Conteúdo do impresso Edição 1281

CULTURA

Jorge Oliveira lança Boca do Inferno em Lisboa

Jornalista, cineasta e escritor se emociona ao retornar a Portugal dois anos após sofrer AVC
Por MARIA SALÉSIA 31/08/2024 - 06:00

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Divulgação
Jorge Oliveira conta bastidores da política envolvendo Vargas e Salazar
Jorge Oliveira conta bastidores da política envolvendo Vargas e Salazar

O jornalista, cineasta e escritor alagoano Jorge Oliveira, 75 anos, retornou a Portugal, onde mora, para lançar em Lisboa o livro *Boca do Inferno*, que conta a história dos ditadores Salazar, de Portugal, e Getúlio Vargas, do Brasil. A obra, uma mistura de ficção e realidade, é fruto da imaginação do autor e de pesquisas que revelam a vida devassa dos ex-ditadores, personagens emblemáticos da história da humanidade. São histórias de arrepiar, desconhecidas por anos de censura e que o autor conta depois de montar o quebra-cabeça da vida devassa do português e do brasileiro.

Jorge Oliveira é, de fato, um ser inquieto, cheio de histórias contadas e tantas outras para contar. Enfrentou a morte por duas vezes (uma em 1984 após escapar de uma tentativa de assassinato por ter denunciado políticos corruptos do Brasil e outra de um grave acidente vascular cerebral, em 2022) e mesmo diante da fragilidade das sequelas de um AVC não abandonou a produção literária. “Nem o pistoleiro e nem o AVC conseguiram me matar, e estou vivo para contar essas histórias”, mais uma das tiradas de Jorge.

Ele segue escrevendo livros e roteiro de filmes, além de promover debates sobre temas relevantes para uma mente brilhante e criativa. Já escreveu *Muito Prazer, Eu Sou a Morte*, mas também gerou o *Muito Prazer: Eu Sou a Vida*. E mesmo diante do título enaltecendo a vida, o autor garante que a obra não tem a pretensão de ensinar ninguém a viver, “mas, sim, a morrer bem, tranquilo, com saúde e dignidade”. Não é à toa que a obra é utilizada como parte do tratamento dos pacientes da Rede Sarah de reabilitação neurológica, em Brasília.

Em entrevista recente a Carlos Vasconcelos, o jornalista não escondeu a emoção de estar de volta a Lisboa dois anos depois do AVC e lançar *Boca do Inferno*. Segundo ele, a necessidade de superar as limitações provocadas pela doença o levou a desenvolver ainda mais a capacidade de criar e produzir. Prova disso é que meses depois da paralisia escreveu a obra *Amanhã Eu Volto Pra Contar*.

“O AVC não sabe com quem brincou. Quando percebi que a doença havia preservado a minha lucidez, senti a disposição de fazer um livro e um filme sobre ela”, afirmou. E foi além: “Se o AVC achava que me deixaria na cama, me levantei. Se achava que me deixaria parado, estou andando. Se achava que me inutilizaria, estou útil!”. E foi essa disposição que o levou a escrever cinco livros em apenas um ano e meio.

Oliveira tem uma grande aliada e parceira nesta empreitada. A mulher do escritor, a também jornalista Ana Maria Rocha, contou em reportagem anterior que houve um intenso programa de recuperação durante quatro meses. Foram tantos episódios, que houve uma catarse coletiva. “A personalidade dele, sempre bem-humorado e brincalhão, por maiores que fossem as dificuldades internas, mexia com os demais pacientes e desafiava os colegas de terapia a terem motivação para a vida”, ressaltou ela ao afirmar que durante as atividades de fisioterapia, vários pacientes incorporaram o espírito inovador do jornalista. “Mesmo aqueles que tinham aspecto depressivo, muito tristes, olhar perdido, passaram a ver a vida de outra maneira”, relatou Ana.

Jorge Oliveira ganhou festa do hospital em sua despedida e assistiu ao filme que produziu e dirigiu, *Olhar de Nise*, ser exibido. Para o jornalista que viveu infância e adolescência no bairro do Prado, em Maceió, contar a história da sua sobrevivência é um exemplo para ele mesmo. “Tirei partido do meu cérebro. Disse a mim mesmo que colocaria a minha mente para funcionar. Tirei vantagem do AVC, porque escrevi sobre ele e vou continuar a me aproveitar dele para viver e para ajudar as pessoas que tiveram ou têm os mesmos problemas”, afirmou.

Quer saber mais sobre Jorge, cidadão do mundo, cheio de tiradas, sorriso farto e de bem com a vida? Basta adquirir sua extensa obra.



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