SAÚDE
"Pior dor do mundo": neuralgia do trigêmeo é mais comum acima dos 50 anos
Doença debilitante tem tratamento na Santa Casa de Maceió
A neuralgia do trigêmeo é considerada uma das doenças mais aflitivas descritas na medicina. A ‘pior dor do mundo’, como também é chamada, tem caráter lancinante e é tão intensa que pode comprometer a vida social, familiar e profissional do paciente. A doença é mais comum em pessoas acima dos 50 anos, com discreto predomínio entre mulheres, mas também pode atingir indivíduos mais jovens.
De acordo com o coordenador do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia da Santa Casa de Maceió, Aldo Calaça, a doença afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face. “Esse nervo tem três divisões: uma que atinge a região da testa e da órbita, outra que se estende até a área malar e a última que percorre a mandíbula. A neuralgia pode atingir apenas uma dessas divisões, duas ou até mesmo as três, geralmente de forma unilateral e, raramente, bilateral”, explica.
A condição pode ser classificada como primária (ou essencial), quando não há causa aparente, ou secundária, quando está associada a tumores próximos ao nervo ou a doenças desmielinizantes. O tipo mais frequente tratado pela neurocirurgia decorre de uma compressão vascular, provocada por uma artéria ou veia em contato direto com o nervo.
Segundo Calaça, o diagnóstico deve ser bem diferenciado de outras dores faciais atípicas. O quadro clínico é marcado por dor súbita, de curta duração, que desaparece e retorna em crises recorrentes. “Muitas vezes o paciente descreve como se fosse uma ferroada, uma facada, uma dor em pontada. Pequenos movimentos como sorrir, escovar os dentes, lavar o rosto ou barbear-se podem desencadear a crise”, destaca.
Entre as alternativas terapêuticas estão os procedimentos percutâneos, que utilizam agulhas para atingir o nervo trigêmeo. Eles podem ser realizados por radiofrequência, no caso da rizotomia seletiva, ou por microcompressão, que induz uma isquemia no nervo. Ambos são métodos ablativos, ou seja, provocam uma lesão controlada para impedir o funcionamento do nervo e reduzir a dor.
Outra opção é a microdescompressão vascular, considerada o tratamento de escolha na maioria dos casos. A técnica consiste em afastar o vaso sanguíneo que comprime o nervo, por meio de microcirurgia realizada na região occipital. “Esse procedimento tem resultado excelente em cerca de 80% dos pacientes, que podem permanecer livres da dor por 5 a 10 anos, sem necessidade de medicação. Ainda assim, alguns pacientes podem necessitar do uso contínuo de fármacos, como anticonvulsivantes, para complementar o controle da dor”, afirma Calaça.
Em situações específicas, também podem ser adotadas técnicas como o reposicionamento de eletrodos, o reabastecimento da bomba de medicamentos e a crioablação do nervo, todas voltadas para o controle da dor e a melhoria da qualidade de vida.
A neuralgia do trigêmeo vem ganhando espaço no debate público. Tramita no Congresso o Projeto de Lei 1512/25, que propõe a criação da Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Neuralgia do Trigêmeo. O texto prevê diagnóstico precoce, acesso gratuito a medicamentos (incluindo derivados de cannabis medicinal), capacitação contínua de profissionais de saúde, campanhas de conscientização, estímulo à pesquisa científica e criação de centros de referência no SUS. O projeto também sugere o reconhecimento da condição como deficiência, garantindo direitos previdenciários, saque do FGTS e isenção de imposto de renda em aposentadorias.
Para o neurocirurgião Aldo Calaça, a iniciativa pode representar um avanço importante. “Os pacientes com neuralgia do trigêmeo merecem atenção especial. Muitos respondem bem ao tratamento e conseguem levar uma vida normal, mas existem casos em que a dor persiste e o paciente fica debilitado, sem condições de manter uma vida social ou profissional. Nesses cenários, é fundamental que haja políticas públicas de amparo e acompanhamento multiprofissional, incluindo suporte psicológico e psiquiátrico”, avalia.
Na Santa Casa de Maceió, o atendimento é realizado por uma equipe completa de neurologistas clínicos e neurocirurgiões, profissionais capacitados para diagnóstico, exames complementares e intervenções cirúrgicas. “Temos toda a estrutura necessária, recursos humanos e técnicos para oferecer tratamento adequado aos nossos pacientes”, reforça Calaça.