Conteúdo do impresso Edição 1273

A FENDA DA LAGOA

Lili Buarque lança livro com crônicas sobre as áreas que estão afundando em Maceió

Família da escritora alagoana era dona da tradicional padaria Belo Horizonte
Por ASSESSORIA 06/07/2024 - 05:00

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Assessoria
Lili Buarque cresceu no Pinheiro, um dos mais afetados pela mineração
Lili Buarque cresceu no Pinheiro, um dos mais afetados pela mineração

Nascida em Maceió e moradora do Pinheiro, Lili Buarque reuniu 30 crônicas retratando fatos vividos no bairro do Pinheiro, em Maceió. Como se sabe, o Pinheiro e mais cinco bairros localizados na capital alagoana foram totalmente evacuados devido ao afundamento da região, causado pela extração predatória de sal-gema promovida pela Braskem desde a década de 70.

Alagoana da gema, servidora pública, musicista e produtora cultural, Lili decidiu se lançar à literatura para registrar algumas de suas vivências no bairro onde cresceu e tinha fortes raízes familiares.

VIVÊNCIAS

“Vivi boa parte da vida no bairro do Pinheiro e, mesmo depois de sair de lá, o bairro seguiu sendo minha casa. A padaria, a casa dos meus avós, o balé, a livraria. Um pouco de tudo o que sou hoje, passou por muito do que fui vivendo ali”, explica Lili.

A família da autora construiu e administrou uma padaria no bairro do Pinheiro por mais de 40 anos. A padaria Belo Horizonte era uma referência muito popular do bairro e além, atraindo clientes de outras regiões de Maceió devido à boa qualidade de seus produtos. Hoje, aquele estabelecimento, que antes servia de ponto de encontro de figuras marcantes da região, virou escombros, assim como os bairros destruídos pela ação da mineradora Braskem.

Lembra a autora: “Eu estava no Pinheiro quando houve o primeiro grande tremor de terra, em 2018. De lá para cá foram anos e anos de angústia, revolta e muita tristeza. Familiares, amigos, vizinhos, gente de uma vida inteira tendo que sair de suas casas de maneira forçada, abandonando seus lugares e sonhos de uma vez. Eu precisava resgatar, de alguma maneira, as vidas felizes que passaram por ali, não queria que esses sentimentos afundassem também”.

TESTEMUNHA

Refletem as crônicas de Lili sobre o passado de sua família e os primeiros conflitos experimentados com a chegada da maturidade, abordando simultaneamente situações vividas em comunidade, revelando tudo aquilo que o bairro fomentou em sua visão de mundo sempre inquieta e curiosa.

São episódios pessoais que se embaralham ao antigo cotidiano do bairro e com a atual tragédia do afundamento do solo: festas de São João que tomavam conta das ruas e as fogueiras que jamais serão montadas ali novamente; encontros com amigos no mirante da Lagoa Mundaú, que não existe mais; idas burocráticas em um cartório da região, que mantém em seu nome um bairro ao qual não pertence mais. Histórias para relembrar e histórias para não esquecer.

Trata, o livro de Lili, da crônica de uma destruição anunciada, posto as denúncias sobre os efeitos desastrosos do projeto Salgema terem começado desde os idos de 1974, quando as atividades de mineração, transporte e industrialização do sal-gema foram anunciadas tendo áreas urbanas de Maceió como base e cenário.

As evidências de uma tragédia foram sendo contestadas pela empresa até que se tornaram realidade, infelizmente. Restam as memórias, lembranças que educam a sociedade para que crimes como esse não aconteçam novamente.

SERVIÇO

Livro: A Fenda da Lagoa

Autora: Lili Buarque

Dia: 6 de julho, sábado

Horário: das 17 às 20 horas

Local: Carambola Lab, Rua Sá e Albuquerque, 378, Jaraguá

Preço: R$ 49,90


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