PANDEMIA
Baixa testagem contribui para avanço da covid-19 em Alagoas
Estado tem mais de 8 mil pessoas aguardando resultado dos exames
Falhas na testagem da população para diagnóstico do coronavírus contribuíram para o avanço da covid-19 no Brasil e o trágico número de mortes, segundo avaliação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O país ultrapassou a marca de 200 mil mortos pela covid-19 na quinta-feira, 7, da semana passada, chegando a 205.965 nesta quinta-feira, dia 14. No início da pandemia o temor era que o Brasil registrasse 180 mil óbitos. Hoje, as projeções indicam que, mesmo com a vacinação, as mortes podem somar 300 mil em abril se o País não mudar a estratégia de testagem e rastreio, segundo alerta o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Domingos Alves, do portal covid-19 Brasil.
Desde o início da pandemia até o último dia 12, Alagoas realizou 229.285 testes para diagnóstico da infecção pelo coronavírus, onde 109.720 receberam resultado positivo e outros 8.162 estão em investigação laboratorial. Os dados são do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). O boletim de testes diários aponta uma cobertura de testagem baixa, de pouco mais de 2 testes para cada 100 mil habitantes no estado.
Estudo realizado pela Fiocruz em outubro do ano passado e divulgado recentemente, revela que o Amapá, Distrito Federal e Maranhão são os estados brasileiros que fizeram menos testes do tipo RT- PCR para detectar a covid-19. Esses locais tiveram taxas de, respectivamente, 0,3; 0,5 e 1,7 testes PCR feitos a cada 100 mil habitantes. Os testes PCR podem prever para onde está indo a pandemia, facilitando a tomada de decisão sobre medidas mais restritivas de circulação. O estado que mais fez testes PCR no país - São Paulo - teve uma baixa cobertura de testes ao se analisar a taxa por 100 mil habitantes: 9,5 testes a cada 100 mil, inferior a outros 14 estados do país.
No Rio de Janeiro, que segundo dados da Fiocruz tem a maior taxa de mortalidade por coronavírus do país, foram feitos apenas 7 testes PCR a cada 100 mil habitantes no mês de outubro. O Paraná foi o estado com maior taxa: 36,5 a cada 100 mil habitantes. Já Paraíba é um exemplo no Nordeste para testagem em números absolutos. O estado tinha disponível 70.141 testes e aplicou 78.963, uma taxa de 113% no uso dos exames. Não há uma taxa a ser perseguida pelos estados, mas a conclusão da Fiocruz é que a cobertura do Brasil em termos de testes para diagnóstico do coronavírus é baixíssima.
Alagoas ainda possui um estoque de 43.369 testes, segundo o boletim da Sesau, sendo 37.744 exames PCR e 5.625 testes rápidos.
Cientistas também apontaram outros fatores para o trágico número de mortes no Brasil: a política negacionista, ausência de coordenação nacional, medidas contraditórias e baixa adesão ao distanciamento social e individual colocaram o país nesse quadro gritante.
Com a vacinação contra covid-19 iniciada em mais de 40 países, mas ainda sem data no Brasil, a Fiocruz argumenta que só o aumento da testagem com rastreio pode conter o avanço da doença entre os brasileiros. “Um planejamento de aplicação de testes adequado permite identificar os indivíduos infectados e, somado à estratégia de rastreio de contatos, foi o que possibilitou a contenção da doença nos países que foram exitosos no enfrentamento da epidemia”, conclui o documento da Fiocruz.
Em maio do ano passado, o Ministério da Saúde chegou a elaborar um plano de testagem da população. A iniciativa era parte da estratégia de prevenção e combate à covid-19, construída com parceria de secretários estaduais e municipais de Saúde. A meta era realizar testes em 22% da população nacional. Na época, o governo já havia anunciado a compra de 46 milhões de testes. O cronograma previa 1,5 milhão de testes em maio; 4 milhões em junho; outros 4 milhões em julho; 3,2 milhões em agosto; 3,1 milhões em setembro; 3,1 milhões em outubro; 3,1 milhões em novembro; e 3 milhões em dezembro. Os números nunca ficaram perto de serem atingidos.
Se um dos problemas do Brasil foi não ter construído uma estratégia nacional de testagem, dificultando que gestores e cientistas lidassem com a situação da pandemia sem ter diagnóstico epidemiológico, outra questão igualmente importante e que vem contribuindo para o aumento dos casos é a agilidade nos resultados dos exames.
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