ECONOMIA

Dólar cai 0,21% no dia com China e PIB, mas sobe 1,33% na semana

Ibovespa inicia o mês em alta de 1,86%, aos 117 892,96 pontos
Por Estadão Conteúdo 02/09/2023 - 04:10
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Após a arrancada da quinta-feira, 31, quando subiu 1,68% e flertou com os R$ 5,00 nas máximas, o dólar à vista apresentou leve recuo na sessão desta sexta-feira, 1º de setembro. Passado o efeito de fatores técnicos sobre a formação da taxa de câmbio, como rolagem de contratos no segmento futuro e formação da última taxa ptax de agosto, houve uma acomodação, com ajustes de posições e realização de lucros.

Segundo operadores, a alta das commodities, em meio a dados positivos da indústria da China, que anunciou medidas de apoio ao setor imobiliário, e o resultado mais forte do que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre abriram espaço para queda do dólar. Moedas pares do real, como peso chileno, peso colombiano e rand sul-africano também se valorizaram.

Nas primeiras horas de negociação, a divisa ameaçou romper o piso de R$ 4,90 com o exterior, na esteira da divulgação do relatório de emprego nos EUA, e tocou mínima a R$ 4,9005. O ritmo de baixa diminuiu ainda pela manhã e, com máxima a R$ 4,9481, o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 4,9405, em queda de 0,21%. Na semana, contudo, a moeda acumula valorização de 1,33%, atribuída, em parte, ao aumento dos prêmios de risco em razão de dúvidas sobre a gestão da política fiscal.

Consultor econômico da Remessa Online, André Galhardo observa que houve desconforto com os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sanção do novo arcabouço fiscal, o que ajudou a impulsionar o dólar no mercado local. Foi vetado por Lula o item que impedia a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de excluir despesa do cálculo da meta fiscal - o que trouxe preocupações em torno de aumento de gastos.

Para o consultor, houve certo exagero, contudo, na reação dos investidores ao Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), divulgado na quinta, em que o governo estipula ampliar as receitas em R$ 168 bilhões para cumprir a meta fiscal de déficit primário zero em relação ao PIB em 2024.

"Não entendo porque o mercado ficou em polvorosa com o orçamento, que veio em linha com o esperado. O governo tem que perseguir uma meta. Existe dificuldade em ampliar receitas, mas, se o resultado já for melhor na margem, o cenário se torna mais benigno", afirma Galhardo, para quem o mercado pode se "acalmar em relação ao orçamento nas próximas semanas", o que pode beneficiar o real.

Pela manhã, o IBGE divulgou que o PIB do segundo trimestre subiu 0,9% em relação ao primeiro, acima da mediana de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast (0,3%). Na comparação anual, houve alta de 3,40%, também superior à mediana (2,7%).

Casas como BTG Pactual, JP Morgan e Bradesco revisaram para cima as estimativas para crescimento do PIB neste ano. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta vai revisar a estimativa para o PIB neste ano, atualmente de 2,5%. Segundo o ministro, a economia brasileira deve encerrar este ano com crescimento em torno de 3%.

No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar frente a moedas fortes - operava em alta firme no fim da tarde, ao redor de 104,200 pontos.

Pela manhã, o Dollar Index recuou e tocou mínima aos 103,272 pontos com a divulgação do payroll. Houve criação de 187 mil vagas nos EUA em agosto, acima do esperado (175 mil). Mas salário médio cresceu aquém das expectativas e taxa de desprego subiu de 3,5% para 3,8% - pontos que sugerem pressões inflacionárias menores e, em consequência, fim da alta de juros nos EUA.

Dados mais fortes da indústria dos EUA em agosto e declarações da presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, deram força novamente ao DXY. Segundo Mester, há dúvida se os juros dos EUA estão nos níveis restritivos necessários para conter a inflação

Bolsa


Boas notícias que enfim vieram da China - entre as quais, recuperação do índice de atividade (PMI) em agosto -, e o PIB brasileiro acima do esperado para o segundo trimestre - que resultou em revisões nas expectativas de crescimento para o ano -, combinaram-se em impulso ao Ibovespa nesta sexta-feira, na última sessão da semana, na abertura de setembro.

Assim, o índice da B3 iniciou o mês em alta de 1,86%, aos 117 892,96 pontos, vindo de perda de 5% em agosto. Nesta sexta, oscilou entre mínima de 115.743,80, da abertura, e máxima de 117 990,61 pontos, com giro a R$ 26,7 bilhões. Na semana, virou nesta sexta do negativo ao positivo, acumulando ganho de 1,77% no intervalo. Em porcentual, o avanço do dia foi o maior desde 14 de junho (1,99%).

Foi também o segundo ganho semanal para o Ibovespa, após alta de 0,37% acumulada na anterior, a qual havia sucedido quatro recuos consecutivos, desde o intervalo entre 24 e 28 de julho. Com o anúncio de estímulos ao combalido setor imobiliário na China, segmento de enorme peso relativo na composição do PIB da segunda maior economia do mundo, Vale ON fechou a sexta em alta de 5,85%, acumulando ganho de 10,99% na semana, mas ainda cedendo 18,77% no ano. O papel da mineradora, o de maior peso individual na carteira do índice, liderou os ganhos do Ibovespa no fechamento da sessão, à frente de Bradespar (+5,02%), Alpargatas (+4,99%) e Petz (+4,93%).

O dia foi amplamente positivo para outra gigante das commodities, Petrobras, com a ON em alta de 3,33% e a PN, de 2,16%, no encerramento - na semana, subiram respectivamente 1,86% e 2,06%. Os bancos, à exceção de Bradesco ON (-0,23%), tiveram desempenho positivo na sessão, embora discreto, conseguindo em geral fechar a semana em recuperação moderada - com destaque para Itaú (PN), em alta de 0,88% na sessão e de 2,98% na semana. Entre as maiores baixas do dia, destaque para Méliuz (-5,51%) , IRB (-2,44%) e Marfrig (-0,67%) - apenas sete ações da carteira Ibovespa fecharam a sessão em baixa.

"O PIB do segundo trimestre foi muito bom e, em resumo, surpreendeu a todos, com a alta de 0,9%, na margem. Teremos um crescimento mais próximo de 3% no ano, se não tivermos alteração nos próximos trimestres. E o que chamou atenção foi o desempenho da indústria - e pelo lado da demanda, o consumo", ressalta Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. "Teremos um crescimento muito bom no ano, e que levará efeito positivo para 2024", acrescenta.

Em relatório divulgado nesta sexta-feira, o Bank of America (BofA) também destaca o desempenho da indústria - especialmente a extrativa, puxada pela produção de petróleo e gás - para o crescimento brasileiro de 0,9% no PIB do segundo trimestre. Por outro lado, o banco aponta que o crescimento lança dúvidas quanto à dimensão do hiato do produto, o que reforça a falta de espaço para a aceleração do ritmo de corte de juros no País.

"Continuamos a projetar atividade econômica mais forte do que o mercado espera, e mantemos nossa recentemente revisada projeção de crescimento de 3% para 2023. Com relação a 2024, nossa previsão é de 2,3%. A redução das taxas de juros, melhores condições no mercado de crédito e o avanço de matérias legislativas fundamentais devem trazer resultados positivos para o próximo ano", acrescenta o BofA.

"Apesar dos 'números acima das expectativas' no PIB, a economia continua em processo de ajuste monetário para combater a inflação, e ainda temos ausência de condições mais amplas e efetivas para a economia decolar de fato", ressalva Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento). "Estamos ainda em transição cíclica: precisamos ter equilíbrio no otimismo e no pessimismo", acrescenta o economista, destacando níveis ainda altos de endividamento e inadimplência, tanto entre pessoas físicas como jurídicas.

"PIB é um dado de retrovisor, estamos olhando nele para a primeira metade do ano, entre abril e junho. Mas o que o resultado divulgado hoje mostrou é que a economia brasileira está mais resiliente do que muita gente esperava, especialmente em relação ao que se pensava no começo de 2023 ou no fim do ano passado", diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

Após três semanas de ausência, a expectativa de queda para as ações no curtíssimo prazo voltou a aparecer no Termômetro Broadcast Bolsa. Entre os participantes, 14,29% responderam que a próxima semana deve ser de baixa para o Ibovespa; 28,57% preveem estabilidade; e 57,14% esperam alta. Na pesquisa anterior, as projeções se dividiam entre ganho (62,50%) e variação neutra (37,50%).

Taxas de juros


Os juros futuros avançaram na ponta curta da curva nesta sexta-feira, enquanto o mercado ajustava as apostas no ritmo de cortes e no nível terminal da taxa Selic após a surpresa positiva com o crescimento do PIB no segundo trimestre. A sessão também foi de alta, mais moderada, no trecho intermediário da curva. Com o risco fiscal em segundo plano, as taxas longas apresentaram viés de baixa.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 - que reflete as apostas na Selic do fim de 2024 - subiu cinco pontos-base em relação ao ajuste anterior, de 10,521% para 10,570%. O DI para janeiro de 2026 ganhou dois pontos, de 10,145% para 10,165%, enquanto o para janeiro de 2024 ficou próximo da estabilidade, com taxa de 12,375%, de 12,382% no ajuste anterior.

Nos trechos longos, o DI para janeiro de 2027 encerrou em leve baixa, de 10,346% para 10,335%, e o contrato para janeiro de 2029 recuou cinco pontos, de 10,824% para 10,770%. Como resultado, a curva perdeu inclinação, com queda do spread entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, de 30,3 pontos-base no ajuste anterior para 20 pontos.

Analistas atribuem o movimento das taxas na sessão a uma retirada das apostas de queda mais rápida da taxa Selic, após o IBGE ter informado que o PIB brasileiro cresceu 0,9% no segundo trimestre - 0,6 ponto porcentual acima do consenso, de 0,3%. No mercado, a leitura foi de que a atividade mais forte dificulta uma aceleração no ritmo de afrouxamento monetário, e pode indicar juros mais altos no fim do ciclo.

"O PIB ajudou a subir um pouco as taxas intermediárias, que refletem justamente onde a taxa Selic vai poder chegar", resume o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno "Dado que o BC colocou um piso de 50 pontos-base por reunião para o ciclo de cortes, e que o PIB mais forte dificulta a aceleração, o mercado se ajusta para precificar esses 50 pontos "

Além do crescimento mais forte da economia, o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco destaca que o aumento dos rendimentos dos Treasuries ajudou a puxar a alta dos DIs. Apesar do payroll ter mostrado crescimento do desemprego nos Estados Unidos, de 3,5% em julho para 3,8% em agosto, o PMI industrial do país subiu mais do que o previsto e levantou dúvidas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

"Lá fora, o PMI um pouco acima do esperado e as falas da presidente do Fed de Cleveland Loretta Mester, que falou de um desemprego ainda baixo e de inflação ainda alta, acabaram puxando essa alta dos Treasuries, que bate aqui", diz Pacheco. "Para alguém que estava mais dove, esperando cortes de 75 pontos da Selic este ano, a combinação dessas coisas pode levar a uma revisão."

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