Análise: na Cúpula do BRICS, Brasil e aliados 'reafirmam soberania' perante EUA

Por Sputnik Brasil 07/07/2025 - 20:30
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Análise: na Cúpula do BRICS, Brasil e aliados 'reafirmam soberania' perante EUA

A 17ª Cúpula do BRICS, encerrada nesta segunda-feira (7) com 126 pontos acordados na declaração final, na primeira vez em que os novos membros participaram da cimeira. Para analistas, reivindicações e interesse pelo bloco mandam recado para a ordem internacional vigente.

Do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao chanceler russo, Sergei Lavrov, líderes das nações que compõem o BRICS e convidados abordaram a importância do multilateralismo nesta 17ª edição da cúpula, sediada no Rio de Janeiro. A temática, bem se sabe, não é novidade para o grupo.

"Desde a primeira declaração do encontro de 2009, o BRICS mostra recorrentemente que a reforma das instituições internacionais e do âmbito da governança global é uma das frentes mais relevantes dentro da proposta do bloco", relembra Gabriel Rached, professor e pesquisador em economia política internacional contemporânea e pós doutor em estudos internacionais pela Universidade de Milão.

Seguindo esta seara, a presidência brasileira encontrou formas de capitanear o encontro priorizando temas como saúde global, tecnologia e inteligência artificial e mudanças climáticas, buscando fortalecer a cooperação do Sul Global na direção de uma governança mais inclusiva e sustentável.

Segundo Rafaela Mello Rodrigues de Sá, pesquisadora associada ao Public Banking Project da McMaster University (Canadá), a cúpula brasileira buscou "entender os interesses convergentes que esses países tinham, para facilitar um certo consenso nessas pautas".

Diante do contexto, os especialistas acreditam que a cúpula do Rio de Janeiro, apesar de contar com ausências como as dos presidentes de China e Rússia, Xi Jinping e Vladimir Putin, respectivamente, alcançou os objetivos propostos no início.

Para Rodrigues de Sá, a presidência brasileira do BRICS faz parte de um processo mais amplo de reinserção do Brasil nas discussões globais e ajuda a consolidar a agenda que leva adiante os temas do desenvolvimento global mais inclusivo e maior compromisso com o financiamento para mitigar efeitos das mudanças climáticas.

Trump ameaça o BRICS

Fora de qualquer previsão, entre o primeiro e o segundo dia da Cúpula de Líderes, o presidente Donald Trump exerceu um pouco de pressão externa através de suas redes sociais, na qual , publicou que taxaria em 10% países que se alinhassem às políticas do BRICS, descritas por ele como "anti-americanas".

Durante coletiva, nesta segunda-feira, o presidente Lula respondeu e criticou o chefe do governo dos EUA.

"Não acho muito responsável um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da Internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperadores, somos soberanos. É equivocado e irresponsável."

Ao receber a cúpula dos BRICS e buscar alternativas para uma maior intensidade de trocas comerciais entre esses países, o Brasil "reafirma o papel da soberania do BRICS declarando que não se deve aceitar interferências ou ingerências externas nas instituições domésticas", diz a pesquisadora.

Gabriel Rached, por sua vez, destaca que, ao passo que Trump faz declarações efusivas sobre taxações, mais é evidenciado que o o formato proposto em Bretton Woods não é eficiente na hora de pilotar as questões internacionais.

"Depois da pandemia essas instituições saíram muito desacreditadas, isso trouxe como consequência um cenário de crise do multilateralismo, que é atacado internamente pelo próprio propositor, os Estados Unidos", explicou.

Observando esse cenário, cada vez mais países têm interesse em entrar no BRICS, destaca o especialista. Atualmente, pelo menos 40 países já demonstraram interesse em fazer parte do grupo. "É praticamente um quarto de todos os países", diz.

"É emblemático o movimento que o grupo está fazendo, porque mostra que o sistema anterior, do jeito que está funcionando, não tem a credibilidade e a representatividade que foi proposta."

Por Sputinik Brasil


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