infertilidade

Saúde mental pode influenciar diretamente as tentativas de gravidez

Especialista destaca que estresse, ansiedade e pressão emocional afetam o corpo
Por Assessoria 17/12/2025 - 08:58
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Psicóloga explica como a saúde mental pode interferir no processo de mulheres que tentam engravidar
Psicóloga explica como a saúde mental pode interferir no processo de mulheres que tentam engravidar

A infertilidade atinge uma em cada seis pessoas em idade reprodutiva ao longo da vida, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), e, para muitas mulheres, o desafio vai além dos aspectos físicos e financeiros, envolvendo uma intensa carga emocional. A mestre em Psicologia Raquel Sartorato explica que o processo de tentar engravidar costuma ser marcado por expectativas elevadas, incertezas e frustrações, tornando o cuidado com a saúde mental um fator fundamental ao longo de toda a jornada.

De acordo com a psicóloga, a psicoterapia oferece um espaço seguro para acolher sentimentos, elaborar medos e lidar com possíveis resultados negativos, especialmente em tratamentos como inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV), que exigem altos investimentos emocionais, físicos e financeiros. Resultados frustrados, segundo ela, podem gerar culpa, vergonha, solidão e abalar a autoestima, tornando essencial o reconhecimento e o acolhimento desses sentimentos, em vez de sua negação.

Raquel ressalta que o acompanhamento psicológico tem importância em todas as fases do processo. Antes mesmo das tentativas, o cuidado ajuda no planejamento e na reflexão sobre expectativas, idealizações, experiências anteriores e possíveis traumas. Durante o percurso, auxilia no enfrentamento da pressão familiar e social, no medo do insucesso e nas decisões difíceis. Caso a gravidez aconteça, surgem novas questões, como a adaptação à rotina, a redefinição da identidade feminina e os receios ligados à maternidade, o que reforça a necessidade de um cuidado contínuo e personalizado.

A pressão para engravidar, muitas vezes vinda da própria mulher ou do meio social, também pode provocar sofrimento psicológico significativo. Segundo a especialista, o apoio do parceiro, da família e de profissionais de saúde mental é decisivo para tornar esse caminho menos pesado. Ainda assim, muitas mulheres relatam afastamentos nesse período, o que reforça a importância de uma rede de apoio baseada em escuta ativa, empatia e ausência de julgamentos.

Do ponto de vista fisiológico, a saúde emocional influencia diretamente o funcionamento do organismo, inclusive os sistemas hormonais e reprodutivos. Raquel explica que o estresse crônico ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, elevando o cortisol e podendo desregular hormônios essenciais à fertilidade, como o FSH e o LH, responsáveis pela ovulação, produção hormonal e preparação do útero para a gestação. Além disso, a desregulação emocional pode causar irregularidades no ciclo menstrual, redução da libido, evasão sexual e até interferir na qualidade dos óvulos e espermatozoides.

A psicóloga destaca ainda que ansiedade e depressão podem prejudicar as tentativas de engravidar tanto em métodos naturais quanto assistidos, dificultando a adesão aos tratamentos, levando à desistência precoce ou criando ciclos de ansiedade que comprometem os resultados. Alterações hormonais, ciclos irregulares e diminuição da libido são comuns em contextos de sofrimento emocional intenso.

Estudos científicos têm reforçado essa relação entre fertilidade e saúde mental. Pesquisas realizadas pelo Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI) indicam que até 65% das mulheres enfrentam dificuldades para engravidar associadas a fatores emocionais. Para Raquel Sartorato, esse dado evidencia o papel estratégico de ginecologistas e especialistas em reprodução, que geralmente são os primeiros profissionais procurados, na identificação do sofrimento psicológico e no encaminhamento adequado para acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.

“A fertilidade não é apenas uma questão biológica. Ela envolve aspectos emocionais, relacionais e existenciais”, afirma a professora do curso de Psicologia da Estácio e coordenadora do projeto de extensão “Mulheres, Hormônios e Produtividade”, ao defender uma atuação integrada entre profissionais de saúde como caminho essencial para oferecer suporte completo às mulheres tentantes.


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