AMAZÔNIA
Aldo Rebelo diz que o Brasil ignora biodiversidade da região
Alagoano afirma que país não tem ideia da magnitude do biomaA reunião de uma imensa curiosidade sobre a região despertada ainda nos bancos escolares, a ideia de que a Amazônia verdadeira é ignorada, conhecida por narrativas interesseiras, e a necessidade de explicá-la para o Brasil e para o mundo, levou o alagoano da Viçosa Aldo Rebelo a escrever “Amazônia: a maldição das Tordesilhas – 500 anos de cobiça internacional”.
O livro apresenta a história de cinco séculos de cobiça internacional sobre a Amazônia, narrada em pouco mais de 30 capítulos, nos quais figuram personagens e episódios que ilustram a saga luso-brasileira pela posse da região. Lá, há ainda uma reflexão sobre as medidas necessárias para se proteger o meio ambiente, a população local e o direito ao desenvolvimento.
Rebelo percorreu por quatro meses a região e tem propriedade para afirmar que a Amazônia constitui a maior fronteira mineral de um mundo carente de minérios estratégicos para a indústria atual e a indústria do futuro. Lá, esclareceu, está também a maior reserva de biodiversidade do planeta, com toda sua promessa de matéria-prima para a indústria farmacêutica, química, de cosméticos e de alimentos. E foi além. A Amazônia é, ainda, a maior reserva de água doce do planeta, a maior fronteira para a agropecuária, e seus rios constituem a maior fábrica de geração de energia hidroelétrica do mundo.
E critica que a Amazônia é “vendida” para o mundo como um paraíso ou um santuário, mas na verdade lá vivem os brasileiros com os piores níveis de vida da nação. Lá estão os maiores índices de analfabetismo, de mortalidade infantil, de doenças infecciosas, de saneamento básico, de água tratada e de luz elétrica por domicílio. “Cabe destacar que entre os habitantes da Amazônia, os mais sofridos são os ribeirinhos e os indígenas, como prova do fracasso da política do Estado e das ONGs internacionais para a região”, afirmou.
Rebelo apresenta um livro rico de detalhes, valores, saberes, lutas, bravuras, descobertas, certezas e incertezas, mas destaca o capítulo da obra em que trata da população indígena como nossos avós remotos, de quem recebemos tanto, a quem devemos tanto e a quem retribuímos tão pouco.
O assunto sempre esteve presente em sua vida. Segundo ele, acompanha a Amazônia desde a época de estudante, quando foi lá pela primeira vez, voluntário para promover a reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes). “De lá para cá não parei de visitar a Amazônia. O que surpreende é a contradição entre o que ela é e o que poderia ser, entre a riqueza do seu solo e do seu subsolo e a pobreza de seus habitantes. Além de surpreendente, isto é inaceitável”, comparou. E acrescentou que para a Amazônia ser incorporada ao Brasil de fato falta um projeto nacional que combine a proteção da natureza com o direito ao desenvolvimento.
Além do que, a construção de uma infraestrutura que inclua a navegabilidade dos rios com hidrovias, ferrovias, portos, centrais elétricas, regularização fundiária e regulamentação do usufruto de recursos naturais, principalmente minérios em terras indígenas e área de fronteira. Rebelo ressalta, ainda, que a Amazônia não é propriamente um paraíso. Aliás, citou que as pessoas falam desse paraíso, a exemplo das ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, mas escolheram viver longe dele, transferindo suas moradias para São Paulo.
“A Amazônia comporta realidades e civilizações muito distintas. Há uma Amazônia Oriental, já razoavelmente ocupada economicamente e demograficamente, distinta da Amazônia Ocidental, de baixa ocupação demográfica e econômica. A Amazônia urbana é tão diferente da Amazônia dos ribeirinhos e dos indígenas. A Amazônia extrativista é em nada semelhante à Amazônia industrial da Zona Franca de Manaus. Por isso, a necessidade de explicar a Amazônia para o Brasil e para o mundo”, desabafou.
E afirma que o primeiro desafio é garantir a soberania brasileira, hoje questionada sobre a região. O segundo é promover o desenvolvimento para a elevação do padrão de vida material e espiritual da população. O terceiro é incorporar os indígenas à sociedade nacional com medidas de educação, saúde e infraestrutura. E em quarto lugar, promover um inventário de todos os recursos naturais e dos meios para protegê-los.
Aldo Rebelo não é estreante no mundo literário. Já escreveu as obras: *Luiza Erundina: A Campanha e a Vitória*, sobre a eleição de Luiza Erundina; *Política de Defesa para o Século XXI* (organizador); *Política Externa para o Século XXI* (organizador); *Palmeiras e Corinthians 1945 – O Jogo Vermelho*; *O Quinto Movimento: Propostas para Uma Construção Inacabada*; e *Amazônia: a maldição de Tordesilhas – 500 anos de cobiça internacional*.
De fala mansa, com toda calmaria que lhe é peculiar, Aldo Rebelo se descreve como viçosense da roça, alagoano, nordestino, brasileiro, cidadão do mundo, admirador dos cordelistas e repentistas sertanejos, do grande Graciliano Ramos e de Euclides da Cunha.
Jornalista e escritor, ele iniciou sua trajetória política no movimento estudantil e presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE). Foi eleito deputado federal por seis mandatos pelo estado de São Paulo, presidiu a Câmara dos Deputados e ocupou os ministérios do Esporte, da Defesa, da Ciência, Tecnologia e Inovação e Coordenação Política e Assuntos Institucionais.