TECNOLOGIA
Empresa pivô de polêmica sobre privacidade no Facebook fecha
Pivô da recente polêmica envolvendo o Facebook e a privacidade dos usuários, a consultoria Cambridge Analytica anunciou que vai encerrar atividades devido a uma queda nos negócios.
A empresa não resistiu à perda de clientes e a multas após investigações sobre o vazamento de dados de 87 milhões de usuários da rede social e sobre o emprego deles para direcionar anúncios de políticos e influenciar eleições.
Entre as votações suspeitas de terem sido alvo de interferência estão o pleito presidencial nos Estados Unidos, em 2016, que elegeu Donald Trump, e o referendo que, no mesmo ano, decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia -o chamado "brexit".
O encerramento foi antecipado pelo jornal americano Wall Street Journal nesta quarta (2). A reportagem detalhava que a firma de fato fechou as portas, tendo comunicado funcionários para que desligassem computadores.
As informações foram confirmadas em um comunicado. Segundo o texto, a companhia e sua controladora, a SCL Elections Ltd., iniciaram um pedido de falência.
"O cerco da imprensa afastou quase todos os clientes e fornecedores da companhia", afirma o comunicado.
"Como resultado", prossegue o texto, "a empresa não mais possui condições de operar, e não restam opções que não colocá-la sob administração [externa, em falência]".
A Cambridge Analytica passou a ser investigada na Europa e nos EUA após a divulgação de que dados de perfis de usuários do Facebook haviam sido captados sem autorização e utilizados para influenciar campanhas eleitorais.
A captura se deu com um "quiz" sobre gostos pessoais que, uma vez autorizado pelo participante, coletava dados dele e de amigos sem anuência destes. Comandado pelo pesquisador Aleksandr Kogan, da Universidade de Cambridge, o expediente repassou à consultoria dados de mais de 87 milhões de pessoas.
As informações foram usadas pela consultoria para impulsionar campanhas.
Segundo as investigações, a Cambridge Analytica usava os dados para que anúncios tivessem melhor direcionamento, atingindo potenciais eleitores com informações e argumentos aos quais eram mais sensíveis.
Após o anúncio, a agência britânica que regula dados e privacidade informou que vai prosseguir com investigações nas áreas civil e criminal e que vai responsabilizar "indivíduos e diretores", a despeito do fechamento.
A empresa nega as acusações e diz que "apesar dos muitos esforços, foi vista como vilã por atividades que são não só legais, mas aceitas como padrão sobre anúncios digitais tanto na arena política quanto na comercial".
Usuários, entidades e governos, contudo, discordam da correição das atividades da consultoria. Suas críticas nos últimos meses causaram uma crise sem precedentes, que arrastou também o Facebook.
O escândalo do vazamento de dados obrigou o fundador da rede social, Mark Zuckerberg, a dar um longo depoimento ao Congresso dos Estados Unidos, em abril.
A plataforma gora tenta evitar processos judiciais e multas de até US$ 40 mil (R$ 131 mil) por usuário afetado.
O Facebook também adotou medidas para responder à crise, como a divulgação de seu manual de conduta e a elevação da idade mínima para o uso do WhatsApp na Europa.
Mas as explicações não foram consideradas convincentes por usuários, analistas e políticos, e a empresa sofre com críticas e baixas.
Uma delas foi a do fundador do WhatsApp, Jan Koum, que vendeu o aplicativo ao Facebook em 2014 por R$ 66 bilhões e, neste ano, decidiu se afastar da companhia alegando preocupação com a segurança dos dados.
Apesar da crise, o Facebook teve alta de quase 50% em seu faturamento no primeiro trimestre de 2018, que atingiu US$ 11,97 bilhões (cerca de R$ 41,66 bilhões).