ARTE

Vidente transforma trauma de infância em música e se lança nos streamings

Por causa do bullying, Sara Zaad parou de cantar e até mesmo de ouvir música ainda criança
Por Redação 15/10/2024 - 19:55

ACESSIBILIDADE


Quem ouve a artista Sara Zaad soltando a voz e sua atitude decidida, nem imagina que ela transformou a dor de um trauma de infância em arte. A vidente lança nesta terça-feira, 15, a música "Ave Rapina", que retrata a superação, a liberdade e a força do feminino.

"Essa música retrata a minha busca pelo meu Eu maior, uma mulher 50+ que tem sede de vida! E também mostrar para as mulheres que acompanham meu trabalho que podemos sim nos superar, e principalmente, sermos livres", resume Sara.

Sara conta que a música tem a inspiração na força de mulheres que lutaram pela libertação do feminino. "As Deusas, Pombogiras, Maria Madalena, Joana Dark e principalmente em todas as nossas ancestrais, que lutaram para que chegássemos até aqui, e claro, na minha própria história. Além disso, é mostrar que para sermos 'religiosos' não precisamos nos anular, quebrar também a intolerância religiosa".

Para a artista, o momento é crucial para o feminismo, que precisa combater conceitos que, embora arcaicos, insistem em permanecer na sociedade.

"Ainda hoje classificam mulheres com coisas do tipo: 'essa é uma moça de família!' Pois bem, aqui não meu bem! Eu tenho família. Porém, não sou e nunca fui uma mulher tradicional, que foi construída dentro da cultura patriarcal que subjuga a mulher com todas as forças! Não fui uma moça de família, já que a liberdade é minha religião".

A música também ganhou um clipe, que tem um significado especial para a artista.

"A intenção principal foi mostrar o meu dia a dia e também quebrar tabus sobre a nudez do corpo da mulher, somos muitas em uma só, nossas vidas, entre dores e amores, nos transforma e essas vivências me fazem renascer todos os dias, afinal só morremos uma vez, mas nascemos todos os dias ao amanhecer".

Para produzir a canção, Sara passou por oito meses de preparação junto à produtora. Entretanto, o tempo que precisou para começar a soltar a voz foi bem maior. Ela conta que sofreu bullying durante a infância, o que a deixou traumatizada e, por isso, deixou de ouvir músicas e, principalmente, de cantar.

"'Você é muito desafinada' ou 'nossa, cala a boca'. [Essas frases] me fizeram parar de ouvir músicas e nunca tentar cantar. Nem mesmo no chuveiro eu cantava", lamenta Sara, que conta ainda que demorou para perceber o quanto essas ofensas a afetaram. Foi numa viagem a França, quando um pianista pediu para que ela cantasse a música "Trem das Onze" como ele.

"Eu senti muito medo, como uma criança acuada. Pedi ao meu amigo que dissesse que eu não sabia cantar. Naquela hora, com a insistência dele, eu queria morrer. Aquela experiência me fez entender que eu tinha esse trauma e o quanto era nocivo para mim", lembra.

Sara conta que, por ter parado de ouvir músicas ainda na adolescência, não tem referências musicais além dos clássicos ouvidos por familiares e em festas. "Não tive o privilégio de ter inspirações, já que a perseguição contra minha voz era constante. Fui professora de dança do ventre e para calar minha voz 'desafinada e feia', como todos diziam, passei minha vida ouvindo músicas instrumentais".

A artista ainda não tem planos para shows. Para ela, a hora é de colocar em prática o que não conseguiu fazer por anos. 

"Nesse momento, a luta é poder cantar! No chuveiro, na rua, de dia e de noite. Cantar por todos esses anos que fui calada pelo preconceito daqueles que ainda hoje classificam a arte como feia ou bonita, mas arte é arte. Não existe arte feia ou bonita. Se a arte de alguém não agrada seus ouvidos ou olhos, lembre-se, a arte não é sua!".

Toda a jornada de superação vivida por Sara resultou na música "Ave de Rapina". A expectativa da arista sobre o que os ouvintes podem esperar não poderia ser diferente: "O aprendizado de que nunca é tarde para se superar, que não há ninguém além de nós que possa nos impedir de vivermos o que queremos ser".

Leia mais sobre


Encontrou algum erro? Entre em contato