CPI DA COVID
Ministro da CGU diz que não houve omissão na negociação da Covaxin

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado, nesta terça-feira (21), o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, defendeu-se das acusações de prevaricação e omissão em relação ao governo federal no caso da negociação para a compra da vacina Covaxin entre o laboratório indiano Bharat Biotech e o Ministério da Saúde.
Ainda em sua fala inicial, o chefe da CGU ressaltou que, desde 2019, Marconny Albernaz Faria, apontado pela comissão como lobista da Precisa Medicamentos, está sob investigação pelo órgão. Segundo o ministro, apurações levam tempo, além do fato de o acesso a informações seguir protocolos legais, já que as investigações estão sob sigilo. A suspeita da CPI é que Marconny Faria tenha atuado para garantir vitórias da Precisa em licitações. A empresa intermediou o contrato com o Ministério da Saúde para a compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin ao custo de R$ 1,6 bilhão. A operação foi cancelada após denúncias de irregularidades trazidas pela comissão.
Segundo o ministro, a CGU teve conhecimento apenas em junho deste ano, pela imprensa, de suspeitas do envolvimento da Precisa em atividades suspeitas no Ministério da Saúde. A CGU solicitou, então, o compartilhamento de informações. A autorização veio em 8 de julho, após decisão judicial.
De acordo com Wagner Rosário, o conteúdo do celular de Marconny sobre a Precisa foi separado em 31 de março deste ano. O tempo de análise foi de cinco meses, e o protocolo no sistema do CGU foi feito em agosto. O ministro afirmou ainda que não houve prevaricação porque não há medidas legais pendentes. “A licitação em que houve tentativa de interferência pelo grupo de Marconny Albernaz foi cancelada e não foi usado nenhum real dos cofres públicos”, destacou Rosário durante a reunião, que teve momentos de tensão e bate-boca.
À CPI, Wagner Rosário disse ainda que a operação que teve como alvo o lobista corre em segredo de Justiça. Ele pontuou que, para evitar vazamentos, as informações colhidas ficam a cargo apenas dos servidores envolvidos, por isso, ele não tinha conhecimento do assunto.
Sobrepreço
Rosário afirmou que não houve superfaturamento ou sobrepreço no contrato para a aquisição do imunizante indiano. “Superfaturamento é o ato que acontece após o pagamento com um desembolso financeiro acima do valor de mercado. Como não houve o ato, não teve a contratação efetivamente e, por óbvio, não houve o superfaturamento”, defendeu o ministro.
Wagner Rosário considerou ser “completamente razoável” que a auditoria da CGU tenha adotado como parâmetro para embasar o preço da dose da Covaxin informações do site da fabricante indiana Bharat Biotech.
O relator do colegiado, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que é “absolutamente ridículo” que a CGU tenha permitido que “negociação espúria seguisse”, tendo como parâmetro o preço de US$ 17 por dose em consulta ao site da Precisa Medicamentos. Segundo Renan, o valor era 70% superior ao de outros imunizantes que já tinham sido contratados pelo governo federal com outras fabricantes. Senadores como Simone Tebet (MDB-MS) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) acrescentaram que técnicos da própria CGU, na auditoria sobre o processo, manifestam as mesmas dúvidas que a CPI em relação às informações que viessem a justificar a contratação do imunizante com o preço estabelecido pela Precisa. Dados colhidos pela CPI teriam indicado negociações anteriores, em 2020, com a dose a US$ 10.
O ministro insistiu que a Controladoria-Geral da União se apoiou na Lei 14.124, de 2021, para tomar as informações do site como parâmetro para justificar o preço da dose. Ele ainda acusou o relator de ter colocado palavras na boca dele ao apresentar dados diferentes sobre o assunto. “Mais uma vez o senhor [Renan Calherios] coloca na minha boca palavras que eu não disse. A pesquisa foi realizada junto a Bharat Biotech e não a Precisa. Não fizemos pesquisa junto a Precisa, fizemos pesquisa com a Bharat Biotech. Empresa que vende e que informou que em nível mundial vende as vacinas entre US$ 15 e US$ 19 e não são US$ 17 como o senhor repete aqui”, rebateu.
Questionado por senadores sobre o motivo de a CGU não ter agido para impedir o andamento da negociação da Precisa mesmo identificando irregularidades, Wagner Rosário defendeu o respeito ao “processo legal” e disse que "ninguém pode ser condenado de pronto no Brasil".
Diante da resposta do depoente, o relator da CPI avaliou que mandar prosseguir processo com irregularidade "não é processo legal". Rosário então pediu a apresentação de documento em foi determinado o seguimento do processo. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e outros senadores reforçaram que o problema foi não interromper o processo e apontaram omissão da CGU.
Sigilo
Ainda sobre a análise de irregularidades no contrato da Covaxin, o ministro da CGU disse que “sigilo faz parte do processo”. A resposta irritou parte dos senadores, que por várias vezes reclamaram da postura do ministro.
A respeito do motivo de a CGU não ter pedido a suspensão do processo ao identificar o uso de documentos considerados falsificados pela Precisa, Rosário pediu que o relator da CPI apresentasse qualquer documento da Controladoria que tenha determinado o prosseguimento do processo de compra. Segundo o ministro, a pasta instaurou um processo administrativo para investigar a suposta falsificação de documentos apresentados pela Precisa.
Wagner Rosário também foi questionado sobre o que a pasta fez para apurar as supostas irregularidades e qual foi a posição da CGU quando o Ministério da Saúde determinou sigilo sobre o processo administrativo que registra a compra da vacina indiana.
“Nós não tomamos nenhuma medida, sigilo faz parte do processo”, respondeu Rosário. Diante de protestos de membros da CPI, Wagner Rosário prosseguiu, questionando se o contrato da Pfizer também estaria aberto. Ao ouvir do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) que sim, Rosário desmentiu o parlamentar e negou que o documento esteja disponível para consulta pública.
Agentes públicos
Diante de questionamentos do relator sobre investigações de servidores públicos, o ministro afirmou que 170 agentes públicos passaram por busca e apreensão em operações feitas em conjunto pela CGU e pela Polícia Federal. Sobre o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o ex-secretário executivo da pasta, Elcio Franco, e o ex-diretor de logística Roberto Dias, o ministro da CGU disse que o órgão "não realiza relatórios de pessoas físicas, apenas de fatos".