ARTE POPULAR

Artista alagoana Tania Pedrosa é homenageada e lança livro no RJ

Aos 90 anos, Tania é uma referência na arte brasileira, conhecida por sua pintura naïf
Por Assessoria 09/12/2024 - 19:45

ACESSIBILIDADE

Assessoria
Tania Pedrosa tem obras consagradas em salões de arte e bienais no Brasil e na Europa
Tania Pedrosa tem obras consagradas em salões de arte e bienais no Brasil e na Europa

O Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), em parceria com o Sebrae Alagoas, abre a exposição “Das Lagoas ao Imaginário Popular”, em homenagem à artista alagoana Tania de Maya Pedrosa, a partir de quarta-feira, 11, na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro, sede do CRAB. Aos 90 anos, Tania é uma referência na arte brasileira, conhecida por sua pintura naïf, e uma das maiores representantes do gênero. Tania Pedrosa tem obras consagradas em salões de arte e bienais no Brasil e na Europa.

Durante a exposição serão lançadas as 3ª e 4ª edições do livro Arte Popular de Alagoas, de Tania Pedrosa. Uma obra icônica que teve seu lançamento original em 2000. Após 24 anos da publicação, a obra foi remodelada, revista e atualizada, com apoio do Governo de Alagoas, por meio da impressão da 3ª edição do livro pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, e a 4ª edição, pela editora alagoana Querida Prudência. A obra traz novos olhares sobre a arte e a cultura populares de Alagoas e do Nordeste. A publicação tem um arrojado projeto gráfico (com ilustrações e fotos), lindo acabamento, idealizado pela agência Núcleo Zero.

A publicação, que resgata o icônico livro, lançado no ano 2000, em Madrid, na Espanha, traz novos olhares sobre a arte e a cultura populares de Alagoas e do Nordeste, em um esforço incomum, mas prazeroso, de Tânia Pedrosa. O livro contém textos, artigos, ensaios, fotografias e poesias selecionados para essa edição comemorativa. O livro ganhou contornos atuais e análises contemporâneas sobre Arte Popular, e revisitou textos originais das edições de 2000 e 2003, por sua importância histórica.

Entre os novos convidados e colaboradores estão artistas e especialistas, como Augusto Luitgards, Oscar D´Ambrósio, Adélia Borges, Marinilda Boulay, e os críticos de arte francês, Laurent Danshin, e a brasileira radicada no Velho Continente, Cères Franco. Presentes também grandes nomes do Nordeste, como Frederico Pernambucano de Mello, Luiz Sávio de Almeida, Théo Brandão, Cármem Lúcia Dantas, Dirceu Lindoso. Seria uma longa lista, se nomearmos os autores dos artigos dos 12 capítulos da nova edição.

O livro Arte Popular de Alagoas é uma experiência sensorial pelo mundo da arte popular brasileira, com textos e fotos ilustrando histórias da criatividade de homens e mulheres que já nasceram artistas, talhando a madeira, moldando o barro e a cerâmica, bordando as tecituras de suas vidas. O olhar sensível de Tânia conseguiu ver o que poucos enxergavam, em uma época que a arte popular era invisível ou vista com preconceito. Sempre à frente de seu tempo, ela reconhecia o valor inigualável da expressão das raízes e da ancestralidade de Alagoas, vinda das mãos dos mestres e mestras.

Tânia não só deu visibilidade à singularidade a esses tesouros, até então irrevelados, como estimulou e fortaleceu a produção dos artistas populares. E assim, esses artistas estão na primeira prateleira de colecionadores e galerias de arte. O livro traz histórias de nomes revelados por Tânia Pedrosa, como Fernando da Ilha do Ferro, Manoel da Marinheira de Boca da Mata, João das Alagoas e Sil de Capela, Irinéia do povoado quilombola de Muquém, Resêndio do Baixo São Francisco e Antônio de Dedé de Lagoa da Canoa.

Em seus 50 anos de garimpo de arte popular, Tânia formou uma das maiores e mais relevantes coleções de arte popular alagoana e nordestina, seu acervo possui mais de 1.500 peças de artistas populares de Alagoas e do Nordeste, incluindo a coleção permanente A Invenção da Terra, na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Maceió.

A EXPOSIÇÃO

A mostra está organizada em quatro espaços que levam o visitante a uma viagem pela história e riqueza cultural de Alagoas, entre eles o “Sertão Sempre Vivo", com obras que revelam o olhar de Tania sobre o Sertão, com peças que refletem o universo árido e forte dessa região. Entre outras atrações estão obras de artistas ligados aos principais centros de arte popular de Alagoas, como os escultores em madeira da Ilha do Ferro e Lagoa da Canoa; no Sertão; o polo ceramista artesanal de Capela e os mestres da madeira de Boca da Mata. A mostra ficará em exibição até o início de março de 2025.

A exposição que chega ao Rio de Janeiro, já esteve em cartaz em Paraty (RJ) e Maceió (AL), em 2023. Na exposição Tania Pedrosa foi pintada e bordada por mais de sessenta artistas de todas as regiões do país e apresentada na exposição “Das Lagoas ao Imaginário Popular: Tributo aos 90 anos de Tânia de Maya Pedrosa”, com curadoria de André Cunha e Parísina Ribeiro. “Sinto na alma um sentimento de felicidade, pela homenagem. É como se me transportasse ao começo de tudo, rejuvenescida em sonhos, na minha infância e juventude, quando comecei a criar minhas bonecas de pano, meus tapetinhos bordados, minhas pinturas ingênuas, vida a fora”, escreveu Tânia no livreto da exposição.

O superintendente do Sebrae Nacional, Vinicius Lages, destacou que esta é uma amostra do trabalho de Tania de Maya Pedrosa, artista plástica e militante da cultura. Segundo ele, "Tania nos revelou muitos artistas populares e artesãos, não só em Alagoas, mas em todo o Brasil, devido ao seu diálogo regional e nacional". Lages ressaltou que a artista foi capaz de "trazer da invisibilidade muitos artistas e artesãos", contribuindo para a valorização do artesanato e da arte popular. Através de sua arte naïf, Tania alia suas pinturas e quadros à representação dessa cultura popular e artesanal, em um trabalho que mescla o material com o imaterial, refletindo a alma alagoana.

Para o curador da exposição no CRAB, André Cunha, assinala que a proposta da curadoria da exposição é evidenciar a real afinidade da artista com a arte popular e o artesanato brasileiros. “Essa identificação é traduzida em um cordel prenhe de toda a poética que caracteriza o gênero. A mostra destaca não só a significativa produção artística de Tania, mas a expressividade de sua coleção de arte popular, constituída ao longo dos últimos cinquenta anos e que ainda está em expansão.”

A mostra ficará em exibição até o início de março de 2025, possibilitando aos visitantes apreciarem a profundidade da cultura alagoana. Além da mostra, algumas peças de artesãos que estão representadas na Mostra estarão disponíveis para compra na loja do CRAB, permitindo que o público leve um pouco da arte alagoana para casa.

A ARTISTA

Filha de Paulo de Ramalho Pedrosa, ecologista pioneiro de Alagoas, e Benita Mathilde de Maya Pedro- sa, professora de piano clássico, Tânia de Maya Pedrosa nasceu em Maceió, em 27 de outubro de 1933. Na infância foi uma senhorinha na casa grande da família, com aulas de piano e violão impostas pela mãe. Na juventude iniciou, por volta dos 14 anos, seu processo de “libertação” dos hábitos burgueses. “Minha mãe só comprava aquelas revistas Sabrinas. Eu tinha que esconder os livros cuja leituras me influenciaram. Então fui mudando e fiquei mais astuta. Queria liberdade, uma coisa diferente em minha vida. Esse foi o momento de ruptura”, recorda. Destinada a romper com as tradições a que lhe eram impostas pelo tempo e meio social em que vivia, a artista mudou os rumos da sua história através da arte. Transitou pela literatura, moda e finalmente pela pintura. E foi com a arte Naïf que encontrou prazer na vida e vem percorrendo esse caminho de descobertas, cores e saberes.

As pinturas de Tânia se destacam pelas cores majestosas e pelos desenhos de traços simples, carregados de um universo simbólico nordestino, com referências às crendices populares e tradições religiosas, sendo ela uma cronista que interpreta e transpõe para as telas a realidade em que vive e respira. Segundo André Cunha, a obra de Tânia é uma explosão de talento em seu universo simbólico, praticamente uma expressão muito própria dela mesmo. “Tânia tem uma produção visceral, e não vem programada para agradar à crítica e ao público. Tem sua maneira de ler a cultura brasileira, ler o Nordeste, ler o Cangaço e a religiosidade popular”, enfatiza Cunha.


Encontrou algum erro? Entre em contato