BOLSA DE VALORES

Ibovespa inicia agosto em baixa de 0,57%, aos 121,2 mil pontos

Dolar começa mês em alta
Por Estadão Conteúdo 02/08/2023 - 04:20
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Em dia de cautela também no exterior, com dados mais fracos sobre a economia nos Estados Unidos, na China e na zona do euro, o Ibovespa chegou a se aproximar do limite inferior dos 120 mil pontos, nas mínimas do dia, em meio a ruídos sobre a política de preços da Petrobras após reunião do presidente Lula com o da estatal, Jean Paul Prates. Ao fim, com desmentido de Prates sobre tentativa de ingerência na política de preços da empresa, tanto as ações da Petrobras como o Ibovespa mostravam perdas mais acomodadas - em sessão na qual tiveram forte correlação. No fechamento, o Ibovespa cedeu 0,57%, aos 121.248,39 pontos, entre mínima de 120.153,62 e máxima de 121.944,64 pontos, correspondente ao nível de abertura.

O giro financeiro na primeira sessão de agosto ficou em R$ 23,2 bilhões, um pouco acima da média recente. Na semana, o Ibovespa avança 0,88%, com ganho a 10,49% no ano. Após a ON de Petrobras ter cedido mais de 4% no pior momento do dia, a ação fechou a sessão em baixa de 2,10%, com a PN em recuo de 1,64%. O dia também foi negativo para Vale (ON -1,39%) e para o setor metálico à exceção de Gerdau Metalúrgica (PN estável no fechamento), assim como para outro segmento de peso no índice, o bancário, com a ressalva de Itaú (PN +0,31%) e Santander (Unit +0,25%).

Na ponta negativa do Ibovespa, Sabesp (-4,13%), no dia seguinte a anúncios do governo de São Paulo sobre a privatização da empresa, à frente das perdas de Arezzo (-3,28%), Fleury (-1,86%) e Via (-1,85%) na sessão, além de Banco do Brasil (-1,72%), Pão de Açúcar (-1,64%) e dos dois papéis de Petrobras. No lado oposto, Iguatemi (+2,47%), Magazine Luiza (+2,39%) e Petz (+2,14%).

"O Ibovespa caiu hoje muito em razão de Vale e Petrobras. Em Vale, por conta de preço do minério e algumas questões relacionadas à China grande consumidora de commodities. Em Petrobras, apesar de a mudança na política de dividendos ter sido bem recebida, preocupa a defasagem no preço do combustível vendido pela empresa, que tem crescido e aumenta a pressão por reajuste", diz Bruno Burth, operador da mesa de renda variável da Legend Investimentos.

Ainda no começo da tarde, após a reunião com Lula, o presidente da Petrobras disse ao Broadcast não procederem os rumores de que iria aumentar, entre hoje e amanhã, os preços dos combustíveis, e que teria voltado atrás a pedido do presidente da República, com quem esteve reunido pela manhã, ao lado de todos os diretores da empresa e outras autoridades, reporta do Rio a jornalista Denise Luna.

"De resto, o mercado se mostra mais neutro, em compasso de espera para a decisão do Copom, amanhã, com cenário-base para corte de 25 pontos-base, o que não deve fazer muito preço se vier a se confirmar. Recentemente, o mercado tem se mostrado aberto à possibilidade de meio ponto, de queda. Se vier meio, pode ser positivo para o apetite por risco, e 0,75 ponto porcentual ainda mais", acrescenta Burth, da Legend. Por outro lado, se o Copom contrariar a expectativa de consenso e mantiver amanhã a Selic, a reação tende a ser negativa, observa o operador.

No exterior, a primeira sessão de agosto, desde a manhã, foi marcada por "tom predominantemente negativo, com queda das bolsas e commodities, dólar mais forte e movimentação mista das taxas de juros nas economias centrais", observa em nota a Guide Investimentos, destacando também o "esticado nível de preços dos principais índices acionários nos EUA", com a referência ampla de Nova York, o S&P 500, convergindo para nova máxima histórica

Hoje, em sessão na qual prevaleceu cautela quanto aos mais recentes dados econômicos americanos, os principais índices de lá fecharam entre leve ganho de 0,20% (Dow Jones) e perdas de 0,27% (S&P 500) e 0,43% (Nasdaq).

As sessões asiática e europeia, por sua vez, foram afetadas pelas leituras sobre os índices de atividade industrial da China e da zona do euro, respectivamente. Na China, em contração - ou seja, abaixo do limiar de 50 -, o PMI da Caixin tocou o menor nível em seis meses, enquanto, na zona do euro, o índice de atividade industrial em julho foi o menor em 38 meses, aponta a Guide.

"Os PMIs vieram mais fracos na China e na zona do euro, puxando commodities como o minério e o petróleo para baixo - lembrando que Vale e Petrobras têm peso bem relevante no índice Ibovespa. Para completar, declarações negativas, de que o preço da gasolina e do diesel não devem ser elevados por agora, o que contribui para aumentar a defasagem com os preços internacionais", diz João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Por outro lado, como pano de fundo, "do começo do ano para cá, tem se falado menos em inflação e mais em desemprego, em claro sinal de desaquecimento no mundo: o ambiente é desafiador tanto para as economias em desenvolvimento como para as centrais", diz Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.

De acordo com o relatório Jolts - uma das métricas sobre o giro de mão de obra no mercado americano acompanhadas de perto pelo Federal Reserve -, publicado hoje pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, o número de postos de trabalho que permaneciam abertos no país caiu a 9,582 milhões em junho. O resultado ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pela FactSet, de 9,8 milhões de vagas. O número de maio, por sua vez, foi revisado para baixo, de 9,824 milhões para 9,616 milhões.

Dólar


O dólar à vista iniciou agosto em alta firme no mercado doméstico de câmbio, acompanhando a onda de valorização da moeda americana no exterior e o avanço das taxas dos Treasuries. Dados fracos de atividade industrial na Europa e, em especial, na China lançaram dúvidas sobre a trajetória de preços de commodities e detonaram um movimento de realização de lucros com divisas emergentes.

Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar acelerou os ganhos ao longo da tarde e flertou com o nível de R$ 4,80 ao registrar máxima a R$ 4,7998. No fim da sessão, a moeda era negociada a R$ 4,7895, em alta de 1,27%, após ter encerrado julho com desvalorização de 1,25%. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para setembro apresentou bom giro, acima de US$ 13 bilhões.

Operadores notaram que o ambiente de cautela diante das dúvidas sobre a magnitude do provável corte inicial da taxa Selic amanhã pelo Comitê de Política Monetária (Copom) também contribui para recomposição parcial de posições defensivas no mercado futuro de câmbio. Na curva de juros futuros, a aposta majoritária é de redução da Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. A maioria dos economistas ainda mantém projeção de corte inicial de 0,25 ponto. Em todo caso, já se vislumbra Selic na casa de 9% até o fim do ano que vem.

Embora a perspectiva seja de que, mesmo com as reduções da taxa Selic nos próximos meses, o Brasil continue a oferecer taxas reais atraentes aos estrangeiros, é natural que haja um movimento de ajuste de carteiras com mudança da política monetária. O real e as demais divisas latino-americanas de países com juros altos, como peso mexicano e colombiano, exibem os maiores ganhos em relação ao dólar no ano entre as moedas mais relevantes.

"Os preços dos ativos refletem os fracos dados de atividade econômica industrial tanto na China quanto na zona do euro. A maior parte das moedas perde valor para o dólar por conta do aumento da incerteza. Dentre as moedas de mercados emergentes, os destaques negativos são o dólar australiano, o rand sul-africano e o dólar da Nova Zelândia, por serem economias bastante expostas à economia chinesa", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira.

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, pondera que, em contraposição a dados fracos da China e da zona do euro, a economia americana ainda mostra resiliência, o que dá sustentação ao dólar. "Foi um dia de pressão para moedas emergentes e para o real. Temos divulgação do payroll relatório de emprego na sexta-feira, o que pode mexer com as projeções para as decisões do Federal Reserve", afirma.

Juros


Os juros futuros de curto e médio prazos terminaram a sessão em alta e os longos, perto da estabilidade. A pressão sobre o mercado foi maior pela manhã e diminuiu à tarde, com as taxas se acomodando. O aumento das taxas se deu em meio ao avanço do dólar ante o real e dos rendimentos dos Treasuries. Na segunda etapa, o mercado passou a evitar posições direcionais antes do Copom, considerando a divisão das apostas sobre o tamanho do corte, as expectativas sobre a linguagem do comunicado e a dúvida se haverá ou não consenso na votação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,625%, de 12,570% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,59% para 10,68%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,16%, de 10,13%. A taxa do DI para janeiro de 2029 terminou em 10,52%, estável.

Pela manhã, o mercado de juros embarcou no pessimismo global que penalizava ações e moedas emergentes, com taxas em alta ao longo de toda a curva, refletindo PMIs fracos na China, Europa e mesmo o PMI Industrial dos EUA dentro do esperado teve leitura negativa, pela piora de subíndices. Internamente, a agenda trouxe a produção industrial de junho, com alta marginal de 0,1%, ante mediana apontando queda de 0,1%, mas insuficiente para mexer no quadro das apostas para o Copom.

Na avaliação do economista André Perfeito, o resultado mostra sinais de fraqueza, com destaque à queda em bens de capital, de 1,2% na margem. "Outro sinal de fraqueza foi a queda na produção de bens de consumo duráveis, que tombou no mês nada menos que 4,6%", comentou o economista, ressaltando que ambos os grupos são amplamente sensíveis ao comportamento da taxa de juros. "Isto reforça, mais uma vez, certo sentido de urgência pela queda dos juros de maneira mais relevante na reunião do Copom desta semana", defendeu.

Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a curva esteve pressionada muito em função do câmbio, dado o papel que exerce na formação dos preços. O dólar chegou a R$ 4,799 nas máximas da sessão. "O câmbio sofre também com o mercado receoso de que aqui possa se repetir o que houve no Chile", afirmou, referindo-se à decisão do banco central do país de reduzir o juro em 1 ponto porcentual, acima do previsto, e que afetou o peso chileno.

"Teremos uma reunião como há muito não se via, com o mercado bastante dividido", afirmou. Na precificação da curva, a aposta de queda de 0,50 ponto na atual taxa de 13,75%, amanhã, segue levemente majoritária, com probabilidade de 60%, ante 40% de chance de 0,25 ponto.

O mercado também vai olhar com lupa a comunicação utilizada pelo BC para indicar os próximos passos e vê o placar da votação como termômetro do que pode ser o ciclo de afrouxamento.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, argumenta que na "ótica de um jogo" de preservar expectativas e a curva longa de juros, o cenário mais positivo seria um voto convergente de Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo pelo recuo da Selic. "Estimamos que há espaço para queda de 50 pontos pelas projeções de inflação e atividade, e taxa de câmbio, cuja valorização do real ante dólar superou em julho mais de 1%", afirma Velho, para quem Galípolo votará pelo recuo da Selic de 50 pontos. "Se a decisão do Copom for pela queda moderada de juros de 25 pontos, seria adequada também uma convergência de votos, especificamente por tratar-se da primeira reunião com o novo diretor de Política Monetária", complementa.

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