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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Após furar o piso de R$ 4,85 pela manhã e registrar mínima a R$ 4,8418 (-1,29%) em meio ao alívio com a leitura benigna da inflação ao consumidor nos EUA em julho, o dólar à vista moderou bastante o ritmo de baixa ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quinta-feira, 10, cotado a R$ 4,8821, em queda de 0,47%. Foi o primeiro recuo da moeda norte-americana no mercado doméstico nos últimos quatro pregões. Em agosto, a divisa acumula ganhos de 3,23%.
A perda de fôlego do real veio na esteira de uma arrancada das taxas dos Treasuries de 10 e 30 anos, que renovaram máximas à tarde. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY também bateu máxima na segunda etapa de negócios, aos 102,784 pontos.
Divisas de países desenvolvidos exportadores de commodities que se fortaleciam pela manhã, como o dólar australiano e neozelandês, passaram a apresentar perdas à tarde. As principais moedas emergentes pares do real, como os pesos mexicano e chileno e o rand sul-africano se mantiveram no azul, mas reduziram os ganhos em relação ao dólar.
O Banco Central do México (Banxico) anunciou manutenção da taxa básica de juros do país em 11,25% ao ano.
O indicador mais relevante do dia e principal indutor dos negócios foi o CPI de julho nos EUA. Houve alta de 0,2% tanto do índice cheio quanto do núcleo, que exclui preços mais voláteis como energia e alimentos. Pela manhã, sob o impacto da divulgação do CPI, as chances de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mantenha a taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50% em setembro (dias 19 e 20) chegaram a ultrapassar 90%, segundo ferramenta do CME Group.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o CPI foi positivo, mostrando desinflação consistente na parte de bens e desaceleração dos preços de serviços, o que alivia bastante a pressões sobre o Fed no curto prazo. A virada das taxas dos Treasuries longos à tarde, após leilão de US$ 23 bilhões em T-bonds de 30 anos, acabou respingando em parte nas divisas emergentes, como o real. Houve também declarações duras da presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly.
"A mudança da curva de juros americana, que já ocorre há algumas semanas, está dominando o movimento de moedas. A taxa do Treasury de 10 anos chegou a ficar abaixo de 4%, mas voltou a ultrapassar 4,10%", afirma Lima, para quem o mercado está ainda na defensiva em meio à escalada das taxas longas nos EUA, que vai ter que rolar sua dívida elevada pagando juros mais elevados "O movimento do Treasury de 10 anos, que está com prêmio alto, é a chave para entender como vai se comportar o mercado de moedas. Parece que há uma realocação global na renda fixa".
Na visão do economista-chefe da Western, as "questões idiossincráticas" internas, como a redução da Selic em 0,50 ponto porcentual, não foram as principais responsáveis pela depreciação do real neste início de mês. Tampouco as dúvidas sobre o andamento da pauta econômica no Congresso e o cumprimento das metas fiscais previstas no arcabouço, cuja votação final está pendente na Câmara dos Deputados, prejudicaram o real.
"Nada disso fez realmente 'preço' na moeda. Se houver uma acomodação das taxas longas nos EUA, o dólar pode voltar a cair aqui. É claro que se a gente fizer a coisa certa do lado fiscal, o real pode andar mais", afirma Lima.
Segundo apuração do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), líderes partidários da Câmara dos Deputados que se reuniram nesta quinta com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), falam em votar o arcabouço fiscal na semana que vem. Um dos principais entraves é a espera do Congresso pela minirreforma ministerial negociada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, com os partidos do Centrão.
Na sexta, será divulgado o IPCA de julho. Segundo a mediana de previsões de analistas colhidas pelo Projeções Broadcast, o índice deve mostrar alta de 0,06%, após queda de 0,08% em junho. Para a inflação acumulada em 12 meses, a mediana indica aceleração a 3,93%, ante 3,16%.
Taxas de juros
Após operarem em baixa pela manhã, sob efeito do alívio da inflação nos Estados Unidos em linha com o esperado e declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os juros futuros se acomodaram perto dos ajustes anteriores ao longo da tarde. A postura mais defensiva coincidiu com a virada para cima nos rendimentos dos Treasuries e o mercado monitorando ainda o risco fiscal, nesta quinta-feira com o debate em torno da contabilização dos precatórios, além da expectativa pelo IPCA de julho, na sexta-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,430%, de 12,452% no ajuste anterior, e o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,38% (10,43% na quarta-feira). A taxa do DI para janeiro de 2027 ficou em 10,00%, de 10,02%, e a do DI para janeiro de 2029, estável em 10,52%.
Destaque da agenda no dia, o CPI nos Estados Unidos subiu 0,2% em julho, assim como também o núcleo, ambos em linha com as medianas das estimativas. "Um segundo conjunto benigno de impressões sobre a inflação adiciona otimismo de que o ciclo de alta de juros pelo Fed está no fim e um pouso suave da economia é viável", afirmaram os economistas do banco holandês ING.
O dado consolidou a aposta de que a autoridade monetária não elevará o juro em setembro, com efeito de baixa no dólar e nos yields dos Treasuries. Estes últimos, porém, passaram a operar em alta à tarde, pressionado por um mix de fatores, entre eles leilão de T-Bonds de 30 anos com demanda acima da média e receios sobre a pressão do mercado de trabalho na inflação. Uma fala hawkish da presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, também pesou. No fim da tarde, a taxa da T-Note e dez anos abria cerca de 10 pontos-base, a 4,10%.
Com o efeito CPI saindo de cena na jornada vespertina, o mercado também voltava a olhar com mais atenção a questão fiscal, segundo o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz. "O mercado é muito sensível a esse debate. As soluções para enfrentar o problema sempre trouxeram estresse", comentou. Segundo a Folha de S.Paulo, o governo estuda incluir em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) incluir a possibilidade de classificar parte dos precatórios como uma despesa financeira Isso deixaria o gasto fora do alcance do arcabouço e da meta de resultado primário, embora continue afetando o quadro fiscal ao impulsionar o endividamento do País. O Broadcast confirmou as negociações com fontes.
Alguns players relatam ainda efeito de queda nas taxas, no fim da manhã, em reação a falas de Campos Neto, que esteve nesta quinta em arguição no Senado. "Não houve nada de muito novo em relação ao que o BC tem indicado, mas algumas declarações acabaram servindo como 'checks' para o mercado", afirma o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
Campos Neto avaliou que, apesar da inflação de serviços não estar caindo, o IPCA deve mostrar uma pequena melhora. Ele repetiu que a autoridade monetária pode chegar à "menor taxa de juros possível" e a intenção é "fazer é uma queda de juros estruturada". "Mas é preciso fazer isso com credibilidade. Às vezes os critérios técnicos se distanciam dos anseios (políticos)", afirmou.
Bolsa
O Ibovespa refugou no fim da tarde desta quinta-feira, 10, piorando em relação à Nova York, quando parecia a caminho de interromper sequência ruim, agora de oito perdas diárias, que coincidiu com o início de agosto. Nesta quinta, resistia em leve alta até pouco antes das 16h30, mas passou a testar baixa em direção ao fechamento do dia, igualando em extensão a série negativa de oito sessões, entre 3 e 14 de junho de 2022. A virada veio às 16h21, quando o Ibovespa assinalava -0,01% pela primeira vez na sessão.
Ao fim, mostrava mais uma leve perda, de 0,05%, aos 118.349,60 pontos. Mais cedo, a sessão era pautada desde o exterior por estabilização na percepção de risco - na Ásia como na Europa e, em menor grau, nos Estados Unidos - em dia de atenção voltada a novos dados sobre a inflação norte-americana, após a decepção de quarta-feira com a deflação vista na China. Nesta quinta-feira, apesar da piora observada no fechamento, o índice oscilou em margem relativamente estreita, entre a mínima (118.112,68) e a máxima (119.438,15), saindo de abertura aos 118.412,19 pontos.
Com giro financeiro a R$ 23,7 bilhões na sessão, o Ibovespa acumula perda de 2,95% no mês, cedendo 0,97% na semana - no ano, o índice avança 7,85%. Apesar da série negativa acumulada neste primeiro terço de agosto, o Ibovespa não se distanciou muito de níveis recentes, com o fechamento desta quinta-feira ainda correspondendo ao menor patamar desde 20 de julho, então aos 118 082,90 pontos.
"Após sete perdas, a Bolsa subia timidamente hoje, acompanhando a alta moderada dos mercados nos Estados Unidos que chegou a ser revertida também perto do fechamento, contudo positivo ao fim; Dow Jones +0,15%, S&P 500 +0,03%, Nasdaq +0,12%, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Havia mais impulso pela manhã, com a divulgação do índice de inflação por lá, o que ajudou os investidores a pressupor o fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos - mas perdeu fôlego, ao longo do dia, a resposta aqui no Brasil", acrescenta o analista, destacando, na sexta, a expectativa pela inflação doméstica, do IPCA, o que pode trazer volatilidade à B3 e também à curva de juros. "Dia de timidez e espera pelo dado de amanhã."
Nos EUA, leitura do CPI veio em linha com o consenso de mercado. Em 12 meses, o índice acumula alta de 3,2%, levemente acima do mês anterior, observa Gustavo Sung, analista-chefe da Suno Research. "A batalha não está vencida. A inflação está desacelerando nos Estados Unidos, mas alguns grupos merecem atenção. E o mercado de trabalho precisa continuar dando sinais de arrefecimento", acrescenta Sung.
Nesse contexto, a leitura sobre a inflação norte-americana tende a subir no mês seguinte, agosto, como resultado do recente aumento nos preços da gasolina, e o Federal Reserve, assim como os investidores, devem manter o foco no núcleo - métrica que exclui fatores voláteis, como os preços de alimentos e de energia -, aponta em nota Greg Wilensky, head de renda fixa da Janus Henderson para Estados Unidos. "Apesar de o núcleo da inflação ter caído em relação a seus níveis mais altos, ainda está bem acima da meta de 2% do Fed para a inflação de longo prazo", acrescenta.
Ainda assim, mesmo antes da divulgação do dado sobre os preços ao consumidor nos Estados Unidos, o índice VIX, uma métrica de volatilidade com base em opções sobre o S&P 500, considerada como um termômetro do medo em Wall Street, mostrava abrandamento desde cedo, em queda então de cerca de 1%, mostrando propensão dos investidores a risco na sessão, aponta Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos.
Com a moderação da percepção de risco desde o exterior, na B3 o desempenho do dia era puxado pelas ações de grandes bancos - que costumam estar entre as preferidas do investidor estrangeiro, assim como as de commodities -, cujo desempenho negativo no mês tem excedido, em geral, o próprio recuo do Ibovespa, com perdas que chegam a superar 6% em agosto, no caso das ações do Bradesco (ON -6,47%, PN -7,09% no intervalo). Nesta quinta, além de Bradesco (ON +1,09%, PN +0,85%), destaque também para Itaú, embora também muito moderado perto do fechamento (PN +0,33%), enquanto Banco do Brasil (ON) subiu 0,51%, após balanço trimestral divulgado na noite de na quarta.
À exceção de Vale (ON -1,18%) - enfraquecida por temores quanto à demanda chinesa por matérias-primas, em meio à tibieza da atividade econômica por lá -, o dia vinha sendo de estabilização para o setor de commodities, mas o IMAT também refugou no fechamento (sem variação). Devolvendo os ganhos vistos mais cedo, as ações da Petrobras encerraram nesta quinta sem sinal único, com a ON em leve baixa de 0,03% e a PN ainda em alta de 0,56%.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Azul (+9,83%), após os resultados trimestrais, à frente de Braskem (+6,84%), Gol (+6,27%) e Hapvida (+6,05%) na sessão. No lado oposto, Soma (-7,68%), 3R Petroleum (-4,96%), Rede D'Or (-4,92%) e Magazine Luiza (-4,04%). As ações correlacionadas ao ciclo doméstico, como as de consumo, também perderam força no fim, mas conseguiram fechar um pouco acima da estabilidade, em alta de 0,04% para o ICON.
Nesta quinta, a tonelada do minério de ferro negociada em Dalian, China, voltou a fechar abaixo de US$ 100, cotada a US$ 99,09, em retração de 0,49% para o contrato da commodity mais líquido - o dia também foi de ajuste para os preços do petróleo Brent e WTI, ambos em baixa superior a 1% em Londres e Nova York
Em audiência pública nesta quinta-feira no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC monitora a dinâmica de preços na China, país que em julho registrou sua primeira deflação desde 2021, o que resultou, na quarta-feira, em aversão a risco nos mercados globais.
"A deflação na China gerou grande preocupação no mundo. Se for um processo contínuo, vai assustar muito, em termos de países que negociam com a China", afirmou Campos Neto.
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