à frente mais uma vez, colocou o Ibovespa no campo positivo desde a abertura. Como ontem, as ações do setor financeiro foram pressionadas pelo sinal do governo de que pode colocar fim à distribuição, pelas instituições financeiras, de JCP (juros sobre capital próprio) a partir de 2024.

Em meio às discussões do governo sobre possível fim dos juros sobre capital próprio na reforma dos tributos sobre a renda, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) observou hoje que a medida, sem contrapartida, aumentaria o custo de crédito e os juros ao consumidor. "A hipótese de simplesmente retirar o JCP ou instituir a tributação sobre os dividendos distribuídos aos acionistas, sem nenhuma outra medida em contrapartida, se traduziria em significativa elevação da carga tributária sobre as empresas e seus acionistas em todos os setores da economia", afirmou a Febraban em nota.

Na ponta do Ibovespa na sessão, além de nomes do setor metálico como CSN (+5,90%), e Gerdau (PN +3,50%), destaque também para empresas associadas ao ciclo doméstico, expostas a juros, como as do segmento de construção (Eztec +6,21%, Cyrela +3,75%) e as do consumo (Alpargatas +3,65%, Carrefour Brasil +3,14%). No lado oposto nesta terça-feira, Gol (-3,06%), Minerva (-2,71%), Prio (-2,62%), Weg (-2,50%), Cogna (-2,27%) e BRF (-2,21%). Na sessão, o índice de consumo (ICON) subiu 0,12%, enquanto o ganho no de materiais básicos (IMAT) chegou a 2,27%.

"Tivemos, na sessão, a convergência de dois fatores que explicam essa recuperação do Ibovespa, que até a última quinta-feira estava de lado no mês: sinais de que o Politburo, órgão central do governo chinês, vai tomar iniciativas para estimular a economia do país, em especial o setor imobiliário, o que ajuda diretamente o desempenho de Vale, uma ação na B3 que tinha ficado muito para trás; e a reação dos juros à possibilidade de um corte maior do que se antecipava para a Selic na semana que vem, o que contribui para as ações de setores como os de varejo, consumo e construção", diz Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset.

"O arrefecimento da inflação no Brasil, com o IPCA-15 no negativo em julho, mantém o País na trilha de ser um dos primeiros a baixar juros. A curva de juros futuros voltou a fechar, e a Bolsa a subir, mesmo com o dólar em leve alta hoje, véspera do Fed, o que resulta em montagem natural de posição para esta aguardada alta da taxa de juros por lá", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Em outro desdobramento favorável ao apetite por risco na sessão, o Boletim Focus - cuja divulgação foi adiada de ontem para a manhã de hoje - trouxe nova redução nas expectativas de inflação, com destaque para "horizontes mais longos, 2025-26, que se encontram em 3,50%, mais próximas à meta", aponta em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Além do Fed como ponto alto da agenda, Naio Ino, da Western Asset, ressalta que a temporada de resultados trimestrais ganha tração nesta semana, aqui e no exterior, com destaque para nomes como Santander Brasil, amanhã antes da abertura, e Vale, na quinta-feira - em Nova York, a atenção permanece concentrada nos números das grandes empresas de tecnologia.

"Julho costuma ser um mês mais acomodado inclusive em fluxo, com menos notícias políticas, no recesso do Congresso, e também as férias no Hemisfério Norte, de forma que a temporada de resultados, dependendo do que trouxer, deve ser bem importante para dar direção aos negócios, caso, conforme se espera, o Federal Reserve venha amanhã dentro do consenso, com um aumento de 25 pontos-base na taxa de juros, já precificado pelo mercado para esta reunião", acrescenta o gestor, que aguarda outra alta além da desta quarta-feira para os Fed funds, que atingiriam então "platô" antes de se iniciarem, mais adiante, os cortes de juros nos EUA.

"A grande dúvida é qual será a postura do Federal Reserve na reunião de setembro", observa em nota Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. "Na última decisão, o Fed sinalizou que a intenção do comitê Fomc era elevar os juros ainda duas vezes, mas isso dependeria da atividade econômica, que têm dado sinais divergentes. Por um lado, a inflação nos EUA está em ritmo de desaceleração, conforme mostrou o CPI de junho - tanto o índice cheio quanto o núcleo dos preços ao consumidor. Por outro, há indicadores de atividade fortes, sendo o PIB americano o principal, além de dados do setor imobiliário e PMIs", acrescenta.

Para Eduardo Cavalheiro, fundador e gestor da Rio Verde Investimentos, enquanto se espera por definições como a dos juros americanos e também da Selic, prevalece na B3 uma "troca de fichas, sem dinheiro novo", com volume financeiro em geral ainda enfraquecido, tendendo à faixa de R$ 20 bilhões por sessão

Dólar


O dólar à vista avançou 0,36% em relação ao real nesta terça-feira, 25, a R$ 4,7500, revertendo parte da queda da véspera, quando havia recuado ao menor nível do ano. Segundo operadores, o movimento da sessão foi técnico, puxado pela demanda de importadores pela moeda e por ajustes de posições de investidores à véspera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Apesar da alta na sessão, a moeda americana encerrou o dia no segundo menor nível do ano, acima apenas da cotação de R$ 4,7331 vista na segunda-feira. Entre a mínima, de R$ 4,7186 (-0,31%), e a máxima de R$ 4,7593 (+0,55%), oscilou cerca de quatro centavos O contrato de dólar futuro para agosto movimentou pouco mais de US$ 10,5 bilhões, em linha com a média das últimas 30 terças-feiras.

Para o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, o movimento do dólar é explicado por um ajuste técnico, já que a forte queda da véspera abriu espaço para demanda de importadores e investidores pela moeda americana. O profissional destaca que o movimento do dia está em linha com o intervalo de R$ 4,70 a R$ 4,90 no qual a divisa tem oscilado nos últimos meses, sem sinal de rompimento.

No cenário doméstico, o principal destaque foi a deflação de 0,07% do IPCA-15 de julho, mais intensa do que indicava a mediana da pesquisa Projeções Broadcast (-0,03%). Como resultado, a curva de juros passou a precificar chance majoritária de um corte mais intenso da taxa Selic em agosto, de 50 pontos-base. Economistas do mercado, em contrapartida, mantiveram o cenário-base de uma redução mais contida, de 25 pontos.

Para Galhardo, a mudança nas apostas do mercado de juros teve pouca relação com o movimento do dólar, embora sugira uma redução do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. "Mesmo que o Banco Central tire 50 pontos da Selic, ela ainda vai ser de 13,25%, continua interessante. Venha o que vier, 25 pontos ou 50 pontos, isso não vai assustar o investidor", afirma

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, avalia que o dólar ficou praticamente de lado nesta sessão, refletindo o compasso de espera do mercado pela decisão do Fed amanhã. A analista lembra que o mercado migrou nas últimas semanas para o consenso de que o BC americano vai aumentar os juros uma última vez, em 25 pontos-base, e agora aguarda confirmação da aposta.

"Embora exista um consenso no mercado e isso esteja precificado na curva dos Treasuries, ainda há dúvidas, porque o consenso dos diretores do Fed é que haveria mais duas altas, e não uma, no segundo semestre", explica Abdelmalack. "O mercado está aguardando para ver a comunicação do Fed, para ver se ele vai deixar a porta aberta para mais aumentos, e isso justifica o movimento lateral do dólar hoje."

Juros


Os juros futuros fecharam a sessão em baixa até os vértices intermediários, refletindo o IPCA-15 de julho melhor do que o consenso e com leitura benigna dos preços de abertura. AS taxas longas ficaram estáveis. Dada ainda a queda nas medianas de IPCA no Boletim Focus, o mercado ampliou as fichas na aposta de que o Copom vai iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma dose de 0,5 ponto porcentual, que já vinha ganhando terreno nos últimos dias. Num ambiente de disposição à tomada de risco, o Tesouro conseguiu bons resultados no leilão de NTN-B, mesmo com lotes e risco maiores para o mercado.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,635%, de 12,697% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu a 10,63%, de 10,72%. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 10,15%, de 10,14 no ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2029 recuou a 10,53%, de 10,54%.

A queda de 0,07% do IPCA-15 de julho foi maior do que apontava a mediana das estimativas (-0,03%), alimentando a ideia de que há espaço para o Copom abrir o ciclo de maneira mais incisiva, até porque os preços de serviços, uma das grandes preocupações do Banco Central com relação à inflação, desaceleraram mais do que o esperado. O índice de difusão caiu abaixo de 50%, para 47,96%

Nos DIs, a chance de uma queda de 0,5 ponto da Selic na próxima semana vai se consolidando, passando de 60% para 70% entre ontem e hoje. No fim de 2023, a curva projeta taxa básica de 11,50% e para o fim de 2024, de 9%. A Selic hoje está em 13,75%.

"A pergunta de algumas dezenas de bilhões de reais é até que ponto essa baixa do IPCA-15 vai prosseguir ao longo do ano, e qual sua capacidade de influenciar as decisões futuras do Copom", aponta a equipe da Levante Investimentos, destacando que será preciso observar o comportamento do índice nos próximos meses para saber se essa baixa é pontual ou se está em uma tendência mais consistente.

O estrategista de renda fixa e sócio gestor da Garin Investimentos, Felipe Beckel, vê a curva com prêmios perigosamente baixos para novas posições doadas, lembrando ainda do risco da Petrobras elevar os preços de combustíveis no curtíssimo prazo, dada a defasagem ante as cotações internacionais, que no caso da gasolina já estaria em 20%. "Além disso, tem risco vindo da energia elétrica. Ou seja, os administrados podem começar a pesar. Nesse momento, é preferível o BC errar para cima do que perder tudo o que a política monetária conquistou", disse.

O leilão de NTN-B do Tesouro hoje teve boa demanda, com 1,421 milhão da oferta de 1,450 milhão de papéis vendidos. O especialista em renda fixa Alexandre Cabral afirma que nos três vencimentos - 15/8/2026, 15/5/2033 e 15/8/2050 - os títulos saíram com a menor taxa do ano. "Muito bom leilão, não duvido em algumas semanas termos o cupom menor do que 5,00% ao ano", comentou.

Na pesquisa Focus, as medianas de IPCA para 2023 (4,95% para 4,90%), 2024 (3,92% para 3,90%) e 2025 (3,55% para 3,50%) caíram, mas seguem desancoradas ante as metas centrais de inflação, de 3,0% para 2024 e 2025, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%. Para 2023, o alvo central é de 3,25%, com piso de 1,75% e teto de 4,75%.

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