SAÚDE
Mais de 800 mulheres morrem por dia no mundo devido a complicações na gravidez ou no parto
Levantamento aponta que, em 2020, foram 74,7 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos no Brasil
O acesso ao pré-natal é primordial para evitar a mortalidade materna e infantil em qualquer lugar do planeta. Porém, a estatística não é nada animadora quando detecta que, depois de anos estabilizado, o índice de mortalidade materna voltou a subir e a pandemia da covid-19 agravou o problema. Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) apontam que mais de 800 mulheres morrem diariamente no mundo devido a complicações na gravidez ou no parto. Informações do Ministério da Saúde indicam que, em 2020, foram 74,7 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos no Brasil, chegando a 117,4 mortes em 2021.
A chefe de Saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Luciana Phebo, lamentou o retrocesso durante o 20º Seminário Latino-Americano de Jornalismo em Ciência e Saúde, mediado pela farmacêutica MSD nos dias 19 e 20 em São Paulo. A especialista foi enfática ao afirmar que é importante a realização de um pré-natal bem feito, pois é nesta prática que a gestante identifica doenças capazes de colocar em risco sua vida e a do bebê. Além disso, afirma que é possível saber o tratamento adequado para cada situação.
Outro fator importante relatado por Luciana Phebo é que o pré-natal também é responsável pelo empoderamento da mulher e de sua família. Nestes encontros, a gestante, além de receber orientações sobre a gravidez, é informada sobre seus direitos e onde buscar. “Através do conhecimento adquirido durante este período, a grávida tem a liberdade de escolher como será o parto. Que forma será melhor para sua saúde e a do bebê, entre outras vantagens”, afirmou. A médica alertou que a prematuridade é uma das principais causas de mortes neonatais.
Daí a importância do parto normal, já que o Brasil é campeão em cesarianas. Phebo diz que, na maioria das vezes, são passíveis de prevenção; inclusive, 92% das causas não deveriam levar à morte. Vale lembrar que, entre as causas diretas da mortalidade materna, comuns no mundo todo, estão a hipertensão, hemorragia, infecção puerperal e aborto. A especialista completa que o Ministério da Saúde recomenda, no mínimo, seis consultas no pré-natal: sendo a primeira no primeiro trimestre, logo após o teste positivo, seguida por duas visitas ao ginecologista no segundo trimestre e três no terceiro. O retrocesso na saúde feminina nos últimos anos é visível.
Em 2021, segundo a chefe de Saúde do Unicef, 1.023 mulheres morreram, enquanto, no máximo, 100 poderiam ter ido a óbito se de fato tivessem acompanhamento prénatal. Outro fator importante é que a qualidade dos serviços médicos no Brasil e em outros países varia, seja pela desigualdade territorial, de raça ou de etnia. Prova disso é que, em 2021, as mulheres negras e pardas representaram 62% das mortes obstétricas, acima dos índices entre as mulheres brancas, que ficaram em 34,9%.
No entanto, quando se trata de cuidados pré-natais antes da pandemia, o Ministério da Saúde mostra que, em 2019, grande parte das mulheres grávidas teve pelo menos sete consultas pré-natais: 72,4%, com variação substancial entre as diferentes unidades geográficas. Assim, considerando as disparidades raciais, mais da metade (58,9%) das mulheres indígenas e 31,5% das mulheres negras tiveram menos de sete consultas de pré-natal.
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