ECONOMIA

Dólar sobe 0,82% e fecha a R$ 4,9754 com dados chineses e Treasuries

ibovespa fecha em baixa de 0,38%, aos 117 331,30 pontos
Por Estadão Conteúdo 06/09/2023 - 04:10
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Divulgação
Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 5, em alta de 0,82%, cotado a R$ 4,9754 após ter registrado máxima a R$ 4,9865. O dia foi marcado por uma onda global de valorização da moeda americana e avanço firme das taxas dos Treasuries, em meio à safra de indicadores reiterando desaceleração da economia chinesa, enfraquecimento maior da atividade na zona do euro e falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Segundo operadores, o andamento da agenda econômica no Congresso e declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre medidas de uma eventual reforma administrativa foram monitorados, mas não tiveram impacto relevante na formação da taxa de câmbio.

Geralmente mais castigado em episódios de fortalecimento da moeda norte-americana no exterior, o real sofreu nesta terça menos que seus pares latino-americanos. No fim da tarde, o peso mexicano perdia 1,46% e o peso chileno, 2,60%.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY se aproximou da linha dos 105,000 pontos, ao registrar máxima aos 104,907 pontos, nos maiores níveis desde março. Índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) de Alemanha, Reino Unido e zona do euro recuaram em agosto, com leitura abaixo de 50, o que indica contração da atividade. Já na China, houve queda do PMI de serviços de 54,1 em julho para 51,8 em agosto.

"Os preços dos ativos em todo mundo estão sendo afetados pela percepção de que o Federal Reserve manterá a taxa de juros real em patamar elevado por muito tempo e pelos dados mais fracos do setor de serviços na China", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, ressaltando que "praticamente todas as moedas" recuam em relação ao dólar, na volta do feriado do Dia do Trabalho nos EUA.

A taxa do T-note de 10 anos voltou a superar 4,25%. As cotações do petróleo subiram para o maior nível em 11 meses, com o Brent acima de US$ 90 o barril, após informação de que Arábia Saudita e Rússia vão voluntariamente restringir a oferta da commodity. Uma escalada do petróleo ameaça a atividade e pode alimentar ainda mais a inflação nos países desenvolvidos.

Um dos diretores do Fed, Christopher Waller, disse nesta terça que o BC americano deve manter taxas de juros elevadas até que haja queda relevante da inflação. Já a presidente do Fed de Cleveland, Loreta Mester, voltou a falar duro.

Segundo Mester, a inflação alta segue sendo o principal problema da economia americana e pode levar o Fed a "ir um pouco além" no aperto monetário.

"Hoje, o câmbio voltou a ficar pressionado com dados fracos dos PMIs na China, sinalizando que as medidas do governo para estimular o consumo não têm sido suficientes. Adicionalmente, houve um aumento dos juros dos Treasuries, com a expectativa de que o Fed vai manter o juro alto lá por um bom tempo, o que é ruim para divisas emergentes", afirma a economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli.

Em live promovida pelo Bradesco Asset, a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, observou que as incertezas sobre a persistência da inflação no exterior e manutenção de política monetária contracionista nos países desenvolvidos são os principais riscos no curto prazo.

"A economia americana tem sido constante fonte de surpresa positiva, mas entra em um período de mais incerteza sobre suas defasagens de política monetária e como será a política fiscal lá", disse Guardado. "Pode haver mais incertezas sobre como a economia americana vai performar em 2024, em um ambiente em que a segunda maior economia do mundo, que é a China, tem problemas. Para 2024, vemos algumas nuvens se formando."

Taxas de juros


Os juros futuros subiram nesta terça-feira, 5. A curva local replicou o desenho das pares nos Estados Unidos e Europa, que registraram ganho de inclinação puxado pelo avanço mais expressivo da ponta longa. Dados fracos de atividade e inflação na China e Europa acentuaram os temores sobre recessão global, em meio ao risco de manutenção de juros elevados nos EUA por mais tempo, impulsionando o dólar ante as demais moedas, com efeitos também sobre as taxas por aqui. Internamente, o único destaque foi a produção industrial de julho abaixo do esperado, mas sem potencial para mexer com os preços nem com apostas para Selic.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,61%, de 10,59% no ajuste anterior, a do DI para janeiro de 2026 subiu de 10,20% para 10,27%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,47%, de 10,37%, e o DI para janeiro de 2029 avançou a 10,96%, de 10,82%. O DI para janeiro de 2031 encerrou a 11,24%, de 11,04%.

A tensão nos mercados foi desencadeada logo cedo pela queda dos PMIs de serviços na China e na zona do euro. A deflação dos preços ao produtor na zona do euro (-0,5%) em julho foi outro sinal da alerta sobre o pulso da economia na região.

Com isso, as taxas na B3 já abriram em alta e foram escalando ao longo do dia, com máximas à tarde, quando também os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano atingiam os picos da sessão.

A diretora Fernanda Guardado, do BC, em participação em live da Bradesco Asset, classificou o cenário fiscal nos EUA como um desafio. "A dívida americana subiu substancialmente nos últimos anos e é uma dívida muito de curto prazo, com reprecificação de custo muito grande na medida em que o Fed sobe os juros", afirmou.

Ela enfatizou que pela primeira vez em muito tempo há sinais de que o mercado acredita que taxa de juros longa nos EUA seja maior do que o Fed prevê. A diretora citou que a taxa de 10 anos dos juros dos EUA tem subido de forma expressiva. No período da tarde, chegou à máxima de 4,27%.

O estresse na curva norte-americana decorreu justamente do temor de que o Fed, embora possa encerrar o ciclo de altas já em setembro, seja obrigado a sustentar os juros em níveis elevados por mais tempo, ainda mais sob a pressão do petróleo. O WTI e o Brent encerraram nesta terça nos maiores níveis em quase 11 meses e esse último acima de US$ 90.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o ambiente internacional explicou nesta terça quase 100% o comportamento dos DIs, uma vez que a terça-feira não trouxe novidades no noticiário local. "O steepening das curvas na Europa, Japão e EUA se replicou por aqui", resumiu, ao referir-se ao aumento da inclinação das taxas.

Nem a queda da produção industrial de julho (-0,6%) ante julho, bem maior do que a mediana das estimativas (-0,3%), conseguiu aliviar a pressão dos DIs, ainda que tenha sido lida como inequívoco sinal de desaceleração da atividade.

Bolsa


Amparado pelo forte desempenho de Petrobras na sessão (ON +4,60%, PN +3,34%), mas contido pela aversão a risco desde o exterior, após dados econômicos piores do que o esperado, na China e na Europa, terem reforçado a busca global por proteção no dólar, o Ibovespa se manteve em torno da estabilidade em boa parte da sessão desta terça-feira, sem encontrar fôlego para evitar o segundo dia negativo na semana. Como na segunda-feira, o ajuste foi leve no fechamento, em baixa de 0,38%, aos 117 331,30 pontos, colocando a perda na semana a 0,48% e limitando o ganho neste começo de setembro a 1,37%, em três sessões - no ano, o Ibovespa avança 6,92%.

Após o feriado da segunda-feira em Nova York, o giro financeiro subiu de R$ 12,0 bilhões para R$ 21,6 bilhões, nesta terça, em semana um pouco mais curta também no Brasil, com a pausa pelo 7 de setembro, na quinta-feira. Nesta terça, a referência da B3 oscilou entre mínima de 116.637,02 e máxima de 117.956,71 pontos, saindo de abertura aos 117.776,37.

"O Ibovespa chegou a trabalhar no positivo, mas teve um dia de pequena realização, no fechamento, com Petrobras como único ponto favorável, muito por conta do petróleo, com a notícia de que a Arábia Saudita vai estender o corte de produção até dezembro de 2023, contribuindo para o desempenho das empresas do setor na sessão", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Além de Petrobras, destaque também para Prio (+1,89%) e 3R Petroleum (+1,13%).

Por outro lado, no segundo dia como componente da carteira Ibovespa, PetroReconcavo caiu nesta terça 5,49% - terceira maior perda do índice na sessão, atrás de Via (-7,14%) e de CVC (-5,81%).

Na ponta ganhadora, além de Petrobras, destaque também para Assai (+4,24%) e Raízen (+3,89%). Na sessão, o desempenho díspar da PetroReconcavo em relação a outros nomes do segmento decorreu de preocupações dos investidores sobre como a empresa conseguirá acelerar produção após a Petrobras ter decidido interromper o desinvestimento no Polo Bahia Terra.

Nesta terça, com o Brent de volta à faixa de US$ 90 por barril após cortes voluntários de oferta, confirmados por Arábia Saudita e também pela Rússia, Petrobras foi a exceção positiva entre as ações de maior liquidez na B3 - Vale ON cedeu 0,43% e as perdas entre ações de grandes bancos chegaram a 2,15% (Bradesco PN) no encerramento do dia.

O Bank of America (BofA) elevou o peso da Petrobras na carteira LatAm, de 5% para 9%, refletindo o recente aumento da recomendação dos papéis para compra e a exposição da empresa ao petróleo, diante da previsão de preço da commodity acima do consenso.

"Sinal de alta para petróleo ajuda as empresas do setor, mas também pode significar mais inflação, o que se refletiu hoje no aumento dos rendimentos dos Treasuries", observa Moliterno, da Veedha, acrescentando que o movimento visto no exterior contribuiu para abertura da curva de juros, no Brasil, com a "possibilidade de um pouco mais de inflação pela frente".

Assim, com aversão mais disseminada a risco, o dólar à vista chegou a ser negociado na casa de R$ 4,98 na máxima da sessão, em dia no qual o índice DXY, que contrapõe a moeda americana a referências como euro, iene e libra, foi ao maior nível desde março. Em Nova York, na retomada dos negócios após o feriado pelo Dia do Trabalho nos Estados Unidos, os principais índices de ações mostraram perdas moderadas (Dow Jones -0,56%, S&P 500 -0,42%, Nasdaq -0,08%) no fechamento do dia.

Na zona do euro, o índice de atividade PMI recuou mais do que o esperado por analistas, o que se combinou a leituras também em desaceleração para o PMI composto e de serviços, da Caixin, na China em agosto. No bloco da moeda única, o PMI composto (indústria + serviços), em retração a 46,7 em agosto, tocou o menor nível em 33 meses. Além disso, pesquisa do Banco Central Europeu (BCE) indicou que a expectativa para a inflação de longo prazo aumentou, o que contribuiu para o desempenho negativo dos mercados acionários do velho continente na sessão.

"Bolsas recuaram, juros subiram e o dólar se fortaleceu também, globalmente. O desempenho dos ativos brasileiros foi influenciado por esse movimento. Internamente, não tivemos, hoje, muitos fatores novos: sem alterações no plano de voo do BC, na fala da diretora Fernanda Guardado em evento nesta terça-feira", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, acrescentando que a agenda legislativa, um pouco mais "travada" no momento, passa a operar em compasso de espera pela reforma ministerial. "Nesse ambiente, o que se impôs foi o cenário global, com mais relevância no dia de hoje", conclui o economista.

"O Ibovespa operou perto do zero a zero e o que segurou foi Petrobras, acompanhando a valorização do petróleo, com o anúncio sobre a diminuição da produção da Arábia Saudita. No quadro mais amplo, o cenário é praticamente o mesmo ao que tivemos nas últimas semanas, com giro ainda fraco, e sem gatilho local. Mercado ainda mantém desconfiança quanto à capacidade de o governo cumprir metas para a arrecadação", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.

A diretora Fernanda Guardado, do Banco Central, disse nesta terça que, no cenário externo, o risco de curto prazo mais preocupante para 2024 é a incerteza sobre a persistência da inflação global e as implicações quanto ao tempo em que a política monetária de países avançados será contracionista.

Por outro lado, Santander Asset elevou as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 no Brasil, de 2,2% para 3,0%, e o de 2024, de 1,0% para 1,5%. Na carta mensal de setembro, a instituição destacou que o crescimento da atividade econômica voltou a surpreender favoravelmente no segundo trimestre. "A expansão de 0,9% superou as previsões, com contribuição positiva dos setores industrial (+0,9%) e de serviços (0,6%), reforçando a percepção de uma economia resiliente", aponta a instituição.

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