Conteúdo do impresso Edição 1293

JOGO DO PODER

Lira quer acordo, Renan nega e JHC vira trunfo eleitoral

Anunciada nacionalmente, união de rivais é rechaçada por calheiristas
Por ODILON RIOS 23/11/2024 - 06:00
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Ascom/JHC
Caciques da política disputam apoio efetivo de JHC
Caciques da política disputam apoio efetivo de JHC

Oficialmente, o segundo mandato do prefeito JHC (PL) ainda não começou, mas ele costura uma segunda gestão ainda melhor que a primeira. Ao menos, esse é o objetivo dos caldistas mais fervorosos. Eis a questão: para quê? Jota é cotado para disputar o governo do Estado ou uma vaga ao Senado em 2026. E a semana que passou foi agitada. No blog de Lauro Jardim, repercutiu a informação de um acordo entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), o senador Renan Calheiros (MDB) e JHC.

O prefeito – disse Jardim – estava de malas prontas para Brasília, onde se encontraria com o presidente Lula (PT). Na bagagem, a indicação da tia do prefeito, Marluce Caldas, como ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e um grande acordão: JHC disputando o governo, Calheiros tentando a reeleição e Lira concorrendo ao Senado.

O grupo de Calheiros nega o acordo. Crê que Lira é quem tenta “forçar a barra” para isso acontecer. Ainda enxerga debandada de prefeitos eleitos com ajuda do presidente da Câmara, o que teoricamente beneficia Calheiros. Quanto a Lira? Silêncio absoluto.

Há razões: a primeira é que ele investe para se tornar um dos pecuaristas mais ricos do Brasil. Comprou, nesta semana, metade de uma vaca da raça Nelore por R$ 2,5 milhões. Em outubro do ano passado, realizou um grande leilão no interior alagoano, arrecadando R$ 4,3 milhões. Juntou tudo isso a terras adquiridas na cidade pernambucana de Quipapá e outras cidades. Os negócios prosperam.

O deputado ensaia poder e prestígio na eleição do sucessor no comando da Câmara, mas vem sendo escanteado. Ainda não obteve a sinalização que busca para ser indicado ministro de Lula a partir de 2025. E, se isso acontecer, não deve ocupar o Ministério da Saúde – sonho do Centrão. Enquanto isso, assiste à ascensão de Hugo Motta (Republicanos/PB) para chefiar o Legislativo, à promessa de indicar o deputado alagoano Isnaldo Bulhões (MDB) como presidente da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), hoje nas mãos do deputado Julio Arcoverde, do PP do Piauí.

Lira também não terá mais força para manter seus indicados no DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). Também perderá o comando do orçamento secreto, que mudou de nome, mas continua ativo como instrumento de compra de apoios no Congresso em troca de votos nos mais distantes currais eleitorais do Brasil.

E isso significa desemprego à vista para liristas como Arlindo Garrote (ex-DNOCS), que tentou o retorno à Prefeitura de Estrela de Alagoas. Foi derrotado por Roberto Wanderley (MDB), irmão do deputado e aliado de Renan Calheiros, José Wanderley Neto (MDB), e tio do presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Hugo Wanderley, também do MDB. Outro aliado de Lira que perdeu as eleições foi Joãozinho Pereira (ex-Codevasf). Em 2025, ao menos teoricamente, não terá mais um cargo federal para chamar de seu. E a família, que hoje comanda a Secretaria de Educação de Maceió, corre o risco de perder a pasta.

E voltamos para a gestão JHC e seu futuro num jogo cada vez mais consolidado para ele deixar o Executivo e se manter ativo e com mandato, arriscando todas as fichas ao Senado ou governo. Ou fazer outra escolha: concluir a missão, não entregar a Prefeitura ao vice Rodrigo Cunha (Podemos). E, sem disputar diretamente daqui a dois anos, empurrar a dobradinha Eudócia Caldas, que assume a vaga que hoje é de Cunha, e Arthur Lira ao Senado. Estimular a primeira-dama Marina Candia Figueiredo a disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados, o pai João Caldas ou Dr. JHC concorrendo à Assembleia Legislativa.

Se a conjuntura for esta, Renan Calheiros será obrigado a ter um nome que neutralize Eudócia Caldas. Ou seja: alguém com popularidade na região metropolitana, principalmente Maceió, que seja oposição a JHC e ligadíssimo ao MDB. Trocando em miúdos: cria do calheirismo. Hoje, este cenário é improvável. Certo, porém, é que Lira tem mais opções para impedir a reeleição de Calheiros. Se fizer dobradinha com JHC, caso ele renuncie à Prefeitura, ou escalar Davi Davino Filho, cujo primeiro voto para o Senado é Lira. O outro ainda é mistério.


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