Conteúdo do impresso Edição 1269

ELEIÇÕES

Arthur Lira afrouxa bases eleitorais para Calheiros

Efeito JHC mexe nas composições pelo interior e isola futuro do prefeito
Por ODILON RIOS 08/06/2024 - 05:00

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SAULO CRUZ-AGÊNCIA SENADO
Senador Rodrigo Cunha
Senador Rodrigo Cunha

A decisão do prefeito JHC (PL) de negar a vaga de vice ao indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e escolher o senador Rodrigo Cunha (Podemos) traz efeitos imediatos no interior do estado. E aproxima Lira do senador Renan Calheiros (MDB) e do presidente da Assembleia, Marcelo Victor (MDB).

Em Marechal Deodoro, o PL, do ex-prefeito Cristiano Matheus, deve perder o apoio do PP, cotado para indicar o vice. 

Em Rio Largo, Lira sinalizou através do prefeito Gilberto Gonçalves (PP) que aceita a aproximação com o MDB. Esta ponte está sendo construída pelo governador Paulo Dantas (MDB).

Mesma coisa em União dos Palmares. O PL de Bruno Lopes deve ficar menor, facilitando a reeleição do vereador Ricardo Praxedes e a reeleição do prefeito Areski Damara de Omena Freitas Junior, o Kil (MDB).

Em Arapiraca, o Podemos de Cunha está na aliança do prefeito Luciano Barbosa (MDB). Mas o PL de Fabiana Pessoa e JHC é oposição.

Ao mesmo tempo, JHC terá como última escolha fazer um voo solo em direção ao Palácio República dos Palmares ou ao Senado em 2026 se quiser sobreviver da e na política local. Isso após romper com:

- Renan Filho, que fez com JHC a primeira dobradinha nas eleições de deputado estadual, no ano de 2010, e deputado federal em 2015;

- o então prefeito e antecessor Rui Palmeira, que também o ajudou na reeleição a deputado federal em 2019;

- Davi Maia e Francisco Sales, pilares da eleição a prefeito da capital;

- Ronaldo Lessa, eleito vice-prefeito e que abriu mão da própria candidatura a prefeito após também o PDT nacional impor aliança com JHC;

- Rodrigo Cunha, temporariamente. JHC liderava o PSB e Cunha estava no União Brasil. Os dois partidos quase não coligaram na eleição para governador em 2020;

- o PSB, indo para o PL do então presidente da República Jair Bolsonaro. O PSB estava sendo negociado em Brasília para a família Dantas. Hoje o partido é liderado por Paula Dantas, secretária estadual de Planejamento e filha do governador.

- Arthur Lira e o ex-deputado estadual Davi Davino, que aguardavam a indicação do vice-prefeito. Davi Davino Filho é filho da deputada Rose e do vereador da capital Davi Davino. Foi candidato a prefeito de Maceió em 2020 e ao Senado dois anos depois. Em ambas eleições ficou na terceira colocação. Segue no grupo do presidente da Câmara.

Até o fechamento desta edição, na quinta-feira, 6 de junho, pouco antes do meio-dia, Lira não anunciou rompimento político com o prefeito. Porque na base de JHC existem três deputados federais do lirismo: Fábio Costa (PP), Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil) e Marx Beltrão (PP). E os três não mostram disposição em entregar suas indicações em cargos comissionados na máquina municipal.

O calheirismo já antevê para 2024 a futura briga eleitoral pelo comando de Alagoas que acontece, de fato, em 2026. Pelo cenário desenhado hoje, o conflito será entre JHC e o ministro dos Transportes, Renan Filho. Objetivo de ambos: o Palácio República dos Palmares.

E o governo enxerga que, no final, Lira não perdeu tanto assim porque:

- o próximo presidente da Câmara de Vereadores da capital é Marcelo Palmeira, que anda às turras com Lira, mas sabe que acumularia mais desvantagem se rompesse com o presidente da Câmara;

- Por sua vez, os Calheiros puxaram o freio de mão na candidatura de Floriano Melo na Barra de São Miguel, onde quem manda é Benedito de Lira, pai de Arthur. O vice vai para a eleição, mas terá menos apoio do que precisaria numa virada de jogo;

- Em Murici, e de propósito, as oposições não se unem para enfrentar os Calheiros. Lira faz cara de muxoxo na cidade. Ou seja: escolheu beneficiar o inimigo;

- O lirismo também avalia que queimar dinheiro para enfrentar uma reeleição já garantida de JHC deve ser uma tarefa dos principais interessados: os Calheiros. Neste caso, Rafael Brito.

- Lira tem o comando das principais secretarias na Prefeitura de Maceió. Por enquanto não há sinais de que o prefeito tomará os postos;

- O presidente da Câmara também se livra do peso de estar numa campanha além de possíveis vaias. O eleitor da capital não dá a popularidade que Lira crê ser merecedor.


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