Conteúdo do impresso Edição 1273

ELEIÇÕES

JHC investe no ‘plano Collor’ para a reeleição

Poderosa máquina de comunicação usa elementos antigos que funcionam
Por ODILON RIOS 06/07/2024 - 05:00

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EDVAN FERREIRA/SECOM MACEIÓ
JHC e Collor em encontro durante a pandemia, em 2021
JHC e Collor em encontro durante a pandemia, em 2021

Quarenta e dois anos separam as campanhas eleitorais de Fernando Collor e João Henrique Caldas, o JHC, envolvendo a Prefeitura de Maceió, o futuro de cada um deles no cenário local e a semelhança das estratégias para captar a atenção do eleitor.

Tanto Collor naquele distante ano de 1982 quanto JHC, em 2024, representam ou representavam rostos novos na política, porém seguidores, à risca, da cartilha tradicional. O Brasil se preparava para o fim da ditadura, os generais-presidentes encerraram o curto período do milagre econômico, a população ficou de fora da distribuição do bolo da prosperidade, o país caminhava para a hiperinflação e Alagoas estava com as finanças arruinadas desde o primeiro governo Divaldo Suruagy (1975-1978).

A Arena, partido da ditadura, via em Collor a chance de urbanizar suas jovens lideranças, mas ligadas às oligarquias locais. Era uma estratégia para neutralizar a oposição ao regime, via MDB, cada vez mais forte nas capitais.

De fato, Collor foi escolhido pelo governador Guilherme Palmeira prefeito de Maceió em 1979, mas com acordo fechado para ser eleito deputado federal em 1982, o que de fato aconteceu. Com o fim do bipartidarismo, a Arena virou PDS, liderada pelo último general-presidente da ditadura, João Figueiredo. O propósito foi mantido: aos 33 anos, Collor era tratado como um bem sucedido empresário do maior conglomerado de comunicação do estado, um prefeito empolgado inaugurando uma obra por dia – como sempre dizia – levantando uma bandeira considerada moderna para a época – a ecologia – e uma poderosa máquina de comunicação que pudesse esconder falhas na gestão ou problemas na cidade, como as enchentes e a ausência de saneamento básico na região da orla lagunar, já naquela época o pedaço mais miserável da capital alagoana.

A Prefeitura passou a bancar a vinda de colunistas sociais dos grandes jornais mostrando as partes de uma Maceió paradisíaca, recentemente incluída na rota turística nacional. Tudo isso longe do barulho dos grandes centros urbanos, poluídos e com trânsito engarrafado. Shows com Rita Lee e Elba Ramalho tornavam a cidade mais conhecida. O filme de Cacá Diegues, Bye Bye Brasil, havia sido gravado em Alagoas em 1979.

Para encerrar o mandato cercado de festas, Collor lançou, em abril de 1981, na capital federal, o livro *O Desafio de Maceió*, com prefácio de Carlos Castello Branco, o Castelinho, o colunista que escrevia sobre política mais lido do país. Era também uma estratégia para desvincular sua carreira política do berço da ditadura. “Num regime que não permitiu à minha geração uma maior participação, sempre contestamos muito”, depôs Collor. O mandato de deputado federal foi apagado, mas garantiu a eleição a governador em 1987.

O PL, de JHC, se coloca como defensor do legado da ditadura. E tenta nacionalizar o nome do prefeito, tratado como uma espécie de empresário na política, herdeiro de rádios e um canal de TV, evangélico, pai de família, único prefeito da legenda a liderar uma capital no Nordeste, região onde o PT agrega maior popularidade através do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As eleições de 2024 são um teste para JHC. Ele deve ser reeleito, mas precisará renunciar em 2026, se quiser disputar o governo do Estado, uma vaga ao Senado ou uma cadeira de deputado federal. Por isso ele anunciou ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) – ainda o maior líder político do grupo –, que seu vice será o senador Rodrigo Cunha (Podemos). O que abre dois anos de mandato para a suplente Eudócia Caldas, mãe de JHC, e a chance de ser reeleita se houver acordo com os Calheiros.

Se disputar o governo, o ministro dos Transportes, Renan Filho, vai para a sucessão de Paulo Dantas (MDB). Se for bater chapa com Renan Calheiros, que tentará a reeleição ao Senado, haverá um nome escolhido pelo grupo para destruir as chances de chegar a Brasília. Os problemas em Maceió continuam, a orla lagunar permanece sem saneamento básico nestes 42 anos que separam a era Collor da gestão JHC. Mas o investimento em festas e influencers com milhões de seguidores nas redes sociais garante ao prefeito uma poderosa blindagem. “Nada pega no prefeito. Nem denúncia de compra de hospital superfaturado nem os cachês milionários pagos no São João ou o gasto de R$ 8 milhões no desfile da Beija Flor”, disse uma fonte da oposição. Salvo uma surpresa, as urnas em outubro confirmarão o presente e o futuro de JHC.


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