Trump forma gabinete na Casa Branca com objetivo de frear 'influência da China' na América Latina
Em entrevista à Sputnik, Jesús Ricardo Mieres Vitanza, especialista em relações internacionais e gestão de conflitos, analisa como essas nomeações representam uma nova estratégia nas guerras híbridas que os Estados Unidos travam globalmente.
Segundo o especialista, a estratégia norte-americana evoluiu significativamente desde a Guerra Fria, quando o foco era conter o comunismo e consolidar sua influência comercial na América Latina e na Europa. Esse esquema mudou radicalmente após os ataques de 11 de setembro de 2001.
"Na América Latina, podemos identificar rastros de como os EUA utilizam formas não convencionais de guerra em cada país do continente. Não apenas ao impor mais de 900 sanções a uma nação soberana, mas também ao sabotar novas formas de relacionamento entre países, proibir aproximações a nações desalinhadas com as políticas norte-americanas, como China e Rússia, e ao buscar fortalecer a dependência tecnológica dos EUA, entre outras ações", aponta Mieres Vitanza.
Trump e as nomeações 'pouco convencionais'
As nomeações de Trump, que incluem Marco Rubio como figura central, Pete Hegseth na Defesa, e Tulsi Gabbard, ex-democrata e agora republicana, foram interpretadas como pouco convencionais. No entanto, Mieres Vitanza discorda.
"Minha opinião é que esse gabinete é muito ortodoxo. A maioria dos indicados está vinculada à ala radical da direita norte-americana e possui ampla experiência em temas de defesa", afirmou.
Para o analista, o foco da equipe de Trump é priorizar a contenção da China e romper alianças estratégicas na América Latina. "O objetivo desse time é frear a influência de Pequim na região e enfraquecer blocos como os BRICS ou a Aliança do Pacífico", assegurou.
Pressão sob a Ucrânia para negociar fim do conflito
O especialista também destacou que uma possível negociação no conflito ucraniano poderia liberar recursos para uma agenda mais voltada à revitalização da indústria norte-americana e à redução da inflação.
"Essas prioridades internas também afetarão as dinâmicas globais, particularmente em economias emergentes como as da América Latina", acrescentou.
Um componente crucial das guerras híbridas é a dimensão cognitiva, na qual as redes sociais desempenham um papel central. Para Mieres Vitanza, essas plataformas não são apenas ferramentas de comunicação, mas também instrumentos de controle e manipulação.
"Minha percepção é que essas redes sociais buscam criar um padrão de pensamento que elimina a presença do Estado. Em determinado momento, isso parecia um plano da elite digital de Silicon Valley, com redes sociais [...]. Mas com o surgimento do TikTok, que não foi criado por esses círculos, boa parte da elite política dos EUA se alarmou", detalhou Mieres Vitanza.
Para o especialista, as redes sociais "são fundamentais na fabricação de um senso comum que molda nossa compreensão da realidade". Ele destacou como essas plataformas uniformizaram padrões de pensamento e comportamento globalmente. "Criam novos conceitos, novas formas de nos comunicarmos, novas maneiras de entender a realidade", observou.
A aquisição do Twitter por Elon Musk foi interpretada pelo especialista como uma manobra estratégica e parte dessa guerra cognitiva que contribuiu para levar Trump à presidência. Nesse sentido, Mieres Vitanza não acredita que o papel de Musk se limite a tornar a estrutura governamental mais eficiente.
Por Sputinik Brasil