Conteúdo do impresso Edição 1279

ELEIÇÕES

Única chance de tirar Murici do domínio dos Calheiros é unir oposições

Família mantém hegemonia política do município há quase 30 anos
Por MARIA SALÉSIA 17/08/2024 - 06:00
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Assessoria
Eduardo Oliveira e Caubi Freitas hoje fazem oposição aos Calheiros
Eduardo Oliveira e Caubi Freitas hoje fazem oposição aos Calheiros

A oposição de Murici precisa se unir, falar a mesma língua, se quiser ter a chance de acabar com a hegemonia da Família Calheiros, que domina o município há mais de 30 anos. Se por um lado os ex-vereadores Caubi Freitas (Podemos) e Eduardo Oliveira (PP) apresentam candidaturas separadas, o nome da vez do clã Calheiros é o atual vice-prefeito, Remi Filho.

Advogado e pecuarista, Caubi Damara de Omena Freitas Filho disputa a Prefeitura de Murici pela terceira vez. O diferencial é que nos dois pleitos anteriores ele foi o único candidato da oposição no município. Dessa vez, terá que dividir os votos oposicionistas com Oliveira. Ele é filho do ex-prefeito Caubi Freitas e desde criança o acompanhava na caminhada política. A vice em sua chapa é a professora Lucinha.

Caubi Freitas argumenta que não foi ele quem dividiu a oposição e que tem experiência de duas campanhas como candidato a prefeito. E que, tal qual como das vezes anteriores, nunca deixou de acreditar no povo de Murici e aceitou a missão para ajudar. O candidato diz que está aberto a novos apoios, só não tem negociata e nem loteamento. Segundo ele, será um governo com autonomia.

“Os convidei para caminharmos juntos, mas não aceitaram. Sou candidato novamente. Não vão conseguir me tirar do páreo. São 40 anos de política, terceira vez candidato. Murici está murchando, sem oportunidade para os jovens e todos aqueles que precisam de trabalho, lazer, saúde e educação de qualidade. É hora da mudança com uma oposição de verdade”, disse Freitas.

O empresário Eduardo Oliveira também tem a política no sangue. Sua mãe Eurides foi vereadora do município por nove mandatos. Sua vice, a médica Sandra Tenório Canuto, já foi vice-prefeita em duas gestões.

Oliveira se posicionou sobre a divisão da oposição. Segundo ele, infelizmente não conseguiram chegar a um consenso para uma candidatura única. “Isso faz parte do processo democrático, onde cada um tem o direito de colocar suas ideias e projetos à disposição do povo. No entanto, sigo firme no meu propósito de ser candidato a prefeito, independente de quantos candidatos estejam na disputa. Confio que o cidadão muriciense sabe quem é quem e tem discernimento para escolher o melhor para nossa cidade”, afirmou.

E acrescentou que isso faz parte do sistema democrático, onde as alianças e posicionamentos podem mudar ao longo do tempo. “Quando nossas ideias e objetivos começam a divergir, seguimos caminhos opostos”, concluiu.

Corre à boca miúda na cidade que Eduardo Oliveira está a serviço da situação, pois saiu de dentro da casa dos Calheiros. É que há 30 anos acompanha a família e já foi vereador pelo lado calherista. Sua vice também comunga da mesma amizade. Prova disso é que foi vice-prefeita por duas vezes. Vídeo que circula nas redes sociais mostra Eduardo pedindo voto na eleição passada para Olavo Neto e diz que os laços de amizade são antigos, que sempre conviveram juntos e as mães são amigas. A sua vice também aparece em outro vídeo pedindo para que a população reconduza Olavo para a Prefeitura.

No entanto, Oliveira lembra que todos os candidatos de oposição em Murici já tiveram algum tipo de ligação com os Calheiros. Segundo ele, Caubi foi eleito vereador pela primeira vez pelo MDB e era um aliado fiel do então prefeito Remi Calheiros. “Essa transição de aliado para oposição é algo natural na política, refletindo o dinamismo e a evolução das nossas convicções e compromissos com o povo. O importante é que estamos aqui dispostos a lutar por uma Murici melhor, cada um com sua história e suas escolhas”.

Na avaliação do analista político Marcelo Bastos, a oposição não teve a inteligência de apresentar apenas um candidato e isso favorece a candidatura da situação. “É esse o quadro que está pintando em Murici. Se a oposição estivesse unida, talvez pudesse ganhar a eleição”, disse.

De acordo com ele, a presença do senador Rodrigo Cunha, do lado de Caubi, e do presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, apoiando Eduardo, não terá grande força política na cidade, por ser dominada pelos Calheiros. E até chama a atenção de que se Lira fosse mais esperto não teria deixado o PP lançar Eduardo, já que beneficia seus arqui-inimigos Calheiros. “Onde a oposição estiver dividida no interior do estado, já que não tem segundo turno, só vai beneficiar o candidato da situação”, destaca Bastos.

HEGEMONIA DE TRÊS DÉCADAS

A hegemonia política da Família Calheiros em Murici começou em 1996, quando Remi Calheiros foi eleito prefeito e reeleito em 2000. O bastão foi passado para Renan Filho, eleito prefeito em 2004 e reeleito em 2008, renunciando ao cargo em 2010 para disputar uma vaga para deputado federal. Remi, que era o vice-prefeito, concluiu o mandato e, mais uma vez, foi eleito prefeito em 2012. Na eleição seguinte, em 2016, Olavo Neto foi eleito prefeito e reeleito em 2020, mantendo os Calheiros no domínio político do município.

Essa é a terceira vez que o candidato da oposição Caubi Freitas disputa a eleição para prefeito de Murici. O que chama a atenção é que as chances aumentaram consideravelmente. Enquanto no pleito de 2016 a diferença percentual da vitória de Olavo Neto sobre ele foi de 24,37%, na reeleição em 2020 baixou para 4,16%. Desta vez, duas candidaturas vão dividir os votos do eleitor que não apoia o governo da situação e que tem como candidato Remi Filho.


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