MACEIÓ ANTIGO
Designer alagoano resgata memória de Maceió através de IA
Tom Carvalho usa tecnologia para passear por vários bairros da capital alagoana do início do século XX
Um vídeo publicado na segunda-feira, 16, Dia da Emancipação Política de Alagoas, viralizou nas redes sociais, mostrando Maceió antiga. Nem mesmo o responsável pelo projeto “Maceió, em algum lugar do passado” esperava tamanha repercussão. Com a utilização de Inteligência Artificial (IA), Tom Carvalho transportou o público à capital de Alagoas do século XX. Com imagem, cor e movimento, o trabalho remete a uma época em que os pontos mais tradicionais tinham pouca estrutura e construções com características que nada lembram as atuais. É possível viajar pelos bairros de Bebedouro, Centro, Farol, Mutange, Poço, Jaraguá e Ponta Verde, tudo sob uma ótica remota.
Tom conta que fez o projeto despretensiosamente e postou como forma de homenagear nossa terra no 16 de setembro. Inclusive, achou que a família e amigos próximos iriam comentar, mas não imaginava que não teria a amplitude que teve. Para se ter uma ideia, o vídeo foi postado na segunda-feira, por volta das 11h30 e, enquanto o autor foi tomar banho e voltou para ver a postagem, tinham mais de 400 compartilhamentos e muitas mensagens. Para ele, foi surpreendente.
Mexer com coisas do passado é uma paixão de Tom. Em 2017, fez um trabalho chamado “Cores de Alagoas”, homenageando os 200 anos da emancipação política de Alagoas. Na ocasião, coloriu 200 fotos antigas, do século passado, anos 1920, 1930 e 1940. Como não existiam as IAs, então foi um trabalho um pouco árduo, praticamente manual. “Há uns dois meses eu imaginei como seria ver essas mesmas fotos animadas, ganhando vida através da tecnologia das IAs. Fiz o teste em uma das cenas e me surpreendi com o realismo do resultado, e foi aí que pensei em fazer o vídeo contemplando as demais imagens”, contou Tom.
Ele diz que são poucas as pessoas que se preocupam com a conservação da nossa história. “A gente sabe que o progresso é inevitável e que ele vai sempre caminhar pra frente, mas espero que vídeos como esse que eu fiz, e outros trabalhos de outros historiadores sirvam de um incentivo para que a sociedade em geral enxergue o passado, veja o quão importante ele foi e ainda é para nossa cidade e que crie algum tipo de conscientização para que o progresso avance, mas de mãos dadas com a nossa história e nosso patrimônio arquitetônico e cultural”, afirmou.
Segundo ele, em 2017, selecionou imagens dos principais pontos da cidade, que seriam de fácil identificação. O desafio na época foi tentar recriar o mais próximo da realidade possível a cor das fachadas, das roupas, a cor exata dos bondinhos, do motorneiro que operava o bonde. Tudo pensando em ser o mais verossímil possível para trazer a oportunidade de pessoas que não viveram a época visualizar como era e para as pessoas que viveram recordar.
Tom disse que há possibilidade para resgates de outras histórias e lugares, já que é um trabalho quase que constante. De acordo com a visão dele, Maceió e Alagoas em geral são locais de uma riqueza cultural e histórica ímpar e cada projeto que faz e aborda a história, sempre puxa ganchos para outros, como por exemplo a história do futebol alagoano, os cinemas de bairro, as lojas antigas. “Tem muito material ainda que pretendo tornar público, presenteando nossa amada cidade e seus habitantes”, elogiou.
Maceioense “com muito orgulho”, Tom Carvalho nasceu em 1983. Vivenciou a transição do mundo analógico para o digital. Ele relembra que teve uma ligação muito forte com a falecida avó, que de certa forma, contava histórias do passado e o fez ter o apreço pelo passado. “Não me considero um historiador, muito longe disso, sou um curioso de saber como que eram as coisas, como funcionavam, como a cidade era, como as pessoas se comportavam, e tento trazer isso à tona em projetos que faço de forma totalmente independente”, disse o publicitário que tem como profissão o designer e programador.
Tom Carvalho, 41 anos, é pai de Sophia, de 11 anos. Orgulhoso, diz que já percebe o mesmo amor pela história e pelo passado surgindo nela, “talvez por minha influência, e espero que ela um dia prossiga o trabalho de zelo, preservação e divulgação da nossa história”, disse. E acrescentou que uma frase que lhe marcou muito foi “Contando histórias do passado, nossa herança se mantém.” Ele conclui que enxerga como o maior bem de uma sociedade é sua herança cultural e sua história. “É a nossa identidade, é o que nos torna o que somos de melhor, alagoanos”, concluiu.
Viagem no túnel do tempo
E assim, todos são convidados para uma viagem ao túnel do tempo. Escolha seu meio de transporte preferido e se aventure em um passeio no bondinho na Rua do Comércio. Se junte a homens de ternos e chapéu, a mulheres com vestidos de comprimento midi e aos poucos carros que disputam lugares com cavalos e seus cavaleiros. A viagem prossegue pelo Beco São José e na Avenida Moreira e Lima a cena praticamente se repete.
Que tal uma parada na estação ferroviária e apreciar o apito da Maria Fumaça? A beleza do hotel Bela Vista, as praças Deodoro e dos Martírios, Intendência Municipal, Praça da Assembleia, Catedral de Maceió e o Quartel do Exército na Avenida Fernandes Lima fazem parte do trajeto.
A viagem segue para Bebedouro e o Mutange em dia de jogo do CSA. O caminho de volta passa pela Santa Casa, Porto de Jaraguá, Avenida Comendador Leão, onde os relinchos dos cavalos que aportavam por lá se confundem com o barulho dos bondes ao estacionar.
O passeio continua pelo bairro do Poço, lá pelas bandas da Igreja do Senhor do Bonfim. Na Pajuçara sobra tempo para assistir ao jogo do CRB e partir rumo a Ponta Verde e conhecer ou matar saudades do famoso coqueiro Gogó da Ema.
O trabalho do artista pode ser visto em seu perfil no Instagram: @tomcarvalh (sem a letra o).